Ibovespa retoma alta após maior queda em 3 semanas; dólar cai para R$ 5,32
IPCA em dezembro supera estimativas de mercado e investidores aumentam apostas sobre elevação da taxa básica de juros
Guilherme Guilherme
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 09h27.
Última atualização em 12 de janeiro de 2021 às 18h19.
O Ibovespa subiu nesta terça-feira, 12, e voltou a encostar na marca dos 124.000 pontos após cair quase 1,5% na véspera. A ausência de notícias negativas manteve o índice em terreno positivo, e o Ibovespa encerrou o pregão em alta de 0,60%, aos 123.998 pontos. O volume financeiro negociado foi de 33,547 bilhões de reais.
As ações de Embraer (EMBR3), Rumo (RAIL3) e Cyrela (CYRE3) lideram as altas. Nos destaques negativos, estiveram NotreDame Intermédica (GNDI3) e Hapvida (HAPV3), cujas ações tiveram um dia de realização de lucros depois de subirem 40% e 28%, respectivamente, nos dois pregões anteriores com o anúncio de negociação de uma fusão entre as duas companhias. Veja os principais destaques de ações em detalhesaqui.
"[Em pontos] o destaque negativo ficou com as empresas ligadas ao minério de ferro e ao petróleo, o que eu vejo como um movimento de realização de lucros de curto prazo", avalia Rafael Panonko, analista chefe da Toro Investimentos. A Gerdau (GGBR4) recuou 2,69%, a Vale (VALE3) caiu 2,19%, e a Petrobras (PETR3; PETR4) teve perdas de 0,19% e 0,16% respectivamente.
Inflação em alta
A principal notícia do dia foi a divulgação do Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do país. O resultado mostrou uma alta de 1,35% para dezembro, superando as estimativas de 1,21%. Em 2020, o IPCA subiu 4,52%, quase 0,5 ponto percentual acima do centro da meta de inflação.
Com a inflação acima da esperada, investidores aumentam suas apostas sobre uma elevação da taxa básica de juros neste ano. Na bolsa, o juro futuro com vencimento em janeiro de 2022 sobe para 2,48%, enquanto o contrato com vencimento em janeiro de 2023 já precifica Selic a 5% ao ano.
“Acreditamos que, entre junho e agosto, o Banco Central deverá reagir com o juro, mas olhando muito mais a dinâmica de 2022 do que pressão de curto prazo. Temos 3,4% [como projeção de inflação] para o ano, mas com forte viés de reajustes para cima”, afirma em nota Arthur Mota, economista da EXAME Research.
Na manhã desta terça também foi divulgado o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), que dá maior peso (60%) aos componentes do atacado. Referente à primeira prévia de janeiro, o indicador calculado pela FGV também saiu acima das estimativas, em 1,89%. A expectativa do mercado era de 1,01%.
“Estes dados [do IPCA] somados aos do IGP-M dão o tom de que o Banco Central deve iniciar a alta da Selic em breve. Acreditamos que a taxa deve fechar o ano em pelo menos 4%”, diz em nota André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
Dólar volta a cair
Com o maior apetite por risco presente na sessão, o dólar apresentou a maior queda em mais de dois anos e encerrou o dia negociado a 5,322 reais, em desvalorização de 3,28%. Após subir em cinco dos últimos seis pregões, a moeda devolveu -- em apenas um dia -- mais da metade do ganho acumulado nos primeiros dias de 2021.
A piora relativa do real este ano é associada também ao nível de juros, com a Selic na mínima histórica de 2% deixando a moeda pouco atrativa para operações de arbitragem com as taxas -- o chamado carry trade.
Uma das discussões no mercado doméstico é se o Banco Central poderia ser forçado a antecipar a normalização da política monetária, cujo início está previsto atualmente para agosto, num contexto em que a inflação surpreende para cima.
Em live nesta terça, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, disse ser natural imaginar que o "estímulo extraordinário" que o Banco Central está concedendo à economia via política monetária será retirado de cena em algum momento. O diretor afirmou ainda que o patamar atual do dólar é reflexo da incerteza fiscal e da mudança nas regras de hedge anunciada durante a pandemia. A fala contribuiu para o tombo da moeda americana frente ao real.
Cautela no exterior
No exterior, o clima foi de cautela, uma vez que o contínuo avanço do coronavírus segue como uma das principais preocupações do mercado. O índice pan-europeu STOXX600 fechou o dia em leve alta de 0,05% enquanto as principais bolsas do continente ficaram no terreno negativo -- destaque para o índice FTSE, de Londres, que caiu 0,65%.
Nos Estados Unidos, os três principais índices tiveram um dia misto, mas encerraram em alta, impulsionados pelas perspectivas cada vez maiores de mais estímulos ao coronavírus com a administração Biden. O Dow Jones subiu 0,19%, enquanto o S&P 500 avançou 0,04%. O índice de tecnologia da Nasdaq fechou em alta de 0,28%.