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Ibovespa em nível recorde? Depende da análise. E isso abre espaço para subir mais

Índice ainda não bateu máxima histórica corrigida pela inflação ou convertida pelo dólar, o que sinaliza que há espaço para se valorizar nos próximos meses

Outras lentes para o Ibovespa: Índice também pode ser corrigido pela inflação ou ajustado ao dólar (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 11 de janeiro de 2021 às 05h50.

Última atualização em 29 de janeiro de 2021 às 07h50.

O Ibovespa renovou seu recorde histórico de fechamento logo na primeira semana do ano, batendo a marca em dois dias consecutivos. A nova máxima é a de sexta-feira, 8, quando o índice cravou 125.076,63 pontos. Isso significa que as ações que compõem a carteira do principal índice da bolsa brasileira nunca estiveram tão valorizadas -- ao menos em tese, porque o recorde atingido é nominal, e não considera variações de câmbio e inflação.

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Um estudo da consultoria Economatica feito a pedido da EXAME Invest mostrou quais seriam as pontuações máximas do índice ajustado tanto pela inflação quanto pelo dólar. Nas duas opções, a máxima ainda remonta ao ano de 2008. E, na avaliação de alguns analistas, isso significa que o Ibovespa ainda tem espaço de sobra para crescer, já que está há mais de uma década sem renovar as máximas. Em dólar, o Ibovespa está atualmente na casa dos 23.299 pontos, muito aquém dos 44.616 pontos de maio de 2018. No mesmo mês, com a correção pela inflação, o índice teria atingido 144.662 pontos.

Máximas para o Ibovespa

Em moeda local

125.076

08/01/2021

Ajustado pela inflação

144.662

20/05/2008

Em dólar

44.616

19/05/2008

Fonte: Economatica

Por que 2008?

Maio de 2008 foi um mês mágico para o mercado local. Na época, o país alcançou o desejado grau de investimento dado pela agência Standard & Poor’s, que elevou a nota atribuída ao Brasil para títulos de dívida emitidos em moeda estrangeira de “BB+” para “BBB-”, atraindo o capital do exterior para a bolsa.

O país também foi, à época, altamente beneficiado pelo boom de commodities, um superciclo de valorização nos preços de alguns dos principais produtos brasileiros de exportação. Parece familiar? As commodities também estão entre os principais motivos que explicam a disparada de 33% Ibovespa do início de novembro até a primeira semana de 2021, com destaque para o minério de ferro e o petróleo.

“Já está se falando em novo ciclo de alta para as commodities no mercado. Com tantos fatores apontando favoravelmente, o Brasil é capaz de continuar a superar todas as suas máximas, tanto no índice nominal quanto no dolarizado e no corrigido pela inflação”, avalia Carlos Eduardo Rocha, o Duda, CEO da gestora Occam.

O Ibovespa em diferentes ângulos

Cada versão do índice corresponde a um tipo diferente de análise sobre o desempenho da bolsa. A versão mais usual é a pontuação nominal do Ibovespa, que considera o índice em reais, sem correção pela inflação. Este é hoje o principal termômetro do mercado brasileiro: está no pregão eletrônico da bolsa, nos home brokers de todos os investidores, e é a medida a partir da qual são definidas estratégias de investimentos por aqui.

No entanto também é possível olhar para o Ibovespa com outras lentes. A mais conhecida delas é a versão dolarizada, que ajusta o preço do índice de acordo com a cotação do dólar, moeda de referência para a economia global. Os analistas que utilizam essa tática tentam captar a visão que o investidor estrangeiro tem do índice ao observar a bolsa brasileira de fora.

Sob essa perspectiva, a bolsa brasileira fica mais barata vista do exterior porque o real está mais desvalorizado em relação ao dólar.“Como a moeda americana se valorizou no ano passado frente ao real, o Ibovespa dolarizado ainda não atingiu suas máximas. Ainda assim, o índice em dólar tem muito espaço para avançar em 2021 porque o fluxo de capital estrangeiro deve continuar forte. É uma oportunidade para a bolsa brasileira continuar em alta e renovar a máxima em moeda americana”, afirma Paulo Duarte, sócio da Valor Investimentos.

Existem, porém, ressalvas sobre essa avaliação. “Nenhum investidor estrangeiro no mundo olha para o Ibovespa dolarizado. Essa perspectiva só faz sentido para empresas cujo caixa é gerado em dólar, como as exportadoras Vale e Suzano. O que acontece é que, em um cenário de dólar mais fraco, as commodities se valorizam e ocorre um fluxo de capital para mercados emergentes. É isso que traz o investidor estrangeiro para a bolsa”, avalia Roberto Attuch, fundador e CEO da Ohmresearch.

Também não há consenso sobre a análise do Ibovespa corrigido pela inflação, a menos comum entre as três formas de analisar o índice. Duarte, por exemplo, acredita que essa não é uma boa forma de análise. “Os dividendos pagos pelas companhias do Ibovespa protegem o capital do acionista da inflação. Considerando o dividendo médio pago pelas empresas do índice, o ajuste seria quase igual ao do IPCA [índice base para cálculo da inflação no Brasil]”, afirma.

Porém não são todas as empresas do índice que pagam dividendos. Com esse argumento, alguns analistas defendem que a inflação do período fez alguns investidores saírem perdendo. "Quem comprou Ibovespa na máxima em 2008 e vê seu investimento voltar ao patamar de recorde nominal apenas após 13 anos não deve estar satisfeito. É um período muito longo quando olhamos retornos, especialmente no Brasil, onde as taxas de juros, de inflação e retornos de ativos em geral são elevados", pontua Evandro Buccini, diretor de renda fixa e multimercados da gestora Rio Bravo Investimentos.

Vale lembrar que as máximas também não refletem o que de fato acontece dentro do índice, a não ser que seja observada sua composição. Hoje, as empresas que mais pesam no Ibovespa são Vale(VALE3), Petrobras (PETR3; PETR4) e os grandes bancos, como Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBFC4), as chamadas blue chips. Essas ações, que perderam muito terreno durante os meses mais críticos da pandemia, estão mostrando forte recuperação no rali iniciado em novembro passado, o que ajuda a explicar o avanço do índice.

Para 2021, no entanto, ainda restam questões internas a serem resolvidas. Caso as esperanças do mercado se concretizem, o cenário fiscal do Brasil ficará controlado ao longo do ano, e a taxa Selic continuará em níveis historicamente baixos, ainda que suba para a casa dos 4% ao ano. A bolsa ficaria livre para tirar proveito dos ventos favoráveis do exterior e renovar recordes -- desde os já alcançados até os que ainda estão por ser vencidos.

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