Estudo comprova risco maior nas ações favoritas dos fundos de hedge
Em outubro, as ações preferidas dos fundos de hedge e dos fundos negociados em bolsa caíram quatro vezes mais que o S&P 500
Karla Mamona
Publicado em 5 de março de 2019 às 08h36.
Última atualização em 5 de março de 2019 às 08h36.
(Bloomberg) -- Operadores do mercado financeiro se guiam pela máxima de não seguir a manada. As últimas pesquisas sugerem que dá para ganhar dinheiro com ações que atraem a obsessão dos especuladores, mas é preciso ter estômago para isso.
Nadar com os tubarões que administram fundos de hedge proporciona uns pontos percentuais de retorno acima do obtido pelo mercado em geral. Mas quando a maré vira, as ações mais procuradas caem mais do que as outras. Estas são as conclusões da pesquisa conjunta de três professores ligados à Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e à Universidade Wake Forest.
“A concentração em determinada ação é ingrediente importante para caracterizar o risco”, escreveram Gregory Brown, Philip Howard e Christian Lundblad no estudo.
Esse perigo veio à tona no trimestre passado nos EUA, quando os papéis das empresas preferidas pelos especuladores profissionais recuaram muito mais do que aqueles nos quais os fundos de hedge têm pouco interesse. Os estudos sobre o assunto se intensificaram porque o total de ativos administrados por fundos de hedge se multiplicou por dez nos últimos 20 anos.
Os autores acompanharam aproximadamente 1.500 fundos de hedge dos EUA que também são monitorados pela plataforma de inteligência em carteiras Novus, colhendo dados entre 2004 e 2016.
Uma conclusão é que ações badaladas têm melhor desempenho ao longo do tempo. Uma carteira ponderada por valor de mercado que reúne as ações com maior número de proprietários rende, na média, quase 3 pontos percentuais por ano a mais do que as ações que atraem menos interesse. A vantagem é tamanha que a concentração atua como fator capaz de explicar retorno, assim como a baixa volatilidade.
No entanto, o retorno desproporcional vem junto com maior risco. As ações preferidas sofrem quando a bolsa derrapa, como ficou claro durante a crise financeira. Os autores descobriram que carteiras concentradas tiveram retorno cumulativo “significativamente negativo” em 2008. Já algumas carteiras não concentradas até registraram ganhos.
O desmonte de posições excessivamente concentradas foi citado como um dos motivos por trás do tombo das bolsas americanas no final do ano passado. Ações de tecnologia e telecomunicação amargaram as maiores perdas. Apple, Amazon.com, Microsoft, Facebook e Nvidia foram responsáveis por boa parte do movimento.
Em outubro, as ações preferidas dos fundos de hedge e dos fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) caíram quatro vezes mais que o S&P 500, segundo dados compilados pelo UBS Group. Em novembro, havia indícios de que os fundos de hedge se tornaram vendedores líquidos de ações de tecnologia, agravando a pressão sobre as bolsas. O HFRX Equity Hedge Index, calculado pela Hedge Fund Research, perdeu mais de 8 por cento entre outubro e dezembro, marcando o pior desempenho trimestral para o segmento desde 2011.
Isso condiz com a pesquisa, que mostra que a concentração é fator de risco relevante não só para as ações individualmente como também para os próprios fundos de hedge. “Esse risco extremo se estende às taxas de retorno das carteiras dos fundos de hedge, uma vez que a concentração explica porque alguns fundos enfrentam quedas relativamente grandes”, escreveram os autores.
A presença dos fundos de hedge no mercado acionário atualmente é bem maior do que na virada do século. O posicionamento deles na ação média estudada pela pesquisa triplicou desde 2004 para US$ 500 bilhões. O número de fundos que detêm uma ação típica quase dobrou no período.
O S&P 500 acumula alta de quase 11,5 por cento neste ano. Se o atual movimento de alta ceder, os fundos podem desmontar posições concentradas no setor industrial. A RBC Capital avaliou os documentos apresentados trimestralmente por 300 fundos de hedge e concluiu que essas ações — as de melhor desempenho em 2019 — têm o maior risco de concentração.