Entrada de capitais derruba dólar; mercado monitora Fed
Fim de programa do Fed pode sustentar cotação do dólar, mas juro local e atuação branda do BC alimentam queda
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2011 às 15h02.
São Paulo - A queda do dólar aos menores níveis desde 1999 tende a continuar nas próximas semanas, com a distensão da crise da dívida na Europa e a atuação mais branda do governo brasileiro no mercado de câmbio, afirmam analistas.
Mas, à medida que o fim do ano se aproximar, a moeda pode retornar ao patamar de 1,60 real com o fim do estímulo do Federal Reserve à economia dos Estados Unidos e o menor fôlego dos preços das commodities.
O dólar à vista caiu na sexta-feira ao menor nível desde 1999, abaixo de 1,56 real. Nesta segunda-feira, a cotação mantinha-se praticamente estável, em leve baixa de 0,13 por cento, a 1,556 real.
O fluxo de capitais ao país, embora tenha diminuído no segundo trimestre e até ficado negativo em junho, gira em torno de 40 bilhões de dólares no ano e é o principal combustível para a valorização do real.
O ambiente de juros quase zero nos principais mercados mundiais, ainda em um reflexo da crise de 2008, foi um convite a que muitas empresas buscassem financiamento barato no exterior, trazendo a moeda estrangeira para o Brasil.
A questão é que a era de dinheiro barato está prestes a acabar. O programa de estímulo financeiro do Federal Reserve terminou em junho e, para alguns analistas, o mercado começará a especular no final do ano sobre o início de um ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.
"Por isso que continuamos trabalhando com câmbio próximo a 1,70 (real) no final do ano", disse Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria,.
As commodities, que têm influência direta sobre o real devido à pauta de exportações do Brasil --concentrada em matérias-primas--, também podem diminuir a pressão a favor da queda do dólar.
Em maio e junho, o índice Reuters-Jefferies <.CRB> de preços de commodities caiu 8,8 por cento, após ter subido mais de 11 por cento nos primeiros quatro meses do ano.
"Na medida em que os dados econômicos indicam uma perspectiva pior para o crescimento e uma desaceleração da recuperação econômica, os investidores devem se beneficiar mais de uma exposição menor a commodities cíclicas, como metais preciosos e produtos agrícolas", afirmaram analistas do Bank of America Merrill Linch, em relatório.
Para Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citi no Brasil, "a expectativa é que as commodities não pressionem tanto nos próximos meses, retirando esse elemento de fortalecimento do real". Ele prevê dólar a 1,60 real no fim do ano.
Dólar ainda tem espaço para cair
No que se refere aos fundamentos da economia brasileira, porém, a tendência ainda é de queda do dólar.
Analistas do Credit Suisse ressaltam que a entrada de capitais deve seguir ao longo de 2011, em parte por causa dos juros locais --a 12,25 por cento ao ano e com perspectiva de subir um pouco mais.
"Após apreciação de 6 por cento, a moeda parece cara, mas a fraqueza contínua do dólar, aliada aos fluxos de investimento direto, comércio exterior e altas taxas de juros deve manter o câmbio nesse patamar", avaliaram Andrew Campbell e Marcelo Gonçalves, prevendo dólar a 1,60 real no fim do ano.
Campos Neto, da Tendências, também acredita que o dólar tenda a cair nas próximas semanas, embora possa encontrar suporte em níveis técnicos como 1,55 real.
"No curto prazo, as condições que direcionaram o câmbio para esse patamar continuam valendo. E você tem uma menor aversão a risco com a questão da Grécia", completou, em referência à crise da dívida no país, onde a aprovação de medidas fiscais afastou por ora o risco de um calote.
Uma variável, porém, continua indefinida: a postura do governo brasileiro. Operadores notam a ausência de medidas extraordinárias para tentar frear a queda do dólar, com o Banco Central se limitando a comprar moeda duas vezes por dia no mercado.
Para Campos Neto, o governo pode retomar o discurso "mais intervencionista" do começo do ano, mas as opções para brecar o capital de curtíssimo prazo já estão praticamente esgotadas após a elevação do IOF sobre a entrada de capital até dois anos.
"Resta muito pouco a ser feito sem uma grande intervenção que poderia não ser tão favorável" aos investimentos em geral no país, como uma quarentena, disse o economista.
Por ora, o volume recorde de apostas de estrangeiros na alta do real é um sinal de que os investidores veem o governo confortável com o dólar nesse patamar, segundo o analista de uma corretora em São Paulo, que preferiu não ser identificado.
Em 1o de julho, os investidores não-residentes sustentavam 23,5 bilhões de dólares em posições vendidas na moeda norte-americana em contratos futuros e de cupom cambial (DDI), a maior cifra ao menos desde a crise global de 2008.
São Paulo - A queda do dólar aos menores níveis desde 1999 tende a continuar nas próximas semanas, com a distensão da crise da dívida na Europa e a atuação mais branda do governo brasileiro no mercado de câmbio, afirmam analistas.
Mas, à medida que o fim do ano se aproximar, a moeda pode retornar ao patamar de 1,60 real com o fim do estímulo do Federal Reserve à economia dos Estados Unidos e o menor fôlego dos preços das commodities.
O dólar à vista caiu na sexta-feira ao menor nível desde 1999, abaixo de 1,56 real. Nesta segunda-feira, a cotação mantinha-se praticamente estável, em leve baixa de 0,13 por cento, a 1,556 real.
O fluxo de capitais ao país, embora tenha diminuído no segundo trimestre e até ficado negativo em junho, gira em torno de 40 bilhões de dólares no ano e é o principal combustível para a valorização do real.
O ambiente de juros quase zero nos principais mercados mundiais, ainda em um reflexo da crise de 2008, foi um convite a que muitas empresas buscassem financiamento barato no exterior, trazendo a moeda estrangeira para o Brasil.
A questão é que a era de dinheiro barato está prestes a acabar. O programa de estímulo financeiro do Federal Reserve terminou em junho e, para alguns analistas, o mercado começará a especular no final do ano sobre o início de um ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.
"Por isso que continuamos trabalhando com câmbio próximo a 1,70 (real) no final do ano", disse Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria,.
As commodities, que têm influência direta sobre o real devido à pauta de exportações do Brasil --concentrada em matérias-primas--, também podem diminuir a pressão a favor da queda do dólar.
Em maio e junho, o índice Reuters-Jefferies <.CRB> de preços de commodities caiu 8,8 por cento, após ter subido mais de 11 por cento nos primeiros quatro meses do ano.
"Na medida em que os dados econômicos indicam uma perspectiva pior para o crescimento e uma desaceleração da recuperação econômica, os investidores devem se beneficiar mais de uma exposição menor a commodities cíclicas, como metais preciosos e produtos agrícolas", afirmaram analistas do Bank of America Merrill Linch, em relatório.
Para Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citi no Brasil, "a expectativa é que as commodities não pressionem tanto nos próximos meses, retirando esse elemento de fortalecimento do real". Ele prevê dólar a 1,60 real no fim do ano.
Dólar ainda tem espaço para cair
No que se refere aos fundamentos da economia brasileira, porém, a tendência ainda é de queda do dólar.
Analistas do Credit Suisse ressaltam que a entrada de capitais deve seguir ao longo de 2011, em parte por causa dos juros locais --a 12,25 por cento ao ano e com perspectiva de subir um pouco mais.
"Após apreciação de 6 por cento, a moeda parece cara, mas a fraqueza contínua do dólar, aliada aos fluxos de investimento direto, comércio exterior e altas taxas de juros deve manter o câmbio nesse patamar", avaliaram Andrew Campbell e Marcelo Gonçalves, prevendo dólar a 1,60 real no fim do ano.
Campos Neto, da Tendências, também acredita que o dólar tenda a cair nas próximas semanas, embora possa encontrar suporte em níveis técnicos como 1,55 real.
"No curto prazo, as condições que direcionaram o câmbio para esse patamar continuam valendo. E você tem uma menor aversão a risco com a questão da Grécia", completou, em referência à crise da dívida no país, onde a aprovação de medidas fiscais afastou por ora o risco de um calote.
Uma variável, porém, continua indefinida: a postura do governo brasileiro. Operadores notam a ausência de medidas extraordinárias para tentar frear a queda do dólar, com o Banco Central se limitando a comprar moeda duas vezes por dia no mercado.
Para Campos Neto, o governo pode retomar o discurso "mais intervencionista" do começo do ano, mas as opções para brecar o capital de curtíssimo prazo já estão praticamente esgotadas após a elevação do IOF sobre a entrada de capital até dois anos.
"Resta muito pouco a ser feito sem uma grande intervenção que poderia não ser tão favorável" aos investimentos em geral no país, como uma quarentena, disse o economista.
Por ora, o volume recorde de apostas de estrangeiros na alta do real é um sinal de que os investidores veem o governo confortável com o dólar nesse patamar, segundo o analista de uma corretora em São Paulo, que preferiu não ser identificado.
Em 1o de julho, os investidores não-residentes sustentavam 23,5 bilhões de dólares em posições vendidas na moeda norte-americana em contratos futuros e de cupom cambial (DDI), a maior cifra ao menos desde a crise global de 2008.