Entenda por que o México é um dos principais beneficiados da alta do dólar
Análise da Gavekal Research aponta os possíveis cenários caso a balança comercial dos EUA continue em déficit
Repórter de Invest
Publicado em 28 de junho de 2024 às 17h24.
Última atualização em 3 de julho de 2024 às 16h59.
O dólar tem apresentado uma trajetória de alta global já há dois anos – e nada indica que o movimento deve diminuir ao longo de 2024. O movimento do câmbio gera um déficit na balança comercial americana, ou seja, os Estados Unidos começam a importar mais do que exportar. O dólar caro deixa os produtos importados mais atrativos que os locais, prejudicando, principalmente, os próprios produtores dos EUA.
Existe, no entanto, um grande vencedor nesse cenário: o México. A conclusão é de Tan Kai Xian, analista da Gavekal Research. “O México será beneficiado pelo aumento do défict dos EUA e seus produtores ganharão uma fatia maior do bolo das importações americanas. Isto deverá impulsionar o crescimento mexicano e reforçar o peso”, escreveu.
O México vem galgando o posto de maior parceiro comercial de importação dos EUA na esteira das tensões do vizinho com a China, além da covid-19, que fez os importadores buscarem fornecedores mais próximos.
Existe um risco para a tese, que é a possibilidade de retorno de Donald Trump à Casa Branca – Trump é crítico contumaz das relações com o México. Xian argumenta, no entanto, que esses temores são exagerados. Além disso, é baixo o risco de produtos chineses entrarem nos EUA pela fronteira mexicana. “O México não é um canal importante para os produtores chineses e as regras comerciais existentes devem mantê-lo assim.”
Quem sai perdendo?
Com a balança comercial em déficit, a economia americana fica prejudicada. O analista defende que o cenário deve retardar o crescimento dos EUA. “Qualquer aumento nas importações líquidas prejudica o crescimento de um país. No caso dos EUA, um déficit comercial crescente terá um impacto limitado devido à baixa dependência comercial da economia, com as importações representando apenas 4,3% do PIB.”
A grande perdedora, no entanto, deve ser a indústria americana. “Se a economia dos EUA depender mais de bens importados – tudo o resto igual – será necessária menos produção interna.”
Incentivos governamentais estimularam a construção de fábricas desde 2021, mas, segundo a Gavekal, não houve um aumento semelhante em investimentos em equipamento industrial. Isso sugere que muitas novas fábricas podem estar vazias. “Nada disto significa que a produção interna e as exportações dos EUA irão contrair-se, mas tais ventos contrários limitarão a força da produção interna e das exportações dos EUA.”