Engie (EGIE3): Compra de hidrelétricas é positiva, mas pressiona ainda mais dividendos
"Já esperávamos o payout mínimo em 2025, mas com essa aquisição, a probabilidade de menores dividendos também 2026 aumentou", avalia Junqueira


Editora do EXAME IN
Publicado em 23 de março de 2025 às 22h20.
Última atualização em 23 de março de 2025 às 22h21.
A aquisição de duas hidrelétricas com 612 MW de capacidade pela Engie (EGIE3), anunciada na noite de sexta-feira, 21, é positiva, na medida em que fortalece o portfólio num momento de maior desafio para as fontes eólica e solar e foi feita a um valor justo, afirmou o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) em relatório.
Mas deve levar o endividamento da companhia acima das 3 vezes o EBITDA, reduzindo ainda mais a distribuição dedividendos, que já vem pressionada pelo ciclo mais pesado em investimentos em novos projetos de geração e transmissão.
A companhia de controle francês anunciou a compra das usinas de Santo Antônio do Jari e Cachoeira Caldeirão, no Amapá e no Pará, que pertenciam a EDP e a CTG Brasil, por R$ 2,96 bilhões -- considerando equity e assunção de dívidas.
Ambas as usinas tem longo histórico de operação, operando há cerca de 10 anos, e com toda a energia já contratada em leilões no mercado regulado, com concessões vigentes pelo menos até 2044.
Nas contas do BTG, os R$ 2,96 bilhões a serem pagos pelos ativos equivalem a um múltiplo de 6 vezes o EBITDA em 2024 e uma taxa interna de retorno (TIR) de 8,8% considerando os contratos à frente, a um preço de R$ 160/MWh para o longo prazo.
"Em nossa visão, a transação parece ter sido feita a um valor justo, e adicionar hirelétricas ao portfólio é um movimento positivo, especialmente considerando os desafios que as renováveis vêm enfrentando recentemente ( curtailments, modulação, ventos e irradição solar menores que o esperado, etc)", escreveu o analista Antonio Junqueira.
Os retornos podem ser maximizados com alavancagem. Assumindo uma contração de dívidas para financiar 70% da aquisição, com um custo de dívida de 6,5% ao ano e pagamento em cinco anos, a TIR salta para 10,6%, ainda nas contras do banco.
A grande questão é que a operação pode reduzir ainda mais os dividendos a serem pagos à frente.
A Engie encerrou o quarto trimestre com uma alavancagem de 2,7 vezes dívida líquida e EBITDA, e a transação deve levar esse patamar para um múltiplo superior a 3 vezes.
"Já esperávamos que o payout mínimo continuasse em 2025, mas com essa aquisição, a probabilidade de menores dividendos também 2026 aumentou", avalia Junqueira.
Conhecida como uma boa pagadora de proventos, a Engie vem de um ciclo de investimentos mais pesado que limitou a distribuição de proventos a 55% dos lucros já em 2024.
Neste ano, para além da aquisição, já havia um aumento do endividamento contratado à frente, por conta dos investimentos necessários para colocar de pé novos projetos de geração e transmissão. Ao todo, eles devem demandar R$ 4,2 bilhões em 2025, R$ 2,1 bilhões em 2026 e R$ 2,2 bilhões em 2027.
Nos últimos doze meses, os papéis da Engie negociam próximos à estabilidade, com queda de 2% na B3. No acumulado deste ano, eles vêm recuperando o desempenho, na esteira da bolsa brasileira, e avançam 10%. A empresa vale R$ 32 bilhões.