Dólar e fiscal são os maiores riscos para a inflação, diz Rio Bravo
Gestora prevê período de “muita volatilidade” no mercado doméstico e internacional
Guilherme Guilherme
Publicado em 21 de outubro de 2021 às 14h52.
Última atualização em 21 de outubro de 2021 às 14h59.
O descontrole fiscal e a depreciação do real, que torna mais cara as importações brasileiras, são os principais fatores de risco para a inflação, segundo carta da gestora Rio Bravo, divulgada nesta semana.
Com o IPCA anual rodando acima dos 10%, o atual cenário pode representar uma bomba relógio para a explosão de preços no Brasil. Com temores de que o governo estoure o teto de gastos para viabilizar o incremento de programas sociais, investidores retiram dólares do país, fazendo o preço da moeda americana disparar.
Nesta quinta-feira, 21, o dólar sobe mais de 1,5%, sendo negociado acima de 5,65 reais pela primeira vez desde abril. Na bolsa, investidores aumentam as apostas de uma posição mais dura do Banco Central na reunião de política monetária da semana que vem. Para parte do mercado, para controlar a inflação, seria necessário uma alta de juros de 1,25 ponto percentual na quarta-feira, 27.
Para a Rio Bravo, o ciclo de alta da Selic deve encerrar em 8,75%, “mas há inúmeros riscos que colocam um viés de alta nessas projeções”. Além do câmbio e das questões fiscais, a gestora ainda elenca a situação hídrica, preço das commodities e de bens industriais e a recuperação do setor de serviços, o mais atingido pelas restrições impostas pela pandemia.
Em meio ao impasse sobre como financiar o Auxílio Brasil, a Rio Bravo aponta que a sinalização do “rompimento das principais regras que regem as contas públicas podem criar um efeito contrário sobre a economia, com a manutenção de um cenário de inflação, juros e desemprego elevados”.
“Será um período de muita volatilidade para os mercados domésticos e internacionais, que irão responder também pelas crises remanescentes da pandemia”, afirma a Rio Bravo em carta mensal.
A inflação também é uma das principais preocupações da gestora para o ambiente internacional, que passa por restrições na cadeia de suprimentos e pela crise energética na China e Europa.
“Problemas sazonais na geração de energia eólica na Europa e a redução no uso de fontes nucleares na Alemanha levaram o velho continente a uma profunda crise energética que culminou em uma alta de quase 100% no gás natural neste ano”, lembra a gestora.
A perspectiva da Rio Bravo é de que os preços de energia se mantenham em patamares elevados no exterior. O maior risco, segundo ela, é a inflação se mostrar ainda mais persistente nos países desenvolvidos, levando os bancos centrais a subirem juros antes do esperado.
“Isso pode levar a uma fuga de capital dos países emergentes, dificultando ainda mais a recuperação desses países no ano que vem.”
Internamente, a expectativa da Rio Bravo é de que, a partir de agora, as discussões sobre orçamento de 2022 e cenário eleitoral para ano que vem se mostrem ainda mais presentes nas mesas de negociação.