Dólar a R$ 4,74: por que o real é a moeda que mais se valoriza no mundo
Moeda americana engata uma sequência de sessões em queda não vista desde 2010 e pode testar agora o patamar de R$ 4,70
Reuters
Publicado em 25 de março de 2022 às 20h22.
O dólar caiu pelo oitavo pregão consecutivo nesta sexta-feira, dia 25, para uma nova cotação mínima desde março de 2020. O desempenho marcou a décima semana de perdas no ano e consolidou a posição do real como a moeda que mais se valoriza no mundo -- entre as principais economias -- no acumulado de 2022.
Após cair 1,74% na sessão desta sexta, para R$ 4,7469 na venda, a moeda americana à vista acumula agora queda de 14,8% no ano. O patamar de encerramento desta sexta foi o menor desde 11 de março de 2020 (R$ 4,7207) e refletiu, segundo operadores, desmontes de posições compradas em dólar -- ou seja, que apostam na alta da moeda.
Com esse resultado, a divisa marcou sua maior sequência de desvalorização desde uma série de mesma duração -- oito dias -- encerrada em 5 de março de 2010.
A desvalorização semanal do dólar foi de 5,38%, a quarta consecutiva. Também foi a maior perda nessa base de comparação desde a semana encerrada em 6 de novembro de 2020 (-6,07%).
A divisa americana tem rompido níveis de suporte de maneira sucessiva. Ao longo da semana, cruzou os níveis de R$ 5,00, R$ 4,90, e, nesta sexta, de R$ 4,80 e R$ 4,75. Na mínima intradiária deste pregão, chegou a tocar em R$ 4,7439.
Abaixo de suas médias móveis lineares de 50, 100 e 200 dias desde o final de janeiro, o dólar está agora muito próximo de romper outra barreira técnica importante: sua média móvel de 200 semanas, atualmente em R$ 4,7089.
"Tivemos uma explosão nos termos de trocas por causa da guerra, favorecendo os produtores de commodities", escreveu Alfredo Menezes, sócio da gestora Armor Capital e especialista em câmbio, no Twitter.
O conflito na Ucrânia levantou temores generalizados de restrição de oferta de produtos como petróleo e commodities agrícolas, o que de fato tem acontecido, impulsionando os preços internacionais.
Isso voltou a atenção de investidores internacionais para alternativas à Rússia e à Ucrânia -- importantes exportadoras--, especialmente na América Latina, região considerada menos vulnerável à crise geopolítica.
Em relatório desta sexta, a agência de classificação de risco Fitch Ratings notou que "as moedas na América Latina tiveram o melhor desempenho de qualquer região de mercados emergentes em meio à recente aversão ao risco global", ainda que a guerra represente riscos inflacionários e econômicos para os países da região.
Além do salto das commodities, "veremos uma Selic próxima a 13%", continuou Menezes, da Armor, afirmando que esse patamar de juros eleva o carrego oferecido pela moeda brasileira, além de tornar mais caro adotar posições compradas em dólar.
Seu comentário faz referências a estratégias de carry trade, que buscam lucrar com a tomada de empréstimo em um país de juro baixo e a subsequente aplicação desses recursos em um mercado com rendimentos elevados.
Com a taxa Selic atualmente em 11,75% ao ano e a projeção para que suba para 12,75% ou acima desse patamar, o Brasil tem uma das maiores taxas de juros nominais do mundo; perde apenas para Rússia -- afetada por sanções ocidentais em resposta ao ataque militar contra a Ucrânia --, Argentina e Turquia. Estes dois países sofrem com inflação galopante.
E os custos dos empréstimos brasileiros devem subir ainda mais. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem sinalizado que o ciclo de aperto monetário iniciado no ano passado deve parar em 12,75%, mas algumas instituições financeiras e participantes do mercado projetam altas adicionais da Selic.
Nesta sexta, após o resultado do IPCA-15 de março ter vindo acima do esperado pelo mercado, o Credit Suisse passou a estimar os juros em 14% ao fim de 2022, com ajustes de 1 ponto percentual em maio, 0,75 ponto em junho e 0,50 ponto em agosto.
Apesar da força recente do real, Alfredo Menezes, da Armor, disse acreditar que o movimento de disparada das commodities não é permanente e que o dólar de equilíbrio -- valor ideal da moeda levando em consideração variáveis macroeconômicas -- deve ficar acima dos patamares atuais.