Com surpresa do PIB, bolsa sobe 2,3% e recupera os 100 mil pontos
Mineradoras e empresas do setor de varejo lideraram os ganhos do índice, que caminha para anular as perdas vistas em agosto
Tais Laporta
Publicado em 29 de agosto de 2019 às 17h42.
Última atualização em 29 de agosto de 2019 às 18h05.
Embalado pela boa surpresa do PIB brasileiro, o principal índice de ações da B3 praticamente reverteu as perdas da semana nesta quinta-feira (29) e tem maiores chances de fechar agosto no azul. O Ibovespa subiu pelo terceiro dia seguido, com avanço de 2,37%, aos 100.525 pontos. Na semana, a bolsa acumula alta de 2,93%.
A forte alta das ações de consumo ajudou a empurrar o indicador para cima. O consumo das famílias cresceu 0,3% no segundo trimestre, um grande catalizador do avanço de 0,4% da economia brasileira no período. O grupo varejista Magazine Luiza teve valorização de 6,5% e Via Varejo, de 4%. B2W subiu 3%.
A construtora MRV, a processadora de alimentos Marfrig e o grupo educacional Yducs (ex-Estácio) também figuraram entre as maiores altas do dia, beneficiadas pelo otimismo com a retomada da economia.
O resultado do segundo trimestre afastou temores de uma recessão técnica, que em teoria acontece toda vez que o PIB de um país recua por dois trimestres seguidos. Nos três primeiros meses do ano, a economia brasileira havia apresentado retração de 0,2%.
"O consumo das famílias deve voltar a crescer a taxas mais altas no quarto trimestre, estimulado pela expansão do crédito (já em curso) e pelas medidas de liberação do FGTS que ocorrerão entre setembro desse ano e março do ano que vem" escreveu a XP Investimentos em relatório.
As siderúrgicas e mineradoras também tiveram um dia extremamente positivo, com a Usiminas liderando os ganhos do dia. A ação da companhia avançou quase 10%, negociada perto de 7,69 reais. A CSN avançou 6,11%. A mineradora Vale, por sua vez, subiu 3,52%, o que contribuiu para melhorar o desempenho do Ibovespa.
As ações da Petrobras, as mais negociadas da sessão, avançaram 3,2%, favorecidas pelo resultado positivo da economia e pela alta nos preços do petróleo.A estatal obteve decisão favorável definitiva do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que cancelou débito de 5,9 bilhões de reais sobre créditos de PIS e Cofins.
Apenas duas ações do índice terminaram o dia no vermelho: Raia Drogasil e BRF.
Além do clima favorável no Brasil, a melhora nas tensões entre Estados Unidos e China também teve seu papel,ajudando a amenizar preocupações de que o conflito possa levar a uma recessão global.
Os mercados dos Estados Unidos subiram mais de 1%, impulsionados pelos setores industrial e de tecnologia, sensíveis a questões comerciais. A revisão do PIB dos EUA para baixo, a uma taxa anualizada de 2% no segundo trimestre, não repercutiu negativamente, uma vez que já era esperada.
O destaque negativo do dia foi o pedido de moratória da dívida argentina com credores e com o FMI. Apesar do efeito técnico de um contágio que o fato poderia gerar ao Brasil, a bolsa brasileira não foi contaminada pelo clima ruim, que impediu uma queda do dólar frente ao real.
Dólar mais perto do recorde histórico
Segundo a Reuters, analistas têm afirmado que a performance mais fraca do real nos últimos dias tem relação direta com a crise no país vizinho, terceiro maior parceiro comercial do Brasil.
O dólar voltou a subir nesta quinta, no maior patamar de fechamento desde setembro do ano passado, com mais um dia turbulento na vizinha Argentina e com o mercado digerindo a estratégia de atuação do Banco Central no câmbio.O que ajudou a limitar a alta do dólar nesta sessão foi o otimismo quanto às negociações comerciais entre China e EUA.
A moeda fechou em alta de 0,34%, a 4,1717 reais na venda. É o maior nível desde 13 de setembro de 2018, data em que a cotação terminou em 4,1957 reais, máxima recorde do Plano Real.
O dólar sobe 1,15% na semana, a caminho de contabilizar a sétima semana consecutiva de valorização, mais longa série do tipo desde as mesmas sete semanas de alta registradas entre o começo de novembro e meados de dezembro de 2018.
A quinta-feira foi marcada ainda pelo último dia de intervenções do Banco Central para trocar 3,8 bilhões de dólares em swaps cambiais por moeda à vista. O BC já anunciou operações semelhantes para setembro. Nesta semana, o BC retomou a venda "pura" de dólar à vista pela primeira vez em uma década.
O índice de força relativa (IFR) de 14 dias --que mede quão rápido um ativo se movimentou em relação a seu padrão-- saltou para 74,79 nesta sessão, em torno de máximas em um ano. O índice vai de zero a 100. Patamares acima de 70 sugerem que um ativo está excessivamente valorizado, o que é interpretado como um sinal de correção de baixa à vista.