BCE deve subir juro para maior nível desde 2011 para combater a inflação recorde
Comunicado do Banco Central Europeu será divulgado na manhã desta quinta-feira, 8
Guilherme Guilherme
Publicado em 8 de setembro de 2022 às 06h30.
O Banco Central Europeu (BCE) chega para a decisão de política monetária desta quinta-feira, 8, sob expectativa de uma nova alta de juros. O comunicado está previsto para às 9h15 e o discurso da presidente do BCE, Christine Lagarde, para às 11h15.
O consenso é de que o BCE eleve a taxa de facilidade permanente de depósito de 0% para 0,5%. A taxa de juro, utilizada por bancos para depósitos overnight no Eurosistema, é considerada a principal da Zona do Euro. Se confirmada, será a mais alta desde 2011.
Na última decisão, em julho, o BCE surpreendeu o mercado ao subir a taxa em 0,5 ponto percentual, tirando-a, de uma vez só, do campo negativo, em que estava desde 2014.
A virada das políticas do BCE, historicamente expansionistas, ocorre em meio à maior inflação da história da Zona do Euro. Em agosto, o Índice de Preço ao Consumidor (IPC) do bloco fechou a 9,1% no acumulado de 12 meses. A inflação de agosto do ano passado, quando o discurso dos maiores bancos centrais era de alta de preços “transitória”, foi de 3%.
O endurecimento da abordagem do BCE é a ferramenta mais óbvia para o controle da inflação. Mas a dinâmica não é tão simples. Pelo contrário. Além da demora para a economia real sentir os efeitos do aperto monetário, o elevado endividamento de alguns dos principais países da Europa, como a Itália, e a desaceleração prevista no continente pelos efeitos da guerra na Ucrânia aumentam ainda mais o preço pago pela alta de juros.
Mas as estimativas do Bank of America é de que o BCE seja “mais reativo aos choques inflacionários do que à deterioração das perspectivas de crescimento”. Expectativa de um BCE mais duro, choque de preços de energia e incertezas do lado da oferta, por sinal, levaram os economistas do banco a reduzirem a projeção do PIB da Zona do Euro em 2023 de 0,8% para 0,3%.
Perspectivas negativas para a economia europeia também se refletem nas bolsas do continente. O Stoxx 600, índice que representa um agregado de empresas listadas na Europa, acumula cerca de 15% de queda desde o início do ano. A situação ainda é mais crítica na bolsa da Alemanha, onde as perdas beiram 19%. O país é o mais afetado por cortes de fornecimento de gás russo.
O próprio euro tem sentido os efeitos do maior pessimismo sobre a atividade local, com desvalorização de 13% frente ao dólar no ano. A moeda vem sendo negociada nas últimas semanas próxima do menor patamar em 20 anos, abaixo de US$ 1. Mas, ao menos para a moeda local, o aperto monetário pode ter efeito positivo no curto prazo, reduzindo o diferencial de juros entre as economias americana e da Zona do Euro.