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ARX vê dólar forte e oportunidades para multimercados

Segundo presidente da gestora de recursos, este ano deve ser mais fácil para os fundos multimercados apresentarem bons resultados

Dólar: gestora trabalha com um crescimento forte dos EUA, mas fraco do Brasil, com juros insuficientes para derrubar significativamente a inflação e um dólar ainda em alta (Marcos Santos/USP Imagens)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2014 às 15h39.

São Paulo - Este ano deve ser mais fácil para os fundos multimercados apresentarem bons resultados, embora sejam esperados movimentos fortes nos mercados financeiros, avalia José Tovar, presidente da gestora de recursos ARX Investimentos, ligada ao banco americano BNY Mellon. Dependendo da convicção com relação ao cenário econômico, os gestores podem assumir mais riscos diante do cenário, afirma.

No ano passado, a ARX teve vários de seus multimercados entre os mais rentáveis do mercado, segundo levantamento feito pelo blog Arena com dados da Economática. A gestora trabalha com um crescimento forte dos EUA, mas fraco do Brasil, com juros insuficientes para derrubar significativamente a inflação e um dólar ainda em alta.

O ano deve ter também momentos de estresse maiores e menores, de acordo com o cenário econômico externo e interno, com as pesquisas eleitorais e a forma como o governo vai reagir a elas, afirma Tovar. “Mas devem surgir oportunidades de ganhos nesses momentos em que os preços flutuam mais”, avisa.

Os EUA puxam o crescimento

O cenário para os Estados Unidos segue positivo, com a economia crescendo e garantindo a retirada gradual dos incentivos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ao mercado, avalia Solange Srur, economista-chefe da ARX. Já no Brasil, o consenso forte entre os analistas é que nada de muito relevante vai acontecer este ano. “Mas o mercado vai exigir respostas do governo”, afirma a economista.

Crescimento perto de 2%

O ano começa com uma expectativa de crescimento baixo, perto de 2% ao ano, com inflação alta, em torno de 6%, o que manterá o mercado de juros em alerta e dividido sobre a política monetária. Para Solange, qualquer piora no IPCA vai exigir uma resposta mais dura do governo, com mais juros e mais aperto monetário, como aconteceu agora em janeiro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu e subiu a Selic em 0,5 ponto, quando todos esperavam 0,25.


Só que essa resposta contra a inflação, que deveria incluir também ajuste nos gastos do governo, não poderá ser dada totalmente em 2014, para não colocar em risco a eleição presidencial, acredita Solange. “Vamos ter momentos de muita volatilidade, não vai ser ano tranquilo”, avisa. “E a volatilidade deve ajudar os multimercados.”

Dólar sob controle

Ela não acredita que o dólar vá disparar, até pela atuação do Banco Central (BC), que vem garantindo proteção cambial para o mercado via leilões de contratos de swap cambial. Recentemente, o BC garantiu a rolagem de US$ 11 bilhões em swaps que vencem em fevereiro, dando mais tranquilidade para o câmbio. “O BC está cauteloso em manter a dinâmica do dólar controlada pelo risco que a alta da moeda teria na economia, nos investimentos e na inflação”, afirma.

Mas a tendência da moeda americana é subir, sob o impacto da política fiscal ainda frouxa, do juro que não é tão alto e da redução da liquidez internacional pelo ajuste dos incentivos nos EUA. “Mas não devemos ter um impacto tão forte quanto o de 2013, quando o dólar saiu de R$ 2 para R$ 2,30”, acredita.

Dólar a R$ 2,50/R$ 2,60

Solange espera que o dólar caminhe ao longo do ano, de forma controlada, para R$ 2,50 ou até um pouco mais se a recuperação dos EUA se confirmar mais forte que o esperado. “O impasse fiscal este ano nos EUA deve ser menor, com democratas e republicanos fechando acordos em torno do orçamento, e devemos ter um crescimento genuíno do consumo das famílias americanas”, diz.
No fim do ano, a moeda americana pode estar sendo negociada entre R$ 2,50 e R$ 2,60. Já o juro básico Selic deve subir mais 0,25 ponto em fevereiro e parar em 10,75%, ficando nesse nível até o fim do ano.


Risco para os juros

O risco para os juros, afirma Solange, é a inflação não cair no curto prazo, como mostrou a alta do IPCA de dezembro e os primeiros indicadores deste ano. A economista acredita que o risco é a inflação continuar pressionada no primeiro trimestre, o que impediria o BC de interromper a alta dos juros em fevereiro. “Nesse caso, nossa Selic para o fim do ano pode ficar perto de 11,25%”, diz.

E o indicador pode se acelerar a partir de abril, com os preços de alimentação, o que pode levar a novas pressões do mercado em agosto ou setembro. “Podemos ter uma parada agora, mas a alta não será suficiente para fazer a inflação cair ao longo do ano” acredita.

Situação fiscal pior

Solange também não espera melhora fiscal, com o superávit primário fechando 2013 em torno de 1,7% do PIB e recuando neste ano para 1,3% do PIB. “Não haverá a ajuda do Refis (programa de renegociação de dívidas de tributos federais, que impulsionou as receitas do governo no fim de 2013), mas podemos ter alguma outra surpresa”, avalia Solange. “Mas o superávit primário genuíno deve cair pois a política fiscal deve seguir expansionista e só ficará restritiva em 2015”, acredita.

Ajuste bravo em 2015

Nesse cenário, em 2015, qualquer que seja o novo governo deve anunciar já em janeiro algum ajuste fiscal, subindo também a Selic ao longo do ano. “O governo entra com credibilidade e, mesmo que seja esse governo que aí está, vai ser mais crível” acredita Solange. “Não dá para continuar do jeito que está, espera-se que haja uma troca de equipe que pode ser mais rigorosa com inflação e gastos”, afirma.

O mundo também estará mudando, com mais restrições dos investidores ao risco após a alta dos juros nos EUA, o que obrigará o Brasil a promover um ajuste das contas públicas. “Deve ser essa a lógica, um ajuste fiscal mais forte que abriria espaço talvez até para uma redução da alta da taxa Selic”, afirma.

Inflação de 6% ou mais

Solange acha difícil a inflação subir menos de 6% em 2014. “Tem muita coisa represada”, diz, referindo-se às tarifas públicas e preços controlados pelo governo, como os combustíveis, que não foram plenamente reajustados em 2013. “Por mais que a economia brasileira não cresça tanto, temos desemprego baixo, expansão fiscal, e devemos ter o IPCA acelerando, fechando o ano perto dos 6,20%”, afirma.


Tarifas pressionadas também em 2015

Entre as pressões, a economista lembra que deve haver um novo ajuste da gasolina e a expectativa é de novas alta para 2015. “Não vai dar para segurar tarifas como as de energia elétrica como ocorreu em 2013, e o IPCA pode chegar a 6,5%”, afirma. “Mas, com credibilidade, um ajuste da equipe econômica, podemos ter descompressão de preços importantes em meio a um ajuste fiscal”, diz.

Bolsa sofre com Brasil

Já a bolsa brasileira, pelo cenário internacional deveria ir bem, apesar da redução dos incentivos nos EUA. O crescimento americano e a recuperação da Europa, que sairá do risco, e mais a melhora da economia japonesa seriam fatores positivos para a bolsa brasileira. “Não devemos ter tantos solavancos como em 2013, pois mesmo o corte dos incentivos dos EUA será feito com cuidado, não será para trazer o crescimento americano para baixo e o Fed deve mostrar isso”, acredita Solange.

Do lado doméstico, porém, sobram dúvidas. Não se sabe como vai ser o novo governo, se ele vai dar um novo reajuste da gasolina ou favorecer investimento privado. “Mas, pelo que temos visto nos avanços das concessões, ajustando as taxas de retorno para atrair a iniciativa privada, as incertezas com relação ao atual governo diminuíram”, afirma Solange. “Mas ainda estão aí”.

Ruim, mas melhorando

O grande questionamento da economista é que a realidade atual está ruim, mas se ajustando. O pano de fundo do cenário doméstico é o mais complicado, mas ela espera que, pelo lado macroeconômico, venha algo bom para ajudar as expectativas. “O crescimento pode ficar em torno de 2%, o que, apesar de baixo, não traz insatisfação popular”, observa. O desemprego segue baixo e a renda não cai.

Crescimento roubado

Para Solange, o crescimento brasileiro poderia até ser maior, mais perto de 3% se o investimento ajudasse, mas o calendário eleitoral atrapalha pois cria incerteza sobre quem vai ganhar. Por isso, Solange acredita que o ano de 2015 vai roubar um pouco do crescimento de 2014. “Se o governo mudar sua postura, pode haver alta forte do investimento.”

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São Paulo - Este ano deve ser mais fácil para os fundos multimercados apresentarem bons resultados, embora sejam esperados movimentos fortes nos mercados financeiros, avalia José Tovar, presidente da gestora de recursos ARX Investimentos, ligada ao banco americano BNY Mellon. Dependendo da convicção com relação ao cenário econômico, os gestores podem assumir mais riscos diante do cenário, afirma.

No ano passado, a ARX teve vários de seus multimercados entre os mais rentáveis do mercado, segundo levantamento feito pelo blog Arena com dados da Economática. A gestora trabalha com um crescimento forte dos EUA, mas fraco do Brasil, com juros insuficientes para derrubar significativamente a inflação e um dólar ainda em alta.

O ano deve ter também momentos de estresse maiores e menores, de acordo com o cenário econômico externo e interno, com as pesquisas eleitorais e a forma como o governo vai reagir a elas, afirma Tovar. “Mas devem surgir oportunidades de ganhos nesses momentos em que os preços flutuam mais”, avisa.

Os EUA puxam o crescimento

O cenário para os Estados Unidos segue positivo, com a economia crescendo e garantindo a retirada gradual dos incentivos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ao mercado, avalia Solange Srur, economista-chefe da ARX. Já no Brasil, o consenso forte entre os analistas é que nada de muito relevante vai acontecer este ano. “Mas o mercado vai exigir respostas do governo”, afirma a economista.

Crescimento perto de 2%

O ano começa com uma expectativa de crescimento baixo, perto de 2% ao ano, com inflação alta, em torno de 6%, o que manterá o mercado de juros em alerta e dividido sobre a política monetária. Para Solange, qualquer piora no IPCA vai exigir uma resposta mais dura do governo, com mais juros e mais aperto monetário, como aconteceu agora em janeiro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu e subiu a Selic em 0,5 ponto, quando todos esperavam 0,25.


Só que essa resposta contra a inflação, que deveria incluir também ajuste nos gastos do governo, não poderá ser dada totalmente em 2014, para não colocar em risco a eleição presidencial, acredita Solange. “Vamos ter momentos de muita volatilidade, não vai ser ano tranquilo”, avisa. “E a volatilidade deve ajudar os multimercados.”

Dólar sob controle

Ela não acredita que o dólar vá disparar, até pela atuação do Banco Central (BC), que vem garantindo proteção cambial para o mercado via leilões de contratos de swap cambial. Recentemente, o BC garantiu a rolagem de US$ 11 bilhões em swaps que vencem em fevereiro, dando mais tranquilidade para o câmbio. “O BC está cauteloso em manter a dinâmica do dólar controlada pelo risco que a alta da moeda teria na economia, nos investimentos e na inflação”, afirma.

Mas a tendência da moeda americana é subir, sob o impacto da política fiscal ainda frouxa, do juro que não é tão alto e da redução da liquidez internacional pelo ajuste dos incentivos nos EUA. “Mas não devemos ter um impacto tão forte quanto o de 2013, quando o dólar saiu de R$ 2 para R$ 2,30”, acredita.

Dólar a R$ 2,50/R$ 2,60

Solange espera que o dólar caminhe ao longo do ano, de forma controlada, para R$ 2,50 ou até um pouco mais se a recuperação dos EUA se confirmar mais forte que o esperado. “O impasse fiscal este ano nos EUA deve ser menor, com democratas e republicanos fechando acordos em torno do orçamento, e devemos ter um crescimento genuíno do consumo das famílias americanas”, diz.
No fim do ano, a moeda americana pode estar sendo negociada entre R$ 2,50 e R$ 2,60. Já o juro básico Selic deve subir mais 0,25 ponto em fevereiro e parar em 10,75%, ficando nesse nível até o fim do ano.


Risco para os juros

O risco para os juros, afirma Solange, é a inflação não cair no curto prazo, como mostrou a alta do IPCA de dezembro e os primeiros indicadores deste ano. A economista acredita que o risco é a inflação continuar pressionada no primeiro trimestre, o que impediria o BC de interromper a alta dos juros em fevereiro. “Nesse caso, nossa Selic para o fim do ano pode ficar perto de 11,25%”, diz.

E o indicador pode se acelerar a partir de abril, com os preços de alimentação, o que pode levar a novas pressões do mercado em agosto ou setembro. “Podemos ter uma parada agora, mas a alta não será suficiente para fazer a inflação cair ao longo do ano” acredita.

Situação fiscal pior

Solange também não espera melhora fiscal, com o superávit primário fechando 2013 em torno de 1,7% do PIB e recuando neste ano para 1,3% do PIB. “Não haverá a ajuda do Refis (programa de renegociação de dívidas de tributos federais, que impulsionou as receitas do governo no fim de 2013), mas podemos ter alguma outra surpresa”, avalia Solange. “Mas o superávit primário genuíno deve cair pois a política fiscal deve seguir expansionista e só ficará restritiva em 2015”, acredita.

Ajuste bravo em 2015

Nesse cenário, em 2015, qualquer que seja o novo governo deve anunciar já em janeiro algum ajuste fiscal, subindo também a Selic ao longo do ano. “O governo entra com credibilidade e, mesmo que seja esse governo que aí está, vai ser mais crível” acredita Solange. “Não dá para continuar do jeito que está, espera-se que haja uma troca de equipe que pode ser mais rigorosa com inflação e gastos”, afirma.

O mundo também estará mudando, com mais restrições dos investidores ao risco após a alta dos juros nos EUA, o que obrigará o Brasil a promover um ajuste das contas públicas. “Deve ser essa a lógica, um ajuste fiscal mais forte que abriria espaço talvez até para uma redução da alta da taxa Selic”, afirma.

Inflação de 6% ou mais

Solange acha difícil a inflação subir menos de 6% em 2014. “Tem muita coisa represada”, diz, referindo-se às tarifas públicas e preços controlados pelo governo, como os combustíveis, que não foram plenamente reajustados em 2013. “Por mais que a economia brasileira não cresça tanto, temos desemprego baixo, expansão fiscal, e devemos ter o IPCA acelerando, fechando o ano perto dos 6,20%”, afirma.


Tarifas pressionadas também em 2015

Entre as pressões, a economista lembra que deve haver um novo ajuste da gasolina e a expectativa é de novas alta para 2015. “Não vai dar para segurar tarifas como as de energia elétrica como ocorreu em 2013, e o IPCA pode chegar a 6,5%”, afirma. “Mas, com credibilidade, um ajuste da equipe econômica, podemos ter descompressão de preços importantes em meio a um ajuste fiscal”, diz.

Bolsa sofre com Brasil

Já a bolsa brasileira, pelo cenário internacional deveria ir bem, apesar da redução dos incentivos nos EUA. O crescimento americano e a recuperação da Europa, que sairá do risco, e mais a melhora da economia japonesa seriam fatores positivos para a bolsa brasileira. “Não devemos ter tantos solavancos como em 2013, pois mesmo o corte dos incentivos dos EUA será feito com cuidado, não será para trazer o crescimento americano para baixo e o Fed deve mostrar isso”, acredita Solange.

Do lado doméstico, porém, sobram dúvidas. Não se sabe como vai ser o novo governo, se ele vai dar um novo reajuste da gasolina ou favorecer investimento privado. “Mas, pelo que temos visto nos avanços das concessões, ajustando as taxas de retorno para atrair a iniciativa privada, as incertezas com relação ao atual governo diminuíram”, afirma Solange. “Mas ainda estão aí”.

Ruim, mas melhorando

O grande questionamento da economista é que a realidade atual está ruim, mas se ajustando. O pano de fundo do cenário doméstico é o mais complicado, mas ela espera que, pelo lado macroeconômico, venha algo bom para ajudar as expectativas. “O crescimento pode ficar em torno de 2%, o que, apesar de baixo, não traz insatisfação popular”, observa. O desemprego segue baixo e a renda não cai.

Crescimento roubado

Para Solange, o crescimento brasileiro poderia até ser maior, mais perto de 3% se o investimento ajudasse, mas o calendário eleitoral atrapalha pois cria incerteza sobre quem vai ganhar. Por isso, Solange acredita que o ano de 2015 vai roubar um pouco do crescimento de 2014. “Se o governo mudar sua postura, pode haver alta forte do investimento.”

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