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Apesar de Trump, BC não deve usar reservas cambiais

Vitória de Trump resultou em turbulência para o mercado financeiro, sobretudo para o câmbio dos países emergentes

Banco Central: dólar chegou a valer mais 3,50 reais logo após ser conhecido o resultado da disputa eleitoral nos EUA (Febraban/Divulgação)
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Reuters

Publicado em 23 de novembro de 2016 às 14h52.

São Paulo - A volatilidade esperada com o incerto governo de Donald Trump nos Estados Unidos não deve levar o Banco Central brasileiro a usar as reservas cambiais para evitar transtornos nos mercados financeiros, segundo analistas consultados pela Reuters.

A vitória de Trump resultou em turbulência para o mercado financeiro, sobretudo para os países emergentes -no Brasil, o dólar chegou a valer mais 3,50 reais logo após ser conhecido o resultado da disputa eleitoral, uma valorização de mais de 10 por cento sobre o patamar de 3,16 reais até então.

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No auge do estresse, na semana da vitória inesperada do republicano, profissionais do mercado financeiro sinalizaram que a autoridade monetária brasileira poderia se desfazer de parte das reservas, hoje próximas de 375 bilhões de dólares, para atenuar a valorização do dólar, evitar volatilidades e até mesmo reduzir impactos inflacionários.

Por ora, o BC não vendeu reservas, mas chegou a aumentar a intervenção no câmbio por meio dos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares. Nesta quarta-feira, o dólar está sendo negociado ao redor do patamar de 3,40 reais.

"A venda de reservas seria mal recebida pelo mercado. Não faz sentido enfraquecer essa posição no momento em que as coisas estão complicadas", afirma o ex-diretor do BC e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Julio Senna.

A última vez que o BC utilizou as reservas internacionais foi na crise internacional de 2008, quando houve forte retração da liquidez global devido à crise financeira nos Estados Unidos e as linhas de crédito praticamente secaram.

Entre outubro daquele ano e fevereiro de 2009, o BC se desfez de 14,5 bilhões de dólares, segundo a assessoria de imprensa da autoridade.

A diferença daquele momento para o atual, com volume muito maior de reservas, é que a economia brasileira é muito mais frágil agora.

O país não é mais grau de investimento e está com as contas públicas fragilizadas, com sucessivos rombos primários.

"As reservas no Brasil, apesar de serem expressivas para a história brasileira... são importantes como um colchão. Além do Trump, há incerteza com o Brexit", diz o ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni, referindo-se à recente decisão do Reino Unidos de deixar a União Europeia.

O BC tem deixado claro que está atento ao andamento do mercado e que dispõe de vários instrumentos para conter a volatilidade cambial. Questionado sobre a venda de parte das reservas, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, já afirmou que elas são importantes e que funcionam como uma espécie de seguro e ajudam na redução do risco país.

Para o economista do banco Santander Luciano Sobral, a discussão parece prematura para o momento. "Com a vitória do Trump, oreal andou como se esperava dado o nosso histórico recente", afirma Sobral.

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A utilização de reservas também poderia trazer risco adicional para o BC, na avaliação dos analistas. Se a venda de dólares não alcançar o resultado esperado, poderia haver desconfiança em relação à autoridade monetária e sua capacidade de amortecer momentos turbulentos.

"Se o BC intervém com reservas e não se chega ao resultado esperado, vira um problema", afirma o economista da FGV e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, Nelson Marconi. "O que ele devia fazer é voltar com a tributação no mercado futuro para operações sem lastro em exportações."

Na avaliação dos analistas, a discussão sobre o tamanho das reservas cambiais e se o BC deve ou não se desfazer de parte dela só terá maior espaço na economia quando a questão fiscal for equacionada.

"Dado o quadro de fragilidade do setor público, é importante manter uma reserva e ter uma posição credora em dólares", diz José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Não é um problema para se resolver agora. Depois da questão fiscal equacionada, aí sim pode-se pensar nessa discussão", afirma.

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