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ANÁLISE-IOF torna jornada por real conversível mais árdua

Intervenção frequente assusta investidor estrangeiro Mercado offshore de derivativos ganha em atratividade Por Silvio Cascione e Samantha Pearson SÃO PAULO, 26 de outubro (Reuters) - A caminhada do Brasil rumo a uma moeda totalmente conversível pode ter se alongado nas últimas semanas, após a taxação mais elevada sobre a entrada de capital especulativo, avaliam analistas […]

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Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2010 às 13h55.

Por Silvio Cascione e Samantha Pearson

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SÃO PAULO, 26 de outubro (Reuters) - A caminhada do Brasil
rumo a uma moeda totalmente conversível pode ter se alongado
nas últimas semanas, após a taxação mais elevada sobre a
entrada de capital especulativo, avaliam analistas e
profissionais de mercado.

Na semana passada, o governo elevou o imposto incidente
sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e aumentou a
taxação sobre as margens de garantia depositadas por
não-residentes na bolsa.

O objetivo é estancar a entrada de dólares de curto prazo
e, com isso, amenizar a valorização do real --que chegou
neste mês ao maior nível em mais de dois anos. Mas isso pode
adiar o desejo de propiciar um mercado de câmbio livre de
amarras.

"Seria mais fácil operar no mercado se ele fosse totalmente
conversível. Isso reduziria o custo de transação", afirmou
Alberto Ramos, economista do banco Goldman Sachs.

Moedas conversíveis como o euro , o iene e o
dólar australiano são negociadas em todo o mundo, com
liquidez abundante. Já o real só pode ser comercializado no
Brasil, por um número restrito de agentes sob supervisão do
Banco Central e dentro de um determinado horário.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, declarou no mês
passado, em Londres, que o Brasil caminha para a
conversibilidade da moeda dentro de um processo gradual.

Em fevereiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse
após o lançamento de uma nova família de cédulas de real que o
país tem de se preparar para a circulação global da moeda.

Mas, "em um ambiente como esse, presume-se que a entrada de
dólares seria facilitada", completou o analista do Goldman.

E como isso se choca com a atual política de intervenção do
governo no mercado de câmbio, Carlos Gandolfo, sócio da
corretora Pioneer, é taxativo. "Conversibilidade? Esqueça".

"GANHAR A BATALHA, MAS PERDER A GUERRA"

O diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, avalia
que "isso só mostra que nós temos vulnerabilidades que não
sancionam o real como uma moeda adequada para ser conversível
no curto prazo".

O juro básico no Brasil é de 10,75 por cento ao ano.
Enquanto isso, economias desenvolvidas como Estados Unidos e
Japão têm mantido o custo do crédito em praticamente zero,
enquanto ainda enfrentam os efeitos da crise global.

"Enquanto nós tivermos todas essas deformações --ausência
de poupança fiscal, reservas constituídas com aumento de dívida
e uma taxa de juros inadequada-- não vejo como o real vai se
transformar numa moeda conversível."

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e
sócio-diretor da Tendências Consultoria, pondera que as
recentes medidas têm caráter de curto prazo e a
conversibilidade é algo a ser almejado no longo prazo.

Mas se a intervenção do governo no câmbio "for feita de uma
maneira turbulenta, de uma maneira que leve os investidores a
achar que o risco daquela moeda aumentou por força de
interferências do governo, eu acho que sim, pode afetar."

O afastamento dos investidores estrangeiros é o risco
apontado por Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados
emergentes nas Américas da Nomura Securities. "Sem a poupança
externa, a economia brasileira crescerá menos, com juros e
inflação maiores", avaliou. "O governo não pode 'perder a
guerra' do crescimento para 'ganhar a batalha' do câmbio".

Procurado, o Banco Central afirmou por meio de sua
assessoria de imprensa que não antecipa análises ou decisões. O
Ministério da Fazenda informou que não comenta o assunto.

MERCADO OFFSHORE VÊ OPORTUNIDADE

O atrito causado pelas recentes medidas gera, por outro
lado, uma oportunidade para o fortalecimento do mercado de NDFs
--derivativos usados por estrangeiros para operar o real no
mercado externo, sem precisar ingressar com dólares no país.

De acordo com Flavia Cattan-Nauslausky, do RBS Securities,
"o efeito colateral do IOF tem sido a ampliação do spread entre
o mercado local (onshore) e externo (offshore)."

Anna Didier, diretora de operações com NDFs da Icap, disse
que o real é a quarta moeda mais negociada por esse mecanismo,
atrás de Coreia do Sul, China e Taiwan. Segundo ela, o volume
de transações com NDFs em reais cresceu de 20 a 30 por cento na
semana passada.

Com o objetivo de manter o apetite dos estrangeiros por
reais, o Tesouro deve fazer de duas a três emissões de bônus em
moeda local no mercado externo ainda este ano, afirmou o
secretário Arno Augustin em entrevista à Reuters.

(Reportagem adicional de Ana Nicolaci da Costa; Edição de
Daniela Machado)

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