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ANÁLISE-Com compulsório no câmbio, BC encarece arbitragem

Compulsório em posição cambial desestimula "carry trade" Bancos devem vender menos dólares ao BC em leilões Mercado aguarda ainda mais medidas no câmbio Por Silvio Cascione SÃO PAULO, 6 de janeiro (Reuters) - A imposição de um depósito compulsório sobre a posição vendida dos bancos em dólares deve encarecer operações de arbitragem com taxas de […]

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Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2011 às 14h04.

  • Mercado aguarda ainda mais medidas no câmbio

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    Por Silvio Cascione

    SÃO PAULO, 6 de janeiro (Reuters) - A imposição de um
    depósito compulsório sobre a posição vendida dos bancos em
    dólares deve encarecer operações de arbitragem com taxas de
    juros no Brasil, reduzindo uma das principais fontes de
    capitais de curto prazo para o país.

    A taxa de juros locais em dólares, chamada de cupom
    cambial, já sinaliza uma mudança nas condições para a tomada de
    empréstimos na moeda norte-americana. O contrato FRA (forward
    rate agreement) com vencimento mais curto chegou ao
    maior nível desde dezembro de 2008 pela manhã, e às 14h58 subia
    a 2,60 por cento na BM&FBovespa.

    Nas operações de arbitragem, os investidores acessam linhas
    de crédito no exterior, que cobram juros de padrão
    internacional, e trazem os recursos para o Brasil com o
    objetivo de investir nas altas taxas locais.

    Os dólares envolvidos na operação eram vendidos ao Banco
    Central dentro dos leilões diários da instituição. Ao todo, o
    BC comprou 41,417 bilhões de dólares em 2010, quase o dobro do
    montante adquirido no ano anterior. [ID:nN05267428]

    "A medida de hoje pretende desencorajar as operações de
    'carry trade' pelas instituições financeiras", afirmou em
    relatório o analista Paulo Leme, do Goldman Sachs, sobre a
    estratégia de lucrar com a diferença entre os juros locais e
    internacionais.

    Segundo o Banco Central, os bancos deverão depositar 60 por
    cento da posição vendida que exceder o patrimônio de referência
    da instituição ou o valor de 3 bilhões de dólares --o que for
    menor. A medida vale a partir de abril. [ID:nN06104553]

    De acordo com o operador de cupom cambial em uma corretora
    em São Paulo, que preferiu não ser identificado, a decisão
    oferece um contraponto ao esperado aumento dos juros no país
    para os próximos meses, que tornaria ainda mais rentável a
    arbitragem com os juros locais. "Vai ter que subir muito o juro
    para compensar todo esse custo a mais de venda."

    A taxa de juros atualmente é de 10,75 por cento ao ano no
    Brasil. Nos Estados Unidos, que ainda luta para sustentar uma
    recuperação econômica sólida após a crise, ela oscila entre uma
    faixa de zero a 0,25 por cento ao ano.

    A medida também pode ajudar a diminuir o apetite pela venda
    de mais dólares. "Com o novo compulsório, os bancos locais
    devem ter menos incentivos para internalizar recursos e
    repassar dólares ao BC nos leilões", escreveu o analista
    Marcelo Salomon, do banco inglês Barclays, em nota.

    No final de 2010, a posição vendida dos bancos atingiu o
    maior nível da série histórica iniciada em 1994, com 16,784
    bilhões de dólares. Parte desse montante estava protegida com
    posições compradas no mercado futuro.

    QUAL SERÁ A PRÓXIMA?

    A medida anunciada nesta manhã faz parte de uma série de
    tentativas do governo de encarecer o investimento de curto
    prazo em dólar, considerado especulativo e mais suscetível ao
    cenário externo.

    Antes, o alvo eram os estrangeiros, com aumento do imposto
    sobre a entrada de recursos para aplicações em renda fixa.
    Dessa vez, insituições locais também são diretamente afetadas.

    "Não podemos descartar medidas adicionais se o dólar não
    subir mais significativamente (e o nível depende do que está na
    cabeça das autoridades). Estamos confortáveis com nossa posição
    comprada em dólares, já que a questão agora é 'o que virá em
    seguida", afirmou Diego Donadio, do BNP Paribas, que prevê taxa
    de câmbio a 1,70 real no curto prazo.

    Nesta quinta-feira, o dólar era cotado a 1,688 real,
    longe do patamar de 1,65 real alcançado na segunda-feira --o
    menor desde setembro de 2008. No dia seguinte, o ministro da
    Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a atual taxa de câmbio
    prejudica as exportações e preocupa o governo.

    (Reportagem de Silvio Cascione; Edição de Alexandre Caverni
    e Aluísio Alves)

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