A opinião de 10 analistas para as ações da Brasil Foods
Impasse sobre fusão assusta o mercado e desafia os especialistas
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2011 às 06h12.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h33.
São Paulo – As ações da Brasil Foods ( BRFS3 ) tombaram 9,3% em apenas dois dias com as incertezas sobre a concretização da fusão entre a Sadia e a Perdigão. A relatoria do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) pediu ontem a reprovação total da operação. O relator do caso, Carlos Ragazzo, se mostrou contra a operação apontando diversos fatores negativos da união das duas companhias. Entre eles, o aumento dos preços dos produtos e a concentração excessiva em alguns segmentos, como o de margarina e carne In natura. A notícia pegou de surpresa o mercado, que ainda não precificava tal cenário nos papéis. A ação ordinária foi a segunda mais negociada da bolsa brasileira na quinta-feira, com 13.979 operações. O volume financeiro alcançou 463, 83 milhões de reais. Assim como os investidores, os analistas foram desafiados a projetar cenários para quem possui os papéis e aguarda a retomada do julgamento no próximo dia 15 de junho, já que um dos conselheiros pediu mais tempo para ler o relatório de Ragazzo. EXAME.com colheu as opiniões de 10 analistas, cujas recomendações variam desde a indicação de venda dos papéis, até para quem sugira a compra das ações após a recente forte desvalorização. Confira as análises nas próximas páginas:
Para o analista da Fator, Renato Prado, o atual patamar das ações da Brasil Foods sugere que o mercado já considera a pior das hipóteses para a empresa, “com a venda dos ativos de Sadia e ainda avalia os ativos remanescentes de forma muito conservadora, além de não considerar qualquer tipo de sinergia”, explica. Segundo ele, até que ocorra uma decisão final do Cade, a recomendação de compra está mantida, com um preço-alvo de 33,60 reais para dezembro de 2011. Prado analisa que, considerado um modelo de avaliação bastante conservador ”que se refira somente às operações de Perdigão”, o valor justo da Brasil Foods (R$8,4 bilhões de Sadia mais R$18,9 bilhões referente somente às operações de Perdigão) “está muito próximo ao valor de empresa atualmente negociado”, afirma. “Acho que a ação está até barata porque precisa dar tudo errado. Já vale entrar no papel”, disse em entrevista para EXAME.com.
O Itaú BBA manteve a recomendação de desempenho acima da média e um preço-alvo de 29,7 reais para a empresa. Apesar disso, afirma que a ação não estava precificando tal cenário e, portanto, ainda há potencial de uma nova queda até que a “visibilidade seja resgatada”, explica Juliana Rozenbaum. “Mesmo com a nossa leitura negativa, continuamos a acreditar que o acordo tem chance de ser aprovado, mas com restrições significantes que incluem a venda de marcas (exceto a Sadia e a Perdigão), venda/locação de capacidades e a abertura da rede de distribuição e logística para os concorrentes”, analisa.
O banco Santander colocou o preço-alvo e a recomendação para os papéis da empresa em revisão, mostra relatório publicado hoje. “Considerando que o anúncio de ontem recomenda a desintegração total da Sadia com a Perdigão, envolvendo as marcas, assim como exportações. Neste cenário, não há sinergias entre a Sadia e a Perdigão, pois as duas companhias seriam mantidas separadas”, mostra relatório assinado por Gabriel Vaz de Lima e Luis Miranda Os analista lembram, contudo, que ainda existem outras saídas. “A Brasil Foods pode ainda negociar com outros membros do Cade e propor uma nova solução e a pode apelar para as cortes federais. Até agora, o advogado geral federal ainda não definiu uma decisão sobre o caso”, afirmam
A Empiricus não recomendava a compra da Brasil Foods porque considerava que o mercado subestimava o risco de o Cade não aprovar a fusão. Agora, apesar da queda recente, ainda não vê uma oportunidade de compra dos papéis. “Ainda é hora de pressão porque é um fogo cruzado até o dia 15, com muitos ruídos atuando sobre o papel e, por isso, não é a hora de entrar porque pode cair um pouco mais”, afirma Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research. Ele projeta três cenários: o de grande probabilidade é de aprovação com restrições, mas não muito grandes. Seria o melhor dos mundos da empresa. A segunda possibilidade é levar para a Justiça e ficar sempre em um impasse. Isso seria bom porque a empresa já está integrada, mas sem algumas sinergias. O terceiro cenário é o caso de vender uma das marcas grandes. E isso vai depender dos termos da venda, o que pode ser bom ou ruim. Se for muito rápida, pode ser negativa. Mas se for um pedido de venda com um tempo prolongado pode ser interessante.
Para Ribas, a sinalização de que a operação deve ser vetada pelo Cade é bastante prejudicial para a Brasil Foods. Segundo ele, o relator precisaria considerar que caso a Sadia não tivesse sido resgatada pela Perdigão, entraria em estado de insolvência. “Quanto ao mercado doméstico discordamos da possibilidade de que haja ausência de concorrentes no futuro dada a atratividade do mercado”, afirma.
Mesmo assim, apesar de ter uma visão contrária à do Cade, “neste momento é grande a chance de ser vetada a fusão de Perdigão e Sadia e caso seja oficializada a desaprovação teremos que realizar uma reavaliação do negócio para definir um novo preço alvo”, ressalta.
Para o Citi, o relator acredita que seria muito difícil a entrada de um terceiro participante em alguns segmentos de negócio como produtos refrigerados e congelados de carne. “Acreditamos que ele sustentou os argumentos baseado nos estudos da SEAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico) e suportando os argumentos com o que parecem ser dados muito bem fundamentados”, afirma Albano. “A análise do Sr. Ragazzo parece bastante negativa para a criação da Brasil Foods”, explica. O relatório do Citi foi produzido durante o julgamento. A recomendação é de manutenção, com um preço-alvo de 32 reais.
O analista da SLW Corretora acredita que o teor das declarações do relator do caso, Carlos Ragazzo, foi bastante negativo, o que indica a possibilidade de uma reprovação total do negócio. “Caso isso ocorra, a Cia deve recorrer à justiça e as ações podem mudar de patamar de negociação. Portanto, estamos recomendando ficar de fora do papel enquanto não conhecermos a decisão final do Cade”, diz. A recomendação é de venda das ações. O preço-alvo está em revisão.
Para o Credit Suisse, as declarações do relator deterioram as expectativas do mercado em relação à uma aprovação do acordo, com uma alta probabilidade de a Brasil Foods ser forçada a levar o assunto para a Justiça, “o que em nossa visão deve pesar sobre as ações no curto prazo”. A recomendação foi mantida em neutra, com um preço-alvo de 34 reais. Os analistas ainda consideram o cenário base, com uma probabilidade de 40% para a aprovação da fusão, porém com restrições. “Entretanto, acreditamos que o mercado não precifica adequadamente os preços na balança de risco/retorno sobre as possíveis conclusões. Também atribuímos 30% de probabilidade de o assunto ser levado à Justiça”, dizem.
Para o analista da Link Investimentos, o fato de o julgamento ter sido adiado por uma semana pode ser favorável para a Brasil Foods, “uma vez que, com um pouco mais de tempo para análise, os conselheiros podem formar opiniões diferentes da do relator”, explica Rafael Cintra. “De qualquer forma, o cenário de aprovação sem restrição, que era esperado até algum tempo atrás, já não existe mais. Ainda existe chance de a fusão ser aprovada, mas as restrições impostas deverão ser significativas. E até o próximo julgamento, que deverá ocorrer no dia 15/06, as ações da empresa devem ser pressionadas”, afrima. A recomendação de desempenho em linha com a média está mantido.
Para o banco, é razoável assumir que a empresa continue a operar como hoje nos próximos anos, caso decida recorrer da decisão do Cade na Justiça. Segundo eles, contudo, a decisão de separação das operações da Sadia com a Perdigão pode levar os papéis para o patamar de 22,50 reais. A recomendação foi reduzida de compra para neutra. O preço-alvo caiu de R$ 36,00 para R$ 29,00.
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