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A difícil equação do dólar

Num período de dólar em baixa, a administradora de recursos do Banco do Brasil mudou sua estratégia e conquistou, de novo, o prêmio de melhor gestora

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h10.

O comportamento do dólar nos 12 meses terminados em 30 de junho -- antes das recentes turbulências no mercado financeiro, portanto -- foi de uma regularidade surpreendente. A moeda americana perdeu valor sistematicamente em relação ao real. As causas são bem conhecidas: o superávit da balança comercial, estimado em 40 bilhões de dólares para 2007, e os pesados investimentos que os estrangeiros realizaram no mercado brasileiro ao longo do primeiro semestre do ano. Por causa da tendência de queda do dólar, gerir carteiras de fundos cambiais -- aqueles que dedicam pelo menos 80% de seu patrimônio a títulos corrigidos pelo dólar -- foi uma tarefa difícil. Os gestores tiveram de enfrentar ainda uma complicação adicional: o gradual desaparecimento dos títulos vinculados à moeda americana. Em junho de 2007, segundo o mais recente relatório do Tesouro Nacional à disposição dos investidores, os papéis corrigidos pelo dólar representavam apenas 0,12% do total da dívida pública, e não há novas emissões previstas. É intenção declarada do Tesouro Nacional reduzir a zero a dívida pública dolarizada para evitar o impacto das oscilações cambiais sobre as contas nacionais.

Por tudo isso, o desempenho financeiro nesse segmento tem sido sofrível. Todas as carteiras analisadas neste guia, sem exceção, fizeram seus cotistas perder dinheiro: 6,7% de prejuízo em média. Se o cálculo de desempenho for feito não em reais, mas em dólares, ainda assim o resultado, um modesto ganho de 3,6%, não é nada brilhante. "Para lidar com uma situação difícil, tivemos de usar todas as possibilidades do mercado à nossa disposição", diz Marcelo Marques Pacheco, gestor da BB DTVM, empresa de administração de recursos do Banco do Brasil que obteve o prêmio de melhor gestora de fundos cambiais nesta edição do Guia EXAME de Investimentos Pessoais, repetindo a premiação recebida na edição de 2006. Na ponta do lápis, os três fundos cambiais geridos pela BB DTVM renderam apenas 3,2% em dólares. Embora não tenha sido a melhor remuneração do mercado, o que valeu o prêmio foi uma menor exposição ao risco na busca desse desempenho.

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Qual é o seu caso?
Mesmo com a queda do dólar registrada nos últimos quatro anos, os fundos cambiais não perderam sua função clássica, que é fornecer proteção aos investidores individuais e às empresas com obrigações em dólar. Portanto, para quem tem contas a pagar na moeda americana, os fundos podem fazer o papel de uma âncora que evita enjôos nos eventuais altos e baixos. De acordo com os especialistas ouvidos pelo guia, a recente valorização do dólar, causada pela atual crise nos mercados financeiros, é passageira.

A estratégia da BB DTVM foi baseada em uma boa leitura da economia brasileira. "Investimos bastante no desenvolvimento de ferramentas de análise e modelos de tomada de decisão", diz Alberto Monteiro de Queiroz Netto, presidente da empresa. Graças a isso, os analistas perceberam logo no início do ano que a economia surpreenderia positivamente e que o capital financeiro internacional entraria aos borbotões no Brasil, pelo menos no primeiro semestre. "Isso nos permitiu estar bem posicionados quando o dólar começou a cair fortemente", diz Queiroz Netto. Para ganhar com esse prognóstico, os gestores tiveram de alterar sua atuação no dia-a-dia do mercado. Em vez de comprar títulos da dívida pública indexados ao dólar, eles foram ativos participantes do mercado de derivativos cambiais. "Apostamos pesadamente na queda da moeda usando contratos futuros e opções", diz Pacheco.

A projeção para o próximo ano, que prevê a queda da moeda americana, não foi alterada nem mesmo com a recente alta registrada na cotação do dólar a partir de julho. Não há no horizonte nenhum sinal de que a vida dos gestores de fundos cambiais vá ficar mais fácil.

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