Como a Selic e a inflação podem afetar o seu bolso em 2021
Expectativa do mercado é de alta ao longo do ano; entenda a influência desses indicadores nos investimentos e como diversificar a carteira
Vanessa Daraya
Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 15h12.
Última atualização em 6 de outubro de 2021 às 19h14.
Se 2020 foi um ano marcado por uma sequência de quedas na taxa Selic, o cenário tende a mudar em 2021. Segundo o Boletim Focus, a expectativa do mercado é que a taxa básica de juro da economia saia dos 2% ao ano ao longo dos próximos meses, atingindo os 3% em dezembro de 2021. O movimento deve acontecer para acompanhar a inflação, prevista para ficar em 3,32%.
Mas o que tanto a Selic quanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação, têm a ver com os seus investimentos em 2021? Antes de mais nada, é importante entender o que cada um desses índices significa.
Como a Selic afeta a minha vida?
Ela influencia toda a economia, pois funciona como uma referência para os juros pagos pelos bancos, que a utilizam para definir o custo do dinheiro por meio do CDI. O Certificado de Depósito Interbancário, por sua vez, é o principal benchmark dos ativos de renda fixa, como CDBs e fundos dessa categoria.
A Selic também influencia o juro cobrado em empréstimos para clientes e empresas, ainda que estes sejam mais elevados. A taxa é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Se o governo quer movimentar a economia, por exemplo, ele reduz a taxa. Com juros menores, o custo de fazer um empréstimo é mais baixo, o que incentiva o consumo.
A inflação ao consumidor, por sua vez, é calculada mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estabelece o IPCA. Se o governo percebe um aumento nesse indicador e expectativas de alta para o futuro, ele pode subir a taxa básica de juro para restringir a demanda e trazer os preços para baixo.
De maneira geral, ambas estão ligadas a quanto você gasta no supermercado, quanto paga de juros em um financiamento e qual a rentabilidade dos investimentos.
Alta na Selic e na inflação: bom ou ruim?
Muitas pessoas associam a alta nos preços à hiperinflação, fenômeno comum no Brasil nos anos 1980, com grande perda de poder aquisitivo rapidamente. “A inflação de hoje está em níveis baixos historicamente, ainda dentro da meta”, explica Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual digital . “O crescimento controlado é um sinal positivo. Indica que a economia está aquecida, em níveis saudáveis de velocidade.”
Zanlorenzi diz que a alta na Selic nem sempre é ruim para os investimentos. De fato, ela aumenta os rendimentos na renda fixa. Quanto mais altos forem os indicadores de Selic, mais o dinheiro pode render em títulos atrelados a eles. E isso pode tornar os investimentos em renda variável, como ações, menos atraentes.
Mas isso não significa que a bolsa vai cair ou que é melhor parar de investir em ações. “É preciso analisar o momento. Se a Selic subir para conter a inflação, é um sinal positivo para os ativos. Se ela subir para conter a desvalorização do câmbio ou por risco fiscal, aí sim vai ter impacto nos investimentos”, afirma.
Apesar de ser importante sempre analisar esses indicadores para entender onde investir o dinheiro, vale ressaltar que as variações na Selic não são motivo para mudar a reserva de emergência de lugar. “O investidor não pode imaginar que vai ter ganho de capital ou ficar insatisfeito com a rentabilidade desse ativo porque ele tem uma função específica, que é não ter volatilidade e ter liquidez”, explica.
Afinal, onde investir em 2021?
O relatório 10 investimentos para fazer agora , do BTG Pactual digital, destaca que, por mais que os juros possam voltar a subir, ainda estaremos longe da era de ouro da renda fixa no Brasil. Mesmo com a Selic em 3% ao ano, o investidor que busca uma rentabilidade expressiva precisa sofisticar suas aplicações, pensando no longo prazo para ter uma carteira diversificada e balanceada, com parte de seus recursos alocada na renda variável. “Você pode ter mais ações ou mais ativos em renda fixa, mas nunca tudo em uma só posição”, diz Zanlorenzi.
Se você ainda não tem muito apetite ao risco, a dica é iniciar a transição de forma gradual, sempre baseando suas decisões em opiniões de especialistas. Nesse caso, vale apostar em fundos imobiliários (FIIs), como indicam Zanlorenzi e o próprio relatório do BTG.
Eles são negociados na bolsa e funcionam como ações, mas o aporte ocorre em fundos que investem em imóveis, em vez de empresas. Ou seja, qualquer pessoa pode investir indiretamente em um imóvel, tendo uma participação em grandes empreendimentos de qualidade e com gestão profissional.
“É uma boa experiência para o investidor ter o primeiro contato com a volatilidade, que existe, mas é menor do que no mercado de ações”, explica Zanlorenzi. Os fundos imobiliários também protegem da inflação porque a maioria dos contratos de aluguel é reajustada pelo IGP-M (outro índice de inflação) ou IPCA.
Além disso, os FIIs costumam distribuir mensalmente os dividendos dos aluguéis, isentos de imposto de renda. Apenas as vendas das contas com lucro são taxadas em 20%, podendo ainda incidir taxas de administração e corretagem — que não são cobradas para quem opera pelo BTG. Portanto, são uma boa opção para quem entende a necessidade de arriscar, mas com menos volatilidade e mais liquidez, já que é possível vender rápido esses ativos quando preferir.