As apostas do fundo quant com 70% de retorno na pandemia
Gestora gaúcha Seival, de Arthur Johannpeter e Carlos Groehs Chaves, se destaca com um dos multimercados com desempenho mais consistente na última década
Marcelo Sakate
Publicado em 28 de novembro de 2021 às 10h33.
Última atualização em 29 de novembro de 2021 às 17h08.
A virada do mercado brasileiro nos últimos meses, com aumento da volatilidade e queda da bolsa local, tem se mostrado um desafio para os gestores . Na classe dos multimercados , muitos fundos passaram a amargar perdas. Um dos fundos mais resilientes, e quando se olha não apenas a fotografia dos últimos meses ou dos quase dois anos de pandemia mas também o longo prazo, tem sido o multimercado da Seival, uma gestora fora do eixo Rio-São Paulo.
Desde o começo da pandemia em fevereiro de 2020 até o mês fechado de outubro passado, o retorno aproximado do Seival FGS Agressivo foi de 70%. Neste ano, em meio à forte volatilidade e desvalorização da bolsa brasileira, o fundo teve retorno perto de 15% até o fim de outubro, enquanto o CDI do período ficou em 3%.
A Seival foi fundada em 2007 por Arthur Johannpeter e Carlos Groehs Chaves como uma gestora de fundos quantitativos, uma das pioneiras no mercado brasileiro. Johannpeter, que havia trabalhado dez anos na divisão financeira do Grupo Gerdau, de sua família, e Chaves, que havia sido executivo da Microsoft, atuaram em conjunto no desenvolvimento de sistemas automáticos de negociação computadorizada desde o início dos anos 2000.
A gestora opera contratos futuros para montar posições em quatro classes de ativos: moedas globais, taxas de juros globais, índices de ações globais e commodities.
“Somos completamente agnósticos. Não sabemos o que vai acontecer. Não existe nenhuma construção de cenário. Observamos o movimento de preço através dos algoritmos e, a partir da persistência desse movimento, os modelos apontam uma tendência e nós a seguimos até que ela termine”, explicou Carlos Groehs Chaves à EXAME Invest.
O algoritmo identifica diariamente divergências do movimento de preço de determinado ativo em relação à média recente.
É diretriz errar rápido, saindo com pequenas perdas e preservando o capital. Na outra ponta, se a gestora encontra tendência de alta ou de baixa que se confirme com força, mantém a posição até que a tendência seja revertida.
“Montamos posições com o stop pré-determinado. Perdemos em dois terços das operações, mas perdemos pouco. Mas, quando temos uma operação que anda muito a nosso favor, pagamos as pequenas perdas e trazemos ganhos para o fundo”, explicou Chaves.
No cenário atual, em que o mercado aguarda o aumento da taxa de juros pelos bancos centrais, o fundo tem posições compradas em juros nos Estados Unidos e em dólar em diferentes mercados, apostando no fortalecimento da moeda americana (posições montadas antes das notícias sobre a nova variante do coronavírus, a Omicron).
No Brasil, o fundo está comprado em dólar contra o real e em DI (juro) e short no Ibovespa, posição carregada desde que o índice bateu nos 120 mil pontos.
“O portfólio é dinâmico: observamos os preços e vamos montando e desmontando posições, tanto long e short, de acordo com o que o mercado nos mostra.” Por outro lado, se a tendência se sustenta, o fundo pode ficar até seis ou mais meses com a mesma posição em determinado ativo e mercado.
Short em Ibov no começo da pandemia
Em fevereiro do ano passado, a Seival estava comprada em índices de ações globais. Quando chegou a pandemia, os modelos zeraram as posições e a gestora ficou short (vendida). Em março, quando o Ibovespa caiu 30%, o fundo teve alta de 20%.
A gestora também obteve retornos importantes em commodities no primeiro semestre, que sofreram quedas importantes no preço, como petróleo – cujo contrato futuro chegou a ficar negativo – , cobre e alguns produtos agrícolas.
Chaves lembra que no início de 2020, algumas semanas antes da pandemia, algoritmos apontaram que era momento de ficar comprado em dólar no Brasil quando a cotação estava em 4,20 reais. “Falei para o trader: ‘vamos ser ‘stopados’. E o dólar chegou a quase 6 reais poucos meses depois. O mercado é soberano.”
“Capturamos tendências bem definidas no primeiro semestre do ano passado e outras tendências bem definidas no segundo, que se perpetuaram até meados do primeiro deste ano, nas quatro classes de ativos”, contou o gestor. O ponto de inflexão para a mudança de tendências em 2020, segundo ele, foi a atuação mais assertiva do Fed, o banco central americano, com suas políticas de estímulo à economia.
O desempenho destacado desde o início de 2020 não foi exceção quando se olha o longo prazo.
O fundo da Seival ficou recentemente em décimo lugar em um ranking de multimercados de gestoras independentes da última década pelo critério de retorno ajustado ao risco da Morningstar, elaborado para a Invest News. Ficou atrás apenas de fundos de casas como Verde Asset, JGP e BTG Asset, entre outras. Entregou um retorno de 310% no período.
Chaves explicou que, na ausência de tendências mais evidentes de preços dos ativos, o fundo não consegue extrair retorno dos mercados. No ano anterior à pandemia, o fundo teve retorno negativo de 5%, enquanto o CDI rendeu 6%.
Há, portanto, períodos às vezes extensos em que o fundo anda de lado em rentabilidade ou tem pequenas perdas, mas, segundo ele, a ocorrência de eventos que impactam o mercado para cima ou para baixo permite capturar ganhos elevados em curto espaço de tempo.
Uma consequência da estratégia é a volatilidade das cotas. “Para o fundo buscar efeito de cauda, a nossa cota tem que ser volátil. É de cerca de 15% anualizada, acima de coirmãos quantitativos e muito acima dos demais multimercados”, afirmou. Ele deu o exemplo do que aconteceu em março de 2020, quando a bolsa teve seis circuit breakers, mas dias em que subiu 3% ou 4%, até encerrar o mês com a queda de 30%.
Visão de longo prazo
O gestor faz questão de ressaltar que o fundo não é voltado para todos os perfis de investidores. “É um produto agressivo, voltado para o investidor com visão de longo prazo, de pelo menos cinco anos. Deixamos claro que não queremos o ‘degustador’ de cota”, definiu.
A correlação histórica do fundo é negativa em 0,23 com o Ibovespa. Ou seja, quando o índice de referência da bolsa brasileira cai, o fundo em geral costuma subir.
“É uma estratégia que ajuda na diversificação de portfólio e a deixá-lo mais equilibrado e robusto”, sustentou.
O gestor disse perceber um entendimento maior do investidor em relação à estratégia do fundo e de outros quantitativos em geral. “Sofremos muito no início para explicar a estratégia para o investidor. Ele nos perguntava: ‘mas como o robozinho vai adivinhar quando o Fed vai subir os juros?’. E a pergunta correta era ‘como o fundo consegue identificar tendência rapidamente e se adaptar ao movimento de preço?’.
“Em 2015, tivemos destaque na mídia e uma entrada grande de investidores que ficaram pouco tempo e saíram. Mas, nos últimos anos, o investidor entra e fica mais tempo, entende a importância de um fundo como o nosso para o portfólio e que precisamos de uma oportunidade de tendência para performar.”
O fundo está aberto para o público em geral, o que inclui o investidor de varejo, com distribuição nas principais corretoras do mercado. A aplicação mínima é de 5.000 reais, com taxa de administração de 2% ao ano e taxa de performance de 20% sobre o que exceder o CDI.