Alexandre Duarte, VP de Consultoria e Treinamentos para a América Latina na Red Hat (Red Hat/Divulgação)
Diversidade, equidade e inclusão se tornaram palavras recorrentes nos discursos das empresas. Embora o interesse nos temas já permeasse o meio corporativo, novos fatores alavancaram essa tendência. Importantes movimentos sociais, como o Black Lives Matter, iniciado nos Estados Unidos, e o crescimento da atenção às práticas ESG (sigla em inglês que resume o compromisso das companhias com causas ambientais, sociais e de governança corporativa), jogaram luz sobre a necessidade de ampliar o conhecimento e as ações focadas na construção de uma verdadeira cultura de igualdade.
Mais do que iniciativas para preencher números ou alavancar resultados – de acordo com um estudo feito pela McKinsey, empresas que investem em diversidade têm 21% mais chances de ter lucro acima da média –, a cultura de igualdade cria um ambiente empoderador, no qual todos têm voz, liberdade e possibilidade de contribuir. As pessoas são valorizadas por suas diferenças e estimuladas a ser exatamente quem são, dividindo ideias e pensamentos que possam apoiar a busca das melhores soluções e do tão sonhado processo de inovação contínua. De acordo com a Accenture, uma cultura de igualdade é um poderoso multiplicador de inovação e crescimento, já que diminui barreiras, minimiza o medo de falhas e aguça a criatividade individual e coletiva.
As bases para desenvolvimento e implementação de uma cultura de igualdade eficaz também são pilares de uma gestão aberta e colaborativa. Estão intrinsicamente ligadas ao desenvolvimento de líderes que atuem como peças fundamentais na mudança de comportamentos, na construção de novos valores e na disseminação de atitudes que promovam a diversidade, a equidade e a inclusão em todos os níveis das organizações.
Um dos principais entraves para o desenvolvimento de uma cultura de igualdade hoje está justamente na liderança. Estudo plurianual da PwC que investiga os programas de diversidade e inclusão das empresas apontou que 79% do engajamento da liderança em D&I permanece nos níveis básico ou emergente. Mudar esse cenário é um desafio urgente, se as empresas quiserem estar preparadas para o futuro.
Pesquisa realizada pela Accenture avaliou o impacto dos conceitos de diversidade e inclusão na tomada de decisão de consumidores. No geral, 42% dos entrevistados afirmaram que pagariam um adicional de 5% ou mais para comprar produtos e serviços de empresas engajadas com inclusão e diversidade. Não à toa, grandes marcas dos mais variados segmentos já anunciaram seu comprometimento com os assuntos, e têm trabalhado para reconstruir suas lideranças e preparar melhor sua gestão com foco na diversidade e inclusão.
Em um mundo em constante transformação, os quatro maiores desafios para os líderes do amanhã, segundo um report publicado pela Deloitte, envolvem a coordenação da diversidade de mercados, clientes, ideias e talentos. Um contexto que impulsiona a gestão da inclusão como uma nova competência fundamental para as lideranças. Os gestores precisam estar aptos a não apenas abraçar as diferenças individuais, mas a potencializá-las para gerar engajamento, inovação, vantagem competitiva e crescimentos sustentável.
O primeiro passo para uma liderança propositiva e inclusiva está na mudança de comportamento dos gestores. Saem de cena os modelos tradicionais de hierarquização e ganham destaque os conceitos de líder servidor, conciliador, disposto a ouvir e aprender continuamente. No universo das práticas de gestão aberta, surge a figura dos open leaders, profissionais que inspiram e incitam seus colaboradores a trabalhar em cooperação, norteados pela junção de paixão pessoal com propósitos aspiracionais, criando contexto que possibilite o sucesso individual e coletivo.
Os open leaders sabem compor, reconhecer e recompensar suas equipes, investindo constantemente no desenvolvimento pessoal e profissional de cada colaborador. Embora ainda estejam no comando, esses gestores "não estabelecem a lei". Em vez disso, tomam decisões com base em uma consideração cuidadosa de suas próprias ideias e das de outras pessoas. Estamos falando de gerenciamento participativo, no qual cada integrante do time assume um papel mais ativo, equilibrando liberdade e responsabilidade nas atividades e nas tomadas de decisões do dia a dia.
Essa gestão humana e inclusiva é uma das tendências que aparece na pesquisa “2021 Global and Regional Trends in Corporate Governance”, realizada por Russell Reynolds. O relatório destaca a crescente demanda por diversidade nos conselhos e no C-level das companhias, responsabilizando esses executivos pela gestão do capital humano, da cultura corporativa e pela divulgação dessas informações em todos os níveis das organizações.
Apoiados em uma gestão aberta, capaz de quebrar barreiras e aproximar as pessoas em todos os níveis da corporação, os líderes são a fronteira decisiva para ações de diversidade e inclusão verdadeiramente eficazes. São os responsáveis pelo fomento de uma cultura de igualdade genuína e compartilhada, que gere compreensão, participação e colaboração, conectando paixão individual a propósitos corporativos. Mesmo em um momento de intensa transformação digital, são a conexão humana e os laços de confiança exercitados no dia a dia o caminho para gerir pela inclusão, sem deixar ninguém para trás.
*Alexandre Duarte é VP de Consultoria e Treinamentos para a América Latina na Red Hat