Sede do BCE: banco ainda tem muito que avançar para convencer os mercados que seus planos serão eficazes (Krisztian Bocsi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2015 às 10h35.
Nicósia/Frankfurt - Ávido para manter-se discreto em relação à crise grega, o Banco Central Europeu (BCE) vai se focar nas perspectivas melhores de crescimento nesta quinta-feira e apresentar alguns detalhes, mas não todos, de seu plano de compra de bônus de mais de 1 trilhão de euros.
O BCE, que se reúne em Chipre e deixou inalteradas em mínimas recordes as taxas de juros, provavelmente elevará as projeções de crescimento para refletir uma série de dados positivos surpreendentes.
No entanto, o banco central pode reduzir as projeções de inflação conforme incorpora o efeito total da queda dos preços do petróleo, sustentando a decisão de comprar 60 bilhões de euros em bônus por mês a partir de março para alimentar a inflação.
Na reunião desta quinta-feira, o BCE deixou a taxa referencial de refinanciamento, que determina o custo do crédito na economia, em 0,05 por cento.
O BCE também manteve a taxa sobre depósitos em -0,20 por cento, o que significa que bancos precisam pagar para manter fundos no banco central, e manteve sua taxa de empréstimo em 0,30 por cento.
O banco ainda tem muito que avançar para convencer os mercados que seus planos serão eficazes.
Apenas metade dos economistas consultados pela Reuters acham que as compras de bônus vão ajudar a inflação a subir na direção da meta de perto mas abaixo de 2 por cento, e metade acredita que as compras serão prorrogadas para além de setembro de 2016.
O BCE tem dito que sua impressão de dinheiro vai durar "ao menos" até setembro de 2016 e até que surja um "ajuste sustentado" na trajetória de inflação.
Os mercados analisarão as projeções econômicas atualizadas da equipe do BCE com muito interesse.
"De uma perspectiva macroeconômica existem duas questões: em quanto eles revisarão para cima o crescimento no médio prazo. No entanto, a questão mais importante é em que nível a inflação é projetada em 2017", disse o economista do RBS Richard Barwell.
"O nível baixo que a inflação será projetada, ou não, vai ajudar ou atrapalhar (o presidente do BCE Mario) Draghi em deixar a porta aberta para acelerar ou alongar as compras de títulos", acrescentou Barwell.
"Se for 1,9 por cento em 2017, é mais difícil dizer 'há escopo aqui para fazer mais'".
Há pelo menos alguns primeiros sinais de que a inflação já chegou ao seu menor patamar.
A leitura de fevereiro de queda de 0,3 por cento nos preços ao consumidor foi melhor do que as expectativas, os preços do petróleo se recuperaram de mínimas em janeiro, o crescimento está acelerando e o euro atingiu nova mínima de 11 anos contra o dólar.
O BCE pode projetar deflação para 2015, cortando com força sua estimativa de inflação de 0,7 por cento de dezembro, mas alguns analistas disseram que o número pode acabar em território positivo, também se favorecendo das compras de bônus do BCE.
Detalhes
Os mercados vão querer saber como o 'quantitative easing' vai funcionar, quando as compras começarão, se elas se aplicam a papéis com rendimento negativo e como as compras serão distribuídas ao longo da curva de rendimento.
Outra preocupação é se o BCE encontrará títulos o suficiente para comprar uma vez que o mercado está inundado com dinheiro não investido enquanto bancos têm obrigação de deter ativos de alto nível, como dívidas de governos.
"As fortes compras do BCE vão começar numa época de oferta estagnada no mercado de títulos", disse o economista do SEB Thomas Kobel.
"Vemos algum risco de que o BCE pode não ser capaz de comprar títulos no ritmo mensal visado de 60 bilhões de euros".