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Universitários de elite estão recusando trabalhar nas principais empresas da França. O motivo? O clima

Nas escolas francesas, conhecidas pela ambição, e não pelo ativismo, os alunos estão pedindo que a mudança climática esteja no centro do currículo, e dizendo às empresas que os recrutam para mudar seus hábitos

Um aluno do segundo ano da Ecole PolytechniqueÊ trabalha o jardim para a associação de Desenvolvimento Sustentável no campus de Paris, 14 de janeiro de 2021. (Andrea Mantovani/The New York Times)

Um aluno do segundo ano da Ecole PolytechniqueÊ trabalha o jardim para a associação de Desenvolvimento Sustentável no campus de Paris, 14 de janeiro de 2021. (Andrea Mantovani/The New York Times)

O amplo campus da École Polytechnique, uma das melhores escolas de engenharia do mundo, há muito tempo é um ímã de grandes empresas industriais e energéticas francesas, ansiosas por atrair algumas das mentes mais brilhantes da França.

Assim, quando se anunciou no ano passado que a gigante de petróleo e gás Total estabeleceria um centro de pesquisa no campus, localizado a sudeste de Paris, tudo parecia natural.

Em vez disso, um alvoroço foi criado. Centenas de estudantes votaram contra o centro de pesquisa. Num momento em que engenheiros e cientistas deveriam estar liderando o caminho para um mundo mais sustentável, eles argumentaram, entre outras coisas, que o projeto deu influência indevida a uma empresa que continua sendo líder mundial em combustíveis fósseis.

"Acho perturbador ser influenciado pela Total, que tem uma visão bastante tendenciosa da transição energética", disse Benoit Halgand, de 22 anos, que está em seu último ano na escola. Ele acrescentou que a empresa "vai querer usar petróleo e gás por muitos anos".

Um porta-voz da Total respondeu por escrito que o grupo está visando à neutralidade de carbono até 2050 e que seu centro de pesquisa tem "o único objetivo de acelerar a inovação e a pesquisa de energias de baixo carbono".

O confronto na École Polytechnique foi apenas o mais recente dos ocorridos nos campi de elite da França, há muito vistos por estudantes ambiciosos como o caminho para o sucesso. Agora, os alunos alarmados com um planeta em aquecimento desafiam as corporações que os veem como potenciais futuros funcionários.

"Ao ir para a aula, para o trabalho, participamos de um mundo que denunciamos. A dissonância cognitiva é enorme", afirmou Caroline Mouille, estudante de Engenharia de 23 anos em Toulouse, no sul da França.

Frustrados pela disparidade entre o mundo com o qual sonham e o que lhes é oferecido, os alunos estão pressionando as universidades a colocar as mudanças climáticas e outras questões ambientais no centro de seu currículo. Algumas escolas tomaram medidas nesse sentido, mas os críticos garantem que ainda não é o suficiente.

O meio ambiente se tornou uma preocupação primária na França, país onde os protestos contra as mudanças climáticas atraíram milhares de adolescentes para as ruas em 2019 e onde o presidente Emmanuel Macron anunciou recentemente um referendo para adicionar a proteção ambiental à Constituição.

O crescente movimento ambientalista nas universidades mais prestigiadas da França, ou "Grandes Écoles", o tradicional campo de treinamento para executivos corporativos e altos funcionários públicos, tem profundas implicações para a próxima geração da elite do país. O conflito colocou os estudantes contra o consumismo e contra o que consideram ser a natureza lucrativa de algumas das maiores corporações francesas, incluindo a L'Oréal.

O ativismo estudantil das Grandes Écoles era raro no passado, por isso os pedidos de mudança surpreenderam muita gente, particularmente na École Polytechnique, que é supervisionada pelo Ministério da Defesa e onde os alunos, considerados membros das forças armadas, normalmente estão sujeitos à confidencialidade.

Halgand disse que as preocupações ambientais deram origem a uma nova crítica entre os jovens dos sistemas econômico e social de hoje. "No passado, entre os engenheiros, muitas vezes havia essa ideia de criar proezas técnicas. Hoje nos perguntamos: 'Por quê? Qual é o impacto ambiental e social por trás disso?'"

Em 2018, um "Manifesto para um despertar ecológico", escrito por alunos das melhores universidades, pediu a inclusão da "transição ecológica no centro do nosso projeto social" e coletou cerca de 30 mil assinaturas de alunos em apenas algumas semanas.

No cerne de suas reivindicações havia uma dura realidade: as questões ambientais ainda são pouco abordadas no ensino superior. Um estudo de 2019 do think tank The Shift Project mostrou que, em 34 universidades francesas, menos de um quarto dos cursos de graduação oferecia cursos sobre questões climáticas e energéticas, e a maioria deles não exigia a obrigatoriedade dessas aulas.

Uma enxurrada de cartas abertas de estudantes tem apelado às universidades para que estas repensem seu ensino de cima a baixo – muitas vezes em termos pouco generosos. "Nossa educação não integra questões ecológicas e sociais de modo suficiente, reduzindo-as, na melhor das hipóteses, a 'externalidades negativas', e, na pior das hipóteses, a oportunidades de marketing", diz uma carta recente assinada por cerca de dois mil alunos e ex-alunos da HEC Paris, uma das principais escolas de negócios da Europa.

Respondendo às demandas dos estudantes, algumas universidades começaram a revisar seu currículo. Um seminário obrigatório de três dias sobre mudanças climáticas para novos alunos foi introduzido na École Polytechnique há dois anos, e o Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon se comprometeu a revisar seu ensino e a incluir questões ambientais.

Matthieu Mazière, diretor de estudos da escola de engenharia Mines ParisTech, contou que seus estudantes têm desafiado o conteúdo dos cursos, além das viagens aéreas dos professores. "Eles nos forçam a nos questionarmos", afirmou ele.

Críticos, no entanto, apontam que o questionamento não foi longe o suficiente. Segundo Lise-Marie Dambrine, recém-formada em um instituto de estudos políticos, "a sensação é de que nós entendemos e eles, não".

Cécile Renouard, filósofa que leciona em várias universidades, disse que os cursos sobre meio ambiente no ensino superior "nem sempre são suficientemente radicais nem sistêmicos o bastante", acrescentando: "O desafio também é mostrar como o questionamento ecológico nos convida a revisitar todas as nossas matérias."

Em 2018, Renouard fundou o Campus de la Transition, instituição acadêmica alternativa na qual uma gama de disciplinas, da Economia ao Direito, é ensinada de uma perspectiva ambiental.

Ele atraiu cerca de 700 alunos para o campus, um castelo do século XVIII cerca de 65 quilômetros a sudeste do centro de Paris, cercado por jardins onde os alunos cultivam alho-poró e abóbora, que acabarão nas panelas da cantina.

O Campus de la Transition fez parceria com várias universidades para treinar alunos e publicou recentemente "O Grande Manual de Transição", encomendado pelo ministro do ensino superior da França, que trata da inclusão de questões ambientais e de justiça social no centro dos programas universitários.

Dambrine, de 23 anos, comentou que sua experiência no Campus de la Transition foi "um choque", dando a ela "o desejo de mudar as coisas".

Os alunos por trás do manifesto de 2018 formaram uma organização que regularmente desafia grandes empresas francesas, publicando relatórios que traçam suas pegadas ambientais, além de pedir a seus pares que não trabalhem para companhias que não se adaptam.

"As empresas estão fazendo tudo o que podem para nos recrutar. Portanto, quando dizemos a elas: 'Não vamos porque você está destruindo o planeta, e porque não apoiamos o sistema econômico em que você está inserida', isso as assusta", disse Halgand, aluno da École Polytechnique.

Essa abordagem encontrou resistência – o que não surpreende – tanto na academia quanto no mundo corporativo. Na École Polytechnique, depois do protesto estudantil, o local do centro de pesquisa da Total acabou sendo transferido – afastando-se 214 metros de sua localização original.

Há alguns meses, a organização estudantil publicou um relatório crítico sobre a gigante de cosméticos L'Oréal. Embora tenha reconhecido os esforços da empresa para "reduzir seu impacto no meio ambiente", também questionou "a própria utilidade de todas as atividades do grupo" – essencialmente denunciando o que os alunos viam como consumismo inútil.

Jean-Claude Legrand, vice-presidente executivo de recursos humanos da L'Oréal, declarou que a empresa saudou o movimento pela mudança ambiental e o enfatiza mais hoje. Mas, segundo ele, não há diálogo com estudantes que começam a "questionar o mundo dos negócios", desafiando a própria existência da empresa.

Philippe Drobinski, climatologista da École Polytechnique, afirmou que "uma análise crítica" da pegada ambiental das empresas era necessária, mas se opôs a uma compreensão sistemática de todas as questões através do prisma do meio ambiente. Apesar de suas reservas, ele elogiou o movimento estudantil: "Se queremos que as coisas mudem, é preciso que passem por ele."

 

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