Summit ESG: inclusão produtiva nas favelas como chave para desenvolvimento socioeconômico do país
A nomeação favela, pelo IBGE, representa a importância que a localidade deve tomar nas políticas públicas, tendo como consequência a inclusão socioeconômica das pessoas, como debatem Bruno Desiderio, líder social da Gerando Falcões, e Gabriela Valente, fundadora da Escola da Diarista, no Summit ESG
Repórter de ESG
Publicado em 11 de junho de 2024 às 14h41.
Última atualização em 11 de junho de 2024 às 14h59.
Neste ano, após uma consulta pública e debates com líderes de comunidades, o IBGE decidiu abandonar o termo “aglomerado subnormal” e passar a se referir às favelas pelo seu nome de fato. A nomeação favela representa a importância que a localidade deve tomar nas políticas públicas, tendo como consequência a inclusão socioeconômica das pessoas que moram nesses espaços urbanos, como debatem Bruno Desiderio, líder social da Gerando Falcões, e Gabriela Valente, empreendedora social e fundadora da Escola da Diarista, em painel durante o Summit ESG, no Mês ESG da Exame.
"A favela durante muito tempo foi tida como margem, mas é na verdade é uma potência. São mais de 114.000 favelas no Brasil e não podemos uma população desse tamanho sem inclusão produtiva", diz Bruno. Ele explica ainda que a Gerando Falcões trabalha para realizar a transferência de renda para os que mais precisam a partir de profissionalização e caminhos de fato inclusivos.
A Gerando Falcões tem iniciativas como AsMara, que a partir de um bazar, organiza sacolas com produtos diversos, que são distribuídas às vendedoras e comercializadas na vizinhança, de modo semelhante ao que fazem companhias como Boticário, Natura, Tupperware, etc. "Elas saem para vender e todo o lucro é compartilhado entre elas e a Gerando Falcões, que usa sua parte para colocar ainda mais mulheres no projeto", diz Bruno.
A importância da inclusão racial e de gênero é foco também de Gabriela Valente, diarista que viu a oportunidade de crescimento próprio com a profissionalização e novas técnicas de trabalho, assim como a chance de impulsionar outras diaristas a partir de uma escola que funciona de forma voluntária na Restinga, bairro periférico de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. "A Escola da Diarista vem para mostrar o valor do nosso trabalho, inclusive monetário, por meio da profissionalização e valorização das empreendedoras que moram nas periferias".
A Escola da Diarista já formou 75 mulheres. Gabriela também passou pela Escola de Negócios da Favela (ENF), empresa de educação que tem como parceiros a CUFA, na frente social, e a Fundação Dom Cabral, na frente educacional. A ENF oferece trilhas customizadas de conteúdo para moradores de favela acelerarem seus negócios.
Gabriela comentou ainda a atual situação no Rio Grande do Sul por conta das enchentes e seu movimento Ajuda a Diarista. "Muitas estão em abrigos e agora pensam em como voltar a trabalhar e reconstruir suas casas. O que venho fazendo [impulsionar as mulheres], ganhou um motivo ainda maior para mostrar que elas não estão sozinhas. A intenção é gerar impacto nas famílias e movimentar a economia, como o estado precisa para se reerguer nesse momento".
Outro ponto relevante para ambos é que as pessoas percebam de fato as necessidades de quem está na favela. "Não basta dar qualquer doação ou fazer um projeto que não têm o impacto necessário naquele local", explica Bruno. A intenção é sair do assistencialismo para construir a inclusão efetiva. "Com qualificação, por exemplo, conseguimos inserir pessoas no mercado de trabalho", diz.
Ao mesmo tempo, é preciso que os empreendedores entendam como manter os negócios. "A educação financeira para as pessoas na favela é essencial para que o negócio vá além da intuição e cresça de forma saudável", afirma Gabriela.