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Cerrado recebe pouca atenção e menos proteção legal do que precisa, diz Fórum Econômico Mundial (Ramesh Thadani/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 06h01.
Última atualização em 10 de abril de 2024 às 10h10.
Um novo modelo de produção sustentável no Cerrado pode ser responsável por um aumento de US$ 72 bilhões por ano no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até 2030, aponta um relatório do Fórum Econômico Mundial, produzido em parceria com a consultoria britânica Systemiq.
O estudo “Cerrado: Production and Protection”, do inglês Cerrado: Produção e Proteção, avalia que com a restauração de terras degradadas e com o aumento de áreas protegidas, o bioma pode implementar um novo sistema de agroindústria. Entre as soluções estão métodos de produção sustentável, como a agricultura regenerativa, que aumenta a produtividade nos plantios e cria condições melhores para a produção de alimentos, incentivando até mesmo a geração de empregos.
Além do setor alimentício, o bioma também tem grande potencial para a geração de bioenergia, ou seja, a que deriva de plantas e outros recursos naturais. Um terço das usinas de biogás no Brasil estão localizadas no Cerrado.
Outros mercados, ainda em crescimento, como o de combustíveis sustentáveis para a aviação e o de hidrogênio verde, apresentam chances de desenvolvimento nesse ecossistema, mas, segundo a pesquisa, devem ser acompanhados para que não abram espaço para mais desmatamento. O novo modelo de produção sustentável sugerido pelo Fórum Econômico Mundial exige uma colaboração entre os setores público e privado, incluindo ações de toda a cadeia de alimentos.
É no Cerrado onde ocorre 60% da produção agrícola brasileira, comercializando itens como gado, cana-de-açúcar, milho e soja – 22% das exportações deste grão derivam da produção na região. Ainda assim, as políticas de proteção e preservação ambiental são baixas: só no ano passado, houve um aumento de 43% no desmatamento do ecossistema.
O principal fator que contribuiu para a desvastação do bioma é a produção agrícola, que já eliminou metade da vegetação nativa no Cerrado. O estudo aponta que se a exploração continuar no ritmo atual, o desmatamento pode acarretar em problemas na cadeia de fornecimento de alimentos em todo o planeta.
Para Jack Hurd, diretor executivo da Tropical Forest Alliance – iniciativa do Fórum Econômico Mundial pela proteção de florestas tropicais –, o relatório busca o pontapé inicial na discussão entre formuladores de políticas e a agroindústria sobre como podem instaurar um novo modelo de agricultura sustentável.
“O Cerrado é a maior e mais biodiversa savana do mundo e, por isso, um dos ecossistemas mais importantes do planeta. No entanto, recebe pouca atenção e menos proteção legal do que precisa. Isso resultou em significativa degradação e uso não sustentável da terra, o que representa uma grande ameaça à segurança alimentar de bilhões de pessoas em todo o mundo”, conta.
Para a chefe do escritório da Systemiq no Brasil, Patrícia Ellen da Silva, a aproximação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será sediada em Belém, e a presidência do Brasil do G20, o Brasil está bem posicionado para atuar como um líder na luta contra as mudanças climáticas.
“O Cerrado deve estar no centro da transformação global dos sistemas alimentares e da produção de energia, bem como das estratégias e tecnologias de conservação da natureza. Essa não será uma tarefa simples, mas ao aumentar a conscientização sobre a importância do bioma e a conexão entre produção e proteção, este documento nos colocará no caminho para um Cerrado mais sustentável”, afirma.