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Combustíveis fósseis: negociadores informam o andamento dos acordos sobre uso de combustíveis fósseis até este momento na COP28 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 3 de dezembro de 2023 às 06h33.
Última atualização em 3 de dezembro de 2023 às 17h24.
De Dubai*
A discussão sobre o uso dos combustíveis fósseis é intrínseca à COP28. Não apenas pelo fato de que o setor, de acordo com a ciência, agrava muito as mudanças climáticas. Mas, também, por o evento acontecer nos Emirados Árabes, um dos maiores produtores do mundo, e ser presidido por Al Jaber, CEO da petrolífera Adnoc.
"As emissões de gases causadores de efeito estufa (GEE) estão maiores do que nunca. A crise climática é a crise dos combustíveis fósseis e esta é a COP para construirmos um espaço global claro de como a transição energética deve acontecer", disse Catherine Abreu, diretora executiva da Destination Zero, em coletiva de imprensa para o jornalistas na COP28.
A coletiva buscou apresentar um balanço de como o tema tem aparecido nas mesas de negociação desde o início da COP28, na última quinta-feira, 30. "Temos agora um fundo de perdas e danos para que os países ricos destinem recursos aos países em desenvolvimento porque é preciso garantir uma transiçaõ justa". O valor anunciado até o momento é de 420 milhões de dólares, algo considerado tímido pelos especialistas.
Para Abreu, a boa notícia, até agora, é que mais de cem países estão pedindo o fim do uso dos combustíveis fósseis, utilizando mais energias renováveis e tendo eficiência energética. No Compromisso Global sobre Energias Renováveis e Eficiência Energética, com 118 países, a intenção é o estabelecimento de metas globais para triplicar a capacidade instalada de energia renovável para pelo menos 11 terawatts (TW) e duplicar a taxa de melhorias globais na eficiência energética de cerca de 2% para um valor anual de 4%, até 2030.
Já Jess Beagley, da Global Climate and Health Alliance, aponta que o desafio é esclarecer como os valores que estão sendo comentados serão utilizados. "Não estamos falando claramente sobre como as finanças serão distribuídas, e é preciso incluir as comunidades locais nas negociações". A ideia foi reforçada por Janet Milongo, coordenadora da Action for Renewable Energy at Climate Action Network. "A transição só será efetiva se acabarmos com todo o uso de combustíveis fósseis e tiver ações centradas nas pessoas".
O que deixado os negociadores um pouco mais otimistas é a posição de grandes emissores, como os Estados Unidos, que anunciou no sábado uma contribuição de três 3 milhões de dólares para o Fundo Verde para o Clima, em prol de soluções baseadas na natureza para a transição energética. Contudo, há países que não tem sido flexíveis, como Rússia e Arábia Saudita. "De todo modo, devemos ter notícias mais positivas do que nos anos anteriores", disse Abreu.
Um destaque do balanço é a posição da Colômbia, que pede a criação do Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis. "O que Gustavo Petro, presidente da Colômbia anunciou aqui na COP, é a possibilidade de que os países sejam economicamente sustentáveis sem mais exploração de petróleo. Muitos falaram em suicídio econômico, mas suicídio agora é não olhar para alternativas sustentáveis", disse Sergio Chaparro Hernandez, International Policy and Advocacy Lead na Tax Justice Network.
O posicionamento de Petro ganhou ainda mais força com o anúncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de participação na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+). Apesar de Lula ter dito ontem que a entrada é para influenciar o financiamento dos países em transição energética, o sentimento dos participantes da COP28 é de contradição. Por ora, as negociações continuam e há expectativas de novos acordos.