Mercado de títulos corporativos entra na onda do ativismo ESG
Investidores do mercado de renda fixa têm buscado cada vez mais associação com padrões ambientais, sociais e de governança
Maria Clara Dias
Publicado em 1 de fevereiro de 2021 às 17h11.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2021 às 17h22.
Os investidores do mercado de renda fixa estão se juntando aos compradores de ações na busca por padrões ambientais, sociais e de governança, forçando empresas com desempenho insatisfatório a correr atrás desta bola.
Participantes do mercado de crédito global, que movimenta 40 trilhões de dólares, estão usando roadshows, associações e desinvestimentos para pressionar os emissores sobre questões agrupadas na sigla em inglês ESG, incluindo poluição e supervisão da gestão. Esse foco adicional e o poder financeiro amplificam os esforços em curso nos mercados de ações, a tradicional linha de frente do ativismo.
“Há cada vez mais entusiasmo do lado do crédito”, disse Chris Kaminker, chefe de pesquisa e estratégia para investimentos sustentáveis na Lombard Odier Investment Managers, que supervisiona 59 bilhões de francos suíços (66 bilhões de dólares). “Os detentores de títulos são muito poderosos: as empresas não vão à falência quando o preço das ações cai, mas quando não conseguem refinanciar ou quando o custo do capital fica muito alto.”
Barclays, CPI Property Group e State Bank of India estão em uma lista crescente de organizações que trabalharam com detentores de títulos em tópicos ESG ou enfrentaram pressão para agir neste sentido. Reputações à parte, os emissores podem ser receptivos a esses pedidos por causa de atratividade de uma base estável de investidores e do acesso vantajoso ao mercado de dívida ESG de baixo custo.
“As opiniões e demandas dos detentores de títulos em questões ESG serão cada vez mais importantes”, disse Fernando Garcia, diretor de mercado de capitais do Société Générale. “Sem dúvida, isso influenciará as decisões de negócios.”
Algumas instituições de investimento estão juntando gestores de crédito com especialistas em ações e ESG para aumentar seu impacto. A Fidelity International fez isso ao se unir com o Barclays para traçar estratégias climáticas, de acordo com Kris Atkinson, gestor de fundos do gigante que administra 611 bilhões de dólares em ativos.
“Envolver os dois lados do balanço patrimonial significa que temos mais influência do que outros”, disse Atkinson. Ele administra o Sustainable Reduced Carbon Bond Fund, da Fidelity, que detém títulos do Barclays.
O banco britânico conversa regularmente com todos os tipos de investidor sobre a transição climática, conforme relatado por um porta-voz à Bloomberg News.
Nos Estados Unidos, Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, pediu que as empresas mostrem como seu modelo de negócios será compatível com uma economia de emissão líquida zero de carbono. Na segunda-feira, a Aviva Investors anunciou um novo programa de engajamento que pode resultar em desinvestimento de ações e títulos de dívida emitidos por empresas que não atingem suas expectativas para o clima.
Na Europa, a equipe de crédito da M&G faz pressão por melhorias na governança do fundo CPI Property, concentrado no Leste Europeu. Além da pressão de investidores ativistas, isso ajudou a garantir mudanças no conselho, de acordo com o gestor de carteiras James Tomlins.
“A forma de efetuar mudanças é mais complicada para os detentores de títulos do que para os acionistas, mas certamente não é impossível”, disse Tomlins, que administra o Global High Yield ESG Bond Fund da M&G. “O principal — e isso se aplica a ações também — é a escala.”
O feedback dos detentores de títulos contribuiu para vários movimentos ESG no fundo imobiliário CPI, segundo resposta da organização a perguntas enviadas pela Bloomberg News.