La Niña tem mais chance de ocorrer, mas o planeta seguirá com altas temperaturas, diz agência
A OMM revisou para 60% a probabilidade de o fenômeno ser registrado no final do ano; apesar de ser caracterizado pelo resfriamento dos oceanos, os gases de efeito estufa seguem retendo calor na atmosfera
Jornalista
Publicado em 11 de setembro de 2024 às 12h57.
A Organização Meteorológica Mundial ( OMM ), agência ligada à ONU,divulgou nesta quarta-feira, 11, a revisão dos dados sobre La Niña . Segundo a agência, aumentou a probabilidade de, no final de 2024, o fenômeno ocorrer, passando de 55% (entre setembro e novembro deste ano) para 60% (entre outubro e fevereiro de 2025).
O fenômeno, registrado a cada três ou cinco anos, acontece quando se vê o resfriamento em larga escala da faixa Equatorial Central e Centro-Leste do Oceano Pacífico, com uma diminuição igual ou maior a 0,5°C na superfície das águas dos oceanos. Ou seja, o fenômeno é o oposto do El Niño, relacionado ao aquecimento .
No entanto, apesar da revisão dos dados, ainda não se trata de uma boa notícia em relação às atuais altas temperaturas registradas em diferentes partes do planeta, inclusive no Brasil. Segundo a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, "desde junho de 2023, vimos uma longa sequência de temperaturas globais excepcionais da superfície terrestre e marítima. Mesmo que um evento de resfriamento de curto prazo La Niña surja, ele não mudará a trajetória de longo prazo do aumento das temperaturas globais devido aos gases de efeito estufa (GEE) que retêm o calor na atmosfera."
Altas temperaturas
Como a OMM lembra, os últimos nove anos foram os mais quentes já registrados, mesmo com a influência de resfriamento de um La Niña multianual de 2020 ao início de 2023. O evento El Niño de 2023-24, segundo a agência meteorológica, começou a surgir em junho de 2023 e atingiu o pico em novembro de 2023/janeiro de 2024 como um dos cinco mais fortes já registrados antes de se dissipar, embora alguns impactos tenham continuado.
De acordo com a agência, nos últimos três meses, condições neutras prevaleceram, sem que se caracterizasse El Niño ou La Niña. No entanto, ressalta Celeste, o planeta passou por condições climáticas extremas generalizadas, incluindo calor intenso e chuvas devastadoras.
"É por isso que a iniciativa Alertas Antecipados para Todos continua sendo a principal prioridade da OMM. As previsões sazonais para El Niño e La Niña e os impactos associados nos padrões climáticos globalmente são uma ferramenta importante para informar alertas antecipados e ação antecipada ”, explica a secretária-geral.
No entanto, pontua a OMM, eventos climáticos naturais, como La Niña e El Niño, estão ocorrendo no contexto mais amplo da mudança climática provocada pelo homem, "que está aumentando as temperaturas globais, exacerbando o clima e o clima extremos e impactando os padrões sazonais de precipitação e temperatura", alerta a nota da agência.
Características
Além do resfriamento em larga escala das temperaturas da superfície do oceano, o fenômeno La Niña também é caracterizado por mudanças na circulação atmosférica tropical, como ventos, pressão e precipitação.
Os efeitos de cada evento La Niña, segundo a OMM, variam segundo sua intensidade, duração, época do ano em que se desenvolve e da interação com outros fatores climáticos. Geralmente, segundo a agência, La Niña produz impactos climáticos opostos ao El Niño, especialmente em regiões tropicais.
As previsões para padrões de chuvas em larga escala, ainda de acordo com a agência, se alinham parcialmente com os impactos típicos observados durante o estágio inicial das condições de La Niña, com a inclusão de chuvas acima do normal no extremo norte da América do Sul, América Central, Caribe, norte do Grande Chifre da África e Sahel, partes do sudeste da Ásia e Continente Marítimo Central. Ou seja, não inclui o Brasil.