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Na Comgás, mulheres com mais de 40 anos são contratadas e compartilham desafios de gênero e etarismo

As contratadas da Comgás foram reveladas nesta semana, na sede da empresa em São Paulo, após um processo seletivo de cinco meses e 4.200 inscritas em parceira com a Maturi

Comgás faz programa de contratação para mulheres com 40 anos ou mais (Comgás/Divulgação)
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 10h10.

Última atualização em 12 de junho de 2023 às 17h56.

"Estou feliz e minha vida vai mudar. Depois de 14 anos sendo mãe, esta será a primeira vez que serei funcionária", diz Ana Paula Munhoz Corrêa Securato, de 46 anos. A advogada é uma das dez selecionadas pelo programa da Comgás específico para mulheres com mais de 40 anos, que teve as contratadas reveladas nesta semana, na sede da empresa em São Paulo, após um processo seletivo de cinco meses e 4.200 inscritas.

"No início do ano pensamos em um trainee com algum recorte de diversidade. Primeiro olhamos para gênero, mas percebemos que incluir o etarismo era essencial", diz Letícia Grossi, Diretora de Pessoas e Cultura da Comgás. A partir disto, executivos da companhia foram consultados, bem como grupos de com mulheres de empresas parceiras. "Percebemos uma demanda do mercado, mas não imaginávamos que seriam tantas inscritas".

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De acordo com a executiva, eram esperadas cerca de cem inscritas. "Definimos dez vagas por mapear internamente nove áreas específicas do negócio de modo que essas mulheres sejam contratadas como analistas sêniores e tenham uma carreira acelerada para coordenação, gerência e mais".

Para Mórris Litvak, CEO e fundador da consultoria Maturi, a quantidade de inscritas não foi uma surpresa. "Todos os nossos processos seletivos são focados em pessoas com 50 anos ou mais -- ou 40 anos ou mais quando há recorte de gênero, como é o caso na Comgás. E não é a primeira vez que temos grande demanda de profissionais maduros interessados no mercado de trabalho", afirma.

Segundo ele, o interesse das companhias em funcionários mais velhos também cresce. "Estamos fechando o ano com 48 clientes e metade trabalharam conosco pela primeira vez em 2022. Além disto, espero um interesse ainda maior no próximo ano", diz Mórris.

A expectativa do executivo se dá por a Maturi ter se tornado, em novembro, representante oficial no Brasil do programa Certified Age Friendly Employer (CAFE), do Age Friendly Institute, organização com mais de 15 anos de atuação nos EUA, onde a certificação já possui apoio do governo estadual e federal. "Esperamos ter as primeiras empresas certificadas já em fevereiro. Isto gera uma concorrência saudável no tema".

Na Comgás, as selecionadas começam a trabalhar dia 16 de janeiro. Além de realizar as funções tradicionais, elas terão encontros com a liderança para discutir sobre o futuro da energia e do negócio; visita técnica em campo com o time de operações e em todos os segmentos da Comgás.

Elas também passarão por treinamentos de autoconhecimento, desenvolvimento de liderança feminina, mentoria com executivas, além de workshops para ampliar conhecimento em ferramentas, conteúdos técnicos e comportamentais. "Temos cinco grupos de diversidade na companhia que garantem a integração e o pertencimento e não será diferente agora", diz Letícia.

As contratadas

A EXAME conversou com três das dez selecionadas para as vagas. O perfil das mulheres e a história de vida se diferenciam, e se completam para o melhor resultado do programa que deve ter acompanhamento de resultados internamente e pela Maturi nos próximos meses.

Ana Paula Munhoz Corrêa Securato, de 44 anos

"Iniciei minha carreira jurídica num banco. Trabalhei durante dez anos e aí engravidei. Eu tinha dificuldade para engravidar e quando consegui optei por maternar 100% do tempo.

Durante um período senti a necessidade de fazer algo mais, mas não estava pronta para voltar ao corporativo. Assim, tive uma loja virtual durante sete anos, a qual vendi em 2020, na pandemia da covid-19. Desde então, fiz cursos e procurei trabalho.

Estou feliz e minha vida vai mudar. Depois de 14 anos sendo mãe, esta será a primeira vez que serei funcionária. Acredito que serei melhor do que há 14 anos, pois o maternar mostra que nem tudo é verdade absoluta e é preciso ter inteligência emocional".

Ana Paula Munhoz Correa Securato, funcionária da Comgás (Comgás/Divulgação)

Iva Santos Oliveira, 47 anos

"Sou formada em jornalismo e relações públicas. Nasci em Itanhaém, fiz faculdade em Santos, e trabalhei lá durante muitos anos. Vim para São Paulo em 2003 porque queria me desenvolver mais. Quando cheguei em São Paulo passei por algumas empresas, sempre tentando me colocar na área de comunicação e com perspectiva de crescimento profissional, financeiro e mais.

Fiquei oito anos numa empresa e fui desligada na pandemia da covid-19 depois de um corte grande. Procurei recolocação, e tinha algumas dificuldades: a da idade, ser mulher preta, e nunca ter passado por uma grande empresa. Mas, quando vi o programa no LinkedIn resolvi me candidatar.

É curioso que mesmo num programa 40+ fiquei com medo estar velha demais. Sei da importância da diversidade nas empresas, participo de grupos de comunicadores pretos em busca de recolocação, mas a idade é um fator extra. Agora, a Comgás preenche uma lacuna na minha vida que é essa oportunidade de acessar uma grande companhia, ter plano de carreira, e mostrar minhas competências entre tantos funcionários."

Iva Santos Oliveira, funcionária da Comgás (Comgás/Divulgação)

Karin Barone, 51 anos

"Me formei em engenharia em 1994, e fui para a área concreteira, muito masculina. Fiquei muitos anos trabalhando nessa área, até mesmo depois de ter meu filho, em 2011. Já em 2016, o mercado desaqueceu, a empresa que eu estava trabalhando reduziu e me ofereceram para ficar num labortório em outra cidade, mas eu decidi cuidar do meu filho e sair da empresa. Eu percebia que os primeiros anos dele tinham sido basicamente na escola e com a babá.

Imaginei que ia ficar uns três anos sem trabalhar em uma empresa, mas o tempo passou e foram quase sete anos. E em 2019 eu tinha decidido que ia voltar. Em 2020 passei num processo seletivo, mas veio a pandemia da covid-19 e congelaram a vaga.

Agora, consegui essa oportunidade na Comgás e estou muito feliz em voltar para a engenharia, e ainda mais numa empresa que olha para a sustentabilidade, uma pauta importante para mim. Não acho que sou uma senhorinha, tenho muita disposição para contribuir com a empresa e isto deve ser valorizado".

Karin Barone, funcionária da Comgás (Comgás/Divulgação)

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