ESG

Apoio:

Logo TIM__313x500
logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
ONU_500X313 CBA
ONU_500X313 Afya
ONU_500X313 Pepsico
Logo Lwart

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Indique Uma Preta: consultoria que nasceu no Facebook já impactou 27 mil profissionais negros

Em entrevista à EXAME, cofundadoras contam como grupo fundado na rede social se tornou rede de apoio para mulheres negras e consultoria de gigantes como Google, Unilever e Natura

Grupo no Facebook deu origem a consultoria de diversidade que já impactou milhares de profissionais negros com vagas afirmativas

Grupo no Facebook deu origem a consultoria de diversidade que já impactou milhares de profissionais negros com vagas afirmativas

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 17h29.

Tudo sobreEquidade racial
Saiba mais

Em 2016, a falta de oportunidades no mercado de trabalho para profissionais negros levou a publicitária Daniele Mattos a criar uma comunidade no Facebook, chamada Indique Uma Preta. A principal preocupação dela era quanto às indicações para vagas abertas, quase sempre ocupadas por profissionais não-diversos.

“Cargos estratégicos eram ocupados por brancos, que indicavam outros brancos, perpetuando o privilégio da branquitude”, explica Daniele em entrevista à EXAME. Sua percepção não era algo individual: à medida que mais mulheres negras passaram a integrar o grupo, ela percebeu que se tratava de um problema estrutural, inerente ao mercado.

A partir deste grupo, foi possível criar uma rede fortalecida por mulheres negras no setor corporativo para melhorar a exclusão econômica vivida por elas, como a dificuldade de acessar oportunidades formais e de ascender às posições de liderança.

Quando as comunicadoras Amanda Abreu e Verônica Dudiman ingressaram na comunidade, também incomodadas com os obstáculos para conseguir oportunidades, surgiu a ideia de transformar as trocas online em um encontro presencial para discutir o cenário das empresas. “Eu sabia que era boa e capaz, mas precisava de uma comunidade, uma liderança ou alguém que pudesse me ajudar. Quando entrei no grupo, minha vida mudou”, conta Abreu.

A decisão deu origem a uma série de eventos focados no trabalho para mulheres negras. Nas semanas seguintes, o grupo celebrava as novas oportunidades, os anúncios de transições de carreira e os depoimentos motivadores. “Aos poucos, as empresas começaram a nos acionar”, explica Verônica.

Comunidade antirracista

Em 2020, a Indique Uma Preta foi formalizada como uma empresa, passando a atuar como consultoria para ajudar outras companhias a melhorar seus cenários de diversidade. Além disso, também passou a oferecer serviços de recrutamento e seleção, voltados para a inclusão de pessoas negras, seja em vagas pontuais ou em programas afirmativos.

Após oito anos, a consultoria já impactou 27 mil pessoas negras em processos seletivos para mais de 270 vagas, além de oferecer workshops e capacitações para quase 4 mil profissionais e empreendedores. O grupo de Facebook segue ativo, com mais de 8,5 mil participantes.

Amanda explica que, além de direcionar oportunidades para profissionais negros, a Indique Uma Preta trabalha para que os candidatos tenham o melhor desempenho possível. “Capacitamos a comunidade para entender os códigos do mercado de trabalho: como se portar em entrevistas, montar um currículo adequado, compreender o inglês corporativo, entre outros”, destaca.

Já com as empresas, o trabalho inclui a sensibilização das lideranças por meio de palestras, rodas de conversa e consultorias antirracistas. A Indique Uma Preta também desenvolve estudos sobre a vivência da população negra no mercado de trabalho, que ajudam a nortear estratégias de diversidade e inclusão.

Para as cofundadoras, trabalhar com grupos historicamente minorizados é essencial para reduzir desigualdades, melhorar a economia e integrar a diversidade racial às práticas de ESG das empresas. “Nosso papel é ajudar as empresas a entenderem as pessoas negras para além da inclusão. Queremos que elas enxerguem novas referências, bagagens e pluralidade, conectadas ao Brasil real”, diz Verônica.

Cenário de desigualdade

Para Daniele, não se pode dizer que a diversidade saiu da pauta das empresas, mas sim que uma parte das companhias viu um amadurecimento nas suas iniciativas.

Apesar da consultoria ainda trabalhar com grandes empresas para inserir a diversidade na estratégia corporativa, como Itaú, Unilever, Natura e Google, houve uma queda nas ações afirmativas voltadas à contratação de pessoas negras em 2024.

Verônica aponta que muitas empresas ficam no "ensaio" da implementação da diversidade, sem realizar ações concretas. “São poucas as empresas que se comprometem a mexer com estruturas, desconfortos e privilégios. A maioria evita essa responsabilidade. Calculando o tempo de escravidão versus o de liberdade, ainda há muito a ser feito. Não é uma causa ganha”, avalia.

Amanda complementa que essa abstenção também representa uma falha de mercado. “A população negra é um público que consome, entende o mercado e observa atentamente as marcas que querem se comunicar com ele. As empresas que não criam produtos voltados para essa população acabam perdendo mercado”, alerta.

Internamente, a redução de programas voltados para profissionais negros também impacta na inclusão e acolhimento dessa população. Exemplos disso estão nas pesquisas Raça e Mercado de Trabalho e Lideranças em Construção, realizadas pela Indique Uma Preta:

  • 44% dos respondentes desconhecem a existência de ações afirmativas em suas empresas.
  • 37% dos profissionais negros relataram ter enfrentado algum tipo de discriminação racial no ambiente de trabalho.
  • 57% dos entrevistados afirmaram que as empresas onde atuam não oferecem espaços de acolhimento para denúncias de racismo.

Dudiman reforça que, mesmo com o trabalho ativo da comunidade, o suporte contra discriminações raciais no trabalho precisa vir das empresas. “Profissionais negros precisam de mais do que redes externas; precisam de empresas comprometidas com a construção de ambientes seguros”, conclui.

Acompanhe tudo sobre:Equidade racialRacismoNegrosMercado de trabalhoDiversidade

Mais de ESG

A COP29 está no limite e o fracasso não é uma opção, diz Guterres

O chamado de Gaia: o impacto da crise climática sobre as mulheres

O que é o mercado de carbono e por que ele pode alavancar a luta contra a crise climática

Rascunho atrasado e sem números: cresce temor sobre "COP do retrocesso"