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Financiamento e economia do cuidado são temas centrais no avanço das mulheres, apontam especialistas

Evento organizado pelo Pacto Global da ONU - Rede Brasil, paralelo à 68ª Comissão da Situação da Mulher (CSW), debateu empoderamento econômico feminino está atrelado às distribuições de funções de cuidado, investimentos e equidade salarial

Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e vice-presidente do conselho do Pacto Global da ONU - Rede Brasil (Fabio Ura/99jobs/Reprodução)
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 13 de março de 2024 às 16h18.

Última atualização em 13 de março de 2024 às 16h21.

O financiamento em políticas e serviços para as mulheres é o tema que norteia a 68ª Comissão da Situação da Mulher (CSW), na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). E não é diferente quando o recorte é específico para o Brasil, como apontou mulheres líderes de organizações privadas e sociais em café da manhã organizado pelo Pacto Global da ONU - Rede Brasil na manhã desta quarta-feira, que previa receber 20 pessoas e reuniu uma centena interessada no debate.

"Estamos falando de caminhos para acelerar as pautas de equidade de gênero e todos eles passam pela viabilidade de financiamento. A questão é que a disponibilidade do recurso já existe, mas o dinheiro não está no percurso correto para que as mulheres do Brasil se desenvolvam. Estar na CSW é entender como conectar investidores, empresas e sociedade civil", diz Camila Valverde, diretora da Frente de Impacto e COO do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.

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Uma das formas de mobilizar esses investimentos é, de acordo com Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) e vice-presidente do conselho do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, sensibilizar as lideranças de que as pautas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) são, além de bacanas, necessárias. "Apoiar as pautas sociais é promover o desenvolvimento econômico a partir da estratégia de negócios das empresas. Além disto, este ano temos, como país, a oportunidade para abordar o tema na presidência do G20, considerando o combate às desigualdades".

Para isto, é preciso considerar também a equidade salarial entre homens e mulheres que ocupam as mesmas funções. “O Brasil tem colocado transparência na remuneração e isto é um ótimo passo. Depois da pandemia da covid-19, mulheres tiveram ainda mais desafios sociais e de empregabilidade. Comprovar que elas não ganham, por exemplo, 20% menos do que os homens é essencial para o avanço”, diz Sanda Ojiambo, diretora executiva do Pacto Global.

A inclusão no setor produtivo considera também as diversas necessidades das mulheres. “Se pensarmos em uma pequena empreendedora que fatura 600 reais ao mês, por exemplo, os 60 reais que ela precisa para pagar o registro de microempreendedora individual faz muita diferença no bolso”, diz Ana.

É pensando em pontos como este, que o Banco do Brasil tem fortalecido as políticas internas de inclusão, assim como a disponibilidade de acesso aos produtos ofertados para mulheres. “Em 8 de março de 2023 lançamos a plataforma Mulheres no Topo para capacitá-las em inclusão financeira, além de outros serviços. É preciso que elas tenham o crédito, mas também saibam como usar. Acontece, por exemplo, de uma mulheres em situação de violência tomar crédito para não sofrer os abusos do marido. Queremos informá-las, apoiá-las e empoderá-las para que esse tipo de situação não ocorra”, diz Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil.

O enfrentamento da violência contra meninas e mulheres foi abordado como ponto fundamental para o avanço também pro Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. "1 em cada 3 mulheres no mundo passa por experiência de violência doméstica, mas apenas 0,2% de todos os recursos de assistência vão para o tema. Enquanto não mudarmos o cenário não podemos considerar concluída a inclusão de todas".

Economia do Cuidado

Entre todos os desafios para o alcance da equidade entre homens e mulheres, a aposta das presentes no evento é o crescimento da pauta da economia do cuidado. Atualmente, 80% de todo o trabalho não remunerado de cuidado é feito pelas mulheres.

"Este é um tema que as pessoas não valorizam socialmente porque atribuem ao DNA, mas que tem ganhado força em discussões diversas", diz Ana Fontes. Um exemplo é para além do déficit de vagas em creches, o horário no qual as mulheres acabam buscando as crianças na escola, dificultanto a empregabilidade. Outro exemplo dado por ela é em relação à aposentadoria. "Na Argentina é reconhecido o direito de aposentadoria das mães que dedicam todo o tempo cuidando dos filhos", diz.

Para Tayná Leite, Head de Direitos Humanos e Trabalho do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, o sistema de cuidados do Uruguai é uma das referências. "Por lá há um sistema integrado para olhar o cuidado de crianças, idosos e questões de parentalidade", afirma.

Para ela, este tipo de política reflete a necessidade de intecionalidade nas decisões econômicas. "A tomada de decisão em se investir em A ou B ainda é repleta de vieses de quem está na liderança. Mobilizar a mudança positiva é a nossa missão ao, por exemplo, engajar CEOs em agendas como a Ambição 2030, que visa a aceleração das práticas para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável".

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