Estratégia da Schneider Electric para descarbonizar energia prioriza América do Sul, diz CEO
Em entrevista exclusiva à EXAME, Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para a América do Sul, contou o que tem sido feito para atingir os compromissos ambientais
Repórter de ESG
Publicado em 12 de julho de 2024 às 09h06.
Última atualização em 15 de outubro de 2024 às 10h22.
Em meio aos esforços e investimentos globais pela transição energética, a Schneider Electric, companhia francesa do setor energético, cria estratégias para reduzir as emissões relacionadas ao uso da energia em todos os seus públicos. Internamente, a meta de alcançar a neutralidade de carbono nas operações está estipulada para 2025, enquanto no restante da cadeia de valor deve ser alcançada até 2040.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para a América do Sul, contou o que tem sido feito para atingir os compromissos ambientais.
Com 200 fábricas distribuídas por todo o mundo, o presidente explica que a redução do impacto ambiental nas unidades se baseia em dois fatores: fábricas próximas do mercado consumidor e uso de fontes de energia renovável. “Temos fábricas globais, que produzem para todo o mundo, mas muitas são focadas no mercado regional, o que reduz a necessidade de transporte. Depois, entra o nosso compromisso com energias renováveis, que já está acima dos 80% de uso nas nossas unidades”, explica. A expectativa é atingir 100% de uso de renováveis.
Segundo Segrera, os investimentos em eletrificação de processos e utilização de economias limpas ajudaram tanto nas metas ambientais da companhia quanto na redução de custos e na melhoria da performance financeira.
O uso de materiais menos poluentes também está entre as metas da companhia. Até 2025, o teor de material reciclável nos produtos deve atingir 50%, processo que ajuda a garantir processos mais sustentáveis até mesmo entre os clientes. A meta ainda inclui que as embalagens primárias, em contato direto com o produto, e secundárias não utilizem mais plásticos descartáveis e somente papelão reciclado. A estratégia também inclui a recuperação deequipamentos eletrônicos para evitar o consumo de 420 mil toneladas de recursos primários.
Protagonismo brasileiro
Com uma matriz energética formada por mais de 80% de fontes limpas, o Brasil é parte importante para a estratégia de transição energética. “O país investe muito em energias limpas, aproveitando de seus recursos naturais, como água, sol e vento. Enquanto isso, nações europeias ainda não estão no mesmo cenário e precisam acelerar”, conta Segrera. No último ano, a União Europeia estipulou a meta de ter 42,5% de fontes limpas em sua matriz energética até 2030, taxa que está pouco acima dos 20% atualmente.
No entanto, o presidente alerta que o Brasil enfrenta um problema sobre sua energia: garantir a eficiência do uso. “Precisamos evitar o desperdício, e muito disso passa pelas indústrias. O governo atual fala muito de se aproximar da indústria e comércio, dialogar com esse setor, e garantir a descarbonização nas fábricas passa também por aumentar a eficiência energética ”, conta.Para ele, uma tendência na descarbonização é garantir o consumo adequado e justo de energia, não apenas a geração a partir de fontes limpas. “O Brasil ainda está muito longe de conseguir aproveitar toda a vantagem que possui na matriz, e se seguirmos com os mesmos números de eficiência, perderemos grande oportunidade de melhoria ambiental”, explica. De acordo com o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, da Eletrobrás,o país desperdiça 47 milhões de quilowatts-hora (kWh) de energia por ano.
Internamente, a meta é de aumentar a eficiência em suas instalações e fábricas em 15% até 2025. Produtos que garantam a eficiência energética, climática ou de recursos também são projetados e devem representar 80% da receita da Schneider até o próximo ano.
O foco dos investimentos na Schneider deve sair do Sudeste Asiático, onde por 30 anos foi o epicentro do negócio. “A Índia deve representar nosso terceiro maior mercado ao fim deste ano, mas como a atenção se volta para as mudanças climáticas e o impacto do setor de energia nessa área, aAmérica do Sultem um protagonismo nisso ”, explica o presidente.
A presença de materiais importantes para a transição econômica, como lítio e cobalto, potencializa as chances no continente. Outro fator que Segrera considera é a presença de tecnologia menos poluente, investimento que deve crescer nessas regiões. Isso acontece porque centros de dados utilizados em empresas do setor precisam consumir grandes quantidades de energia -- demanda a partir dos seus processos ou pela refrigeração das máquinas.
“Faz sentido que esses centros estejam em países como Brasil e Chile, para que consumam energias limpas próximas da sua produção, mas também para que estejam perto de grandes consumidores como Estados Unidos e Europa ”, explica o presidente.
O foco no país por ser sede da COP30 – que será realizada em 2025, em Belém – e da cúpula do G20 não pode ser desperdiçado, segundo o executivo. “O Brasil tem oportunidade única de ser visto pelo mundo, mas tem que chegar com exemplos concretos, facilitar investimentos, quebrar todas as dificuldades para fazer negócios e melhorar aestrutura fiscal, que ainda não é clara. Tudo isso atrai investidores. O país precisa facilitar que eles cheguem aqui”, conta.
A empresa tem o compromisso de levar o acesso à energia renovável para mais de 50 milhões de pessoas e capacitar um milhão de profissionais em todo o mundo para gestão de energia até 2025. No Brasil, o treinamento deve atingir 86 mil pessoas.
Nova presidência no Brasil
Atualizando o compromisso com o Brasil, a Schneider anunciou na última semana um novo presidente para o mercado nacional. O argentino Roberto Rossi já atua na empresa há 15 anos, e nos últimos três anos estava no cargo de presidente da companhia para aIndonésia e Timor Leste. Entre sua atuação na região estão ações pela eficiência energética, transformação digital e desenvolvimento da Schneider.
Para Segrera, a chegada busca potencializar e acelerar os processos em andamento no Brasil. “Prevíamos que ele ficaria cinco anos na Indonésia, mas ele cumpriu todos os desafios em três anos e meio. Trazendo uma pessoa que já conhece a região queremos que ele traga também essa velocidade para cá. Roberto tem um conhecimento de mercado muito grande, o que deve favorecer o Brasil e todos os elementos para a jornada de descarbonização”, aponta. “Se uma empresa como a Schneider, com alta capacidade industrial, pode agir pelo meio ambiente, então qualquer empresa pode. Mas é preciso determinação da liderança.”