ESG

Empresa que tem Luiza Trajano com sócia capta R$ 140 mi em títulos verdes

A Solinftec, empresa brasileira de tecnologia agrícola, captou R$ 140 milhões ao emitir seu primeiro CRA-Verde, títulos de dívida verdes

Solinftec: a receita cresceu 60% em 2020, com mais de R$ 100 milhões em contratos recorrentes anuais com prazo médio de cinco anos (Solinftec/Divulgação)

Solinftec: a receita cresceu 60% em 2020, com mais de R$ 100 milhões em contratos recorrentes anuais com prazo médio de cinco anos (Solinftec/Divulgação)

B

Bloomberg

Publicado em 17 de maio de 2021 às 10h32.

Última atualização em 17 de maio de 2021 às 22h01.

A Solinftec, empresa brasileira de tecnologia agrícola que tem a família Trajano entre seus investidores, está captando R$ 140 milhões em títulos de dívida verdes, os chamados CRA-Verdes.

Os papéis em reais têm rendimento indexado à inflação medida pelo IPCA e usam recebíveis agrícolas da Solinftec como garantia. Isso permitiu uma captação de recursos com prazo de vencimento de até seis anos, incomum para uma companhia brasileira do porte da Solinftec, segundo a diretora financeira Laís Braido.

“Estamos financiando nossa expansão para novos clientes e novos produtos com dívidas de longo prazo, e isso é uma notícia muito boa para nós”, disse Laís em entrevista.

Os investidores brasileiros estão procurando alternativas de investimento com maior rendimento do que os títulos do Tesouro, visto que a taxa de juros básica está abaixo da taxa de inflação. A emissão de CRAs, como são chamadas as notas que usam recebíveis agrícolas como garantia, subiu para cerca de R$ 4,8 bilhões até abril, quase o dobro do mesmo período do ano passado, segundo a Anbima, associação do mercado de capitais.

A demanda é ainda mais forte por títulos de empresas com boas práticas ambientais, sociais e de governança, segundo Luiz Ferraz, diretor-gerente de distribuição de renda fixa do Banco Itaú BBA, que estruturou a operação.

A tecnologia da Solinftec conecta em tempo real as máquinas utilizadas no campo a uma plataforma chamada Alice, que coordena a produção para reduzir o uso de combustível, fertilizantes e sementes. Estações de previsão meteorológicas locais auxiliam a empresa a orientar os clientes na pulverização de agrotóxicos, por exemplo, evitando o desperdício com ventos fortes ou chuvas e evitando que os produtos se espalhem para fazendas vizinhas.

Os investidores em ações da Solinftec incluem a plataforma de tecnologias alternativas e renováveis ​​do fundo de private equity global TPG, TPG Art, o AgFunder Inc. e a Unbox Capital, uma empresa de private equity que administra parte da fortuna da família Trajano, dos proprietários da gigante do varejo Magazine Luiza.

Os CRAs foram vendidos para cerca de 35 investidores, incluindo fundos de hedge, escritórios familiares, fundos de crédito e clientes ricos das unidades de private banking do Itaú, do Credit Suisse e do Banco BTG Pactual, disse Ferraz. Os rendimentos dos CRAs são isentos de Imposto de Renda para pessoas físicas no Brasil, e os da Solinftec oferecem rendimentos atraentes, disse ele.

Cerca de 90% das notas têm vencimento em quatro anos, com carência de um ano. O restante dos papéis tem vencimento em seis anos, com carência de três, e paga rendimentos que variam com base no desempenho da receita da Solinftec. A empresa gera R$ 120 milhões em receita anual recorrente, e cerca de R$ 45 milhões em contratos foram usados ​​como garantia nesses CRAs emitidos agora.

“Muitos clientes que usam nossos serviços são grandes empresas brasileiras com a melhor classificação de crédito possível e nossos contratos com elas duram até oito anos, então temos recebíveis de alta qualidade para oferecer como garantia”, disse Laís.

A Planeta Securitizadora Agro, uma unidade da Gaia Securitizadora , está gerindo a conta com os recebíveis. A certificação ESG veio da Climate Bonds Initiative, enquanto a Sitawi Finanças do Bem emitiu uma segunda opinião.

Em cinco anos, a Solinftec ajudou os clientes a evitar emissões de mais de 680.000 toneladas de dióxido de carbono, com base apenas na redução do uso de óleo diesel nas máquinas agrícolas, de acordo com Guilherme Guiné, diretor de desenvolvimento de produtos da Solinftec. Isso é o equivalente a plantar mais de 30 milhões de árvores ou ao uso de 700.000 carros elétricos, disse ele.

“A Solinftec permite que seus clientes reduzam custos e, ao mesmo tempo, aprimorem os padrões ESG; não há necessidade de gastar dinheiro com créditos de carbono ”, disse Guiné. “A empresa nasceu no coração do mundo agrícola do Brasil, não no Vale do Silício.”

A empresa, criada em 2007 por sete cubanos, começou prestando apoio tecnológico à gigante do açúcar e do álcool Cosan antes de oferecer os serviços a outros clientes. Depois de usar a tecnologia Solinftec, a Cosan conseguiu reduzir o número de máquinas agrícolas de 250 para 220.

A Solinftec monitora cerca de 80% da safra de cana-de-açúcar do Brasil e está se expandindo no mercado de soja, atendendo a nove dos dez maiores produtores do país. Em todo o mundo, ela monitora 22 milhões de acres (8,9 milhões de hectares) de lavouras, incluindo milho, algodão, café, laranja e eucalipto.

Em junho de 2019, a empresa de Araçatuba, no interior de São Paulo, instalou-se nos Estados Unidos, no Purdue Research Park, em West Lafayette, Indiana. Também possui um escritório em Cali, Colômbia. A Solinftec tem cerca de 600 funcionários e atende clientes em 14 países.

A receita cresceu 60% em 2020, com mais de R$ 100 milhões em contratos recorrentes anuais com prazo médio de cinco anos. A empresa levantou R$ 80 milhões em uma venda de CRA em janeiro de 2020.

  • Fique por dentro das principais tendências das empresas ESG. Assine a EXAME.
Acompanhe tudo sobre:AgriculturaAgronegócioEconomia verdeempresas-de-tecnologialuiza-helena-trajanoMagazine Luiza

Mais de ESG

Mars, dona do M&Ms, recorre ao mercado para financiar aquisição bilionária

Receba dividendos da Petrobras (PETR3, PETR4); data de corte é esta semana

Klabin eleva projeção de investimentos para 2025 e 2026

Allianz irá redistribuir 75% do lucro líquido aos acionistas até 2027