ESG

Em dois discursos, Lula não cita petróleo e fala de combustíveis fósseis uma única vez

O presidente brasileiro cobra ações concretas e alerta para o risco de uma irreversível savanização na Amazônia por causa das mudanças climáticas

Lula: mais destaque aos financiamentos e pouco sobre combustíveis fósseis (Chris Jackson/Getty Images)

Lula: mais destaque aos financiamentos e pouco sobre combustíveis fósseis (Chris Jackson/Getty Images)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 1 de dezembro de 2023 às 09h44.

Em seu segundo discurso na COP28, em Dubai, na Primeira Sessão do Segmento de Alto Nível para Chefes de Estado e de Governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou a necessidade de um olhar mais atento ao aprofundamento da pobreza e das desigualdades.

O líder brasileiro reforçou a importância de definição de metas claras em Dubai como forma de sedimentar o caminho da COP28 até a COP30, no Brasil. Nos próximos dias, será feito o primeiro balanço global do Acordo de Paris.

E, como lembrou o presidente, na COP 29, será definido um novo objetivo quantificável de financiamento. Em Belém, que vai receber a COP em 2025, serão elaboradas as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

Lula falou ainda que as NDCs atuais não estão sendo implementadas na velocidade desejada. Ainda que estivessem, não se conseguiria manter a temperatura abaixo do limite de 1,50.

O presidente citou que o Brasil ajustou sua NDC e se comprometeu com a redução de 48% das emissões até 2025 e 53% até 2030, além de chegar à neutralidade climática até 2050.

“Nossa NDC é mais ambiciosa do que a de vários países que poluem a atmosfera desde a revolução industrial no século XIX”, alfinetou Lula.

Depois de citar alguns avanços brasileiros, Lula lembrou que muitos países do Sul Global não terão condições de implementar suas NDCs ou assumir metas mais ambiciosas. “Os mais vulneráveis não podem ter que escolher entre combater a mudança do clima e combater a pobreza. Terão que fazer ambos”, ressaltou.

Mais uma vez, o presidente brasileiro alfinetou os entraves na liberação de recursos financeiros e transferência de tecnologia para conter o avanço das mudanças climáticas.

“É inaceitável que a promessa de US$ 100 bilhões por ano assumida pelos países desenvolvidos não saia do papel enquanto, só em 2021, os gastos militares chegaram a US$ 2, 2 trilhões”, acusou.

A maior seca da história da Amazônia foi lembrada por Lula, que alertou sobre o risco de um processo de savanização da região de forma irreversível como reflexo do aumento da temperatura global.

Petróleo é poupado

Lula citou ainda que os setores de energia, indústria e transporte emitem muitos gases do efeito estufa. Porém, o presidente admitiu: “Temos que lidar com todas essas fontes”.

Nos dois discursos feitos em Dubai nesta sexta-feira, 1, Lula deixou claro que vai manter a cautela ao falar dos combustíveis fósseis, que foi citado apenas de passagem na primeira apresentação na COP28. A palavra “petróleo” não foi dita pelo presidente nenhuma vez.

A participação de Lula na COP28 acontece um dia depois de o Brasil ser convidado a integrar a OPEP+, formada pelos 13 integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), mais dez países associados, liderados pela Rússia.

Acompanhe tudo sobre:Exame na COP28COP28PetróleoMudanças climáticas

Mais de ESG

Desastres naturais impactam as finanças de um em cada cinco adultos nos EUA

Com aporte de R$ 10,2 mi da JBS, projeto lança CRA para escalar pecuária regenerativa

Gases de efeito estufa contaminam os oceanos, diz tribunal da ONU a favor de 9 Estados insulares

"Se o mercúrio gerado na Amazônia está chegando ao Ártico, está conseguindo chegar em todo Brasil"

Mais na Exame