Como melhorar previsões para tomar decisões mais adequadas para o setor de energia
As mais certeiras podem não ser as mais adequadas para reduzir os custos do sistema elétrico
Colunista
Publicado em 10 de julho de 2024 às 15h00.
Vivemos rodeados de previsões. Qual é a chance de seu time ser campeão brasileiro? Qual é a temperatura que vai fazer nos próximos dias? Qual será a demanda por energia amanhã? Essas previsões afetam nosso dia a dia. Um torcedor quer fazer suas contas antes de comprar o ingresso para o próximo jogo. Queremos ter uma ideia da temperatura para decidir qual roupa vestir. O operador do sistema elétrico precisa de uma previsão da carga para determinar quais usinas serão acionadas a cada momento do dia.
Tradicionalmente, a qualidade das previsões é avaliada pelos seus erros. Matematicamente, esses erros são as diferenças entre as previsões e a realidade medida. Diversas métricas são usadas por estatísticos, cientistas de dados, engenheiros e físicos. Algumas famosas são a média dos valores absolutos dos erros ou a média dos quadrados dos erros. Quanto maiores esses números, mais distantes as previsões se mostram da realidade.
Então, quanto menores os erros, melhor a previsão, certo? Nem sempre. Um exemplo clássico é a previsão do tempo. Como descrito no livro “O sinal e o ruído” de Nate Silver, muitos provedores de previsão do tempo revelaram aumentar artificialmente as probabilidades de chuva. Os usuários dessas previsões são tipicamente avessos à chuva. Se a plataforma indica alta probabilidade de chuva, porém essa não se realiza, não há grandes problemas, apenas levamos um guarda-chuva à toa. No caso contrário, a viagem planejada para a praia ou o piquenique viram uma tragédia com uma chuva que deveria ser improvável.
Se olhamos para previsões sem nos importarmos em como elas são usadas – previsões de uso geral –, de fato, menores erros são o que devemos buscar. Por outro lado, se conhecermos a aplicação em questão, podemos fazer melhor.
O fenômeno por trás dessa questão é a assimetria de custos da aplicação que utiliza da previsão. É o que ocorre no caso da previsão do tempo: chuvas inesperadas tendem a ser menos bem recebidas que dias de sol inesperados. No caso do sistema elétrico, uma projeção de demanda consistentemente maior que a realidade gera um sobrecusto, pois alguns geradores são acionados sem necessidade, porém projeções menores que a realidade deixam o sistema despreparado e necessitando de ajustes de última hora que podem ser muito mais caros.
Metodologias de previsão estão entre os temas mais quentes na literatura e nas conferências sobre inteligência artificial e estatística.Muitos nomes vêm sendo usados para tal área efervescente: “application-driven learning”, “decision-focused learning”, “smart predict-and-optimize”, etc.O tema claramente é importante para diversas áreas. E a pesquisa nacional tem condições de colaborar. Não é necessária a compra de computadores: basta estudo, software e algumas horas de computação em nuvem.
Vamos continuar rodeados de previsões e dependendo delas para tomar as melhores decisões possíveis. Portanto, é essencial nos envolvermos cada vez mais no conhecimento e no desenvolvimento das melhores práticas e do estado da arte dessas metodologias. O Brasil e a comunidade científica nacional precisam estar inseridos ativamente nessa discussão.