A jornada sustentável da Minerva mostra que pecuária e impacto podem andar lado a lado
Investimento em novas tecnologias e avanço em ranking de empresas com menor risco ambiental deixam a Minerva otimista diante dos desafios para uma pecuária menos agressiva
Maria Clara Dias
Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 13h00.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2021 às 22h55.
No início de 2021, a Minerva Foods foi reconhecida como a segunda entre as principais empresas do setor de proteína animal com o menor vínculo com desmatamento em um ranking global da ONG britânica Global Canopy, ficando atrás apenas da JBS. O ranking elencou 500 empresas de todo o mundo que apresentam os menores riscos de exposição a fornecedores de commodities com algum risco florestal.
O resultado é reflexo do esforço contínuo com práticas sólidas de ESG, sigla que tem tomado conta do mercado financeiro e representa a adoção de critérios sociais, ambientais e de governança, segundo Taciano Custodio, diretor de sustentabilidade da Minerva. “Subimos três posições no ranking em um período de um ano. Isso nos ajuda a estabelecer a dianteira e reforçar nosso compromisso social e ambiental acima de tudo”, diz.
Com os investimentos em tecnologias de rastreamento, controle de áreas desmatadas e monitoramento de reservas ambientais e indígenas, a empresa tem debaixo de seu guarda-chuva cerca de 9.000 fornecedores na região amazônica em um raio que abrange mais de 9 milhões de hectares.
Com a pandemia, a preocupação com protocolos mais rígidos de segurança - e higiene - também ajudaram a Minerva a manter a uma posição privilegiada no mercado, segundo Custodio. “A segurança deixou de ser a única preocupação dos consumidores ao comprarem um alimento. Hoje, a sustentabilidade e o pleno conhecimento da cadeia de valor e do que está por trás de um produto é essencial”, diz.
A conduta florestal é uma adição à postura ambiental da empresa, que afirma ter uma política de tolerância zero a maus tratos animais e ao uso de antibióticos de maneira profilática, ou seja, de modo a prevenir doenças.
Analisando a cadeia indireta
Rastrear a origem e a conduta da pecuária em um país com dimensões continentais como o Brasil não é tarefa fácil. Para a Minerva, um desafio adicional também tem relação com a entrada de fornecedores na cadeia: a empresa estima a adesão de 12 mil novos fornecedores indiretos - pecuaristas que criam e fornecem cabeças de gado - anualmente.
Para isso, a Minerva conta com a Vispec, ferramenta de monitoramento e rastreabilidade de fornecedores indiretos no Brasil que analisa e mapeia áreas relacionadas ao desmatamento, terras indígenas, áreas de proteção ambiental e regiões com associação ao trabalho escravo. Desenvolvida pela Universidade de Wisconsin-Madison, o software ajudar a desenvolver e orientar planos de ação viáveis para enfrentar os riscos ambientais da cadeia.
A ferramenta não é nova e ainda está em fase de testes na Amazônia, mas a Minerva obteve recentemente o resultado da operação inicial da Vispec nos Estados de Mato Grosso e Rondônia em seu primeiro ano de existência. Das 3.314 fazendas avaliadas e identificadas como potenciais fornecedores indiretos, 99,9% estão em linha com os critérios da empresa e têm uma conduta socioambiental positiva.
Em um mapeamento feito pela empresa em parceria com a empresa de tecnologia NicePlanet, a Minerva tentou avaliar sua relação com o desmatamento a partir da análise de todas as propriedades rurais da Amazônia Legal registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Foram 630.000 propriedades mapeadas. Destas, 72% não possuem nenhum vínculo com o desmatamento. Para as demais propriedades, o estudo estimou que 90% delas têm extensão inferior a 500 hectares - tamanho mínimo para que uma propriedade seja capaz de produzir o suficiente para atender o mercado internacional de exportação. No caso da pecuária, uma fazenda de 100 a 500 hectares, por exemplo, só é capaz de produzir 3 a 18 cabeças de gado por mês.
A partir desse mapeamento, a Minerva concluiu que a maior parte do desmatamento no Brasil vem de pequenos produtores que usualmente não possuem a cadeia de monitoramento tecnificada. “Falamos de investimento em genética, nutrição, pastagem, infraestrutura. Dificilmente um produtor que não atende a esses requisitos básicos de produção conseguirá se associar a grandes marcas, como a Minerva, para exportar seu produto”, afirma Custodio. Parte da segurança produtiva e ambiental da Minerva está relacionada, portanto, aos protocolos exigidos para seus fornecedores - que estão longe de serem pequenos produtores.
Monitoramento no Cerrado
Em 2020, a Minerva excedeu os limites da Amazônia e levou o monitoramento geográfico de fornecedores diretos ao Cerrado, bioma que sofre com índices alarmantes de desmatamento e que já perdeu 50% de suaárea original. A preocupação com a preservação do Cerrado também é reflexo direto da pressão de investidores e multinacionais por cadeias de menor impacto e comprometimento ambiental.“Somos a primeira empresa do setor a olhar para o problema do desmatamento para além da região amazônica e garantir a rastreabilidade de fornecedores no Cerrado, área tão importante quanto a Amazônia para a pecuária nacional”, diz Custodio.
Para 2021, os planos da Minerva se resumem à uma extensão da capacidade de monitoramento para todos os países onde a empresa opera, marcando presença em 100% das fábricas. Outra novidade está no início do monitoramento da cadeia na Colômbia até dezembro deste ano.
O compromisso ambiental da Minerva também compreende esforços por uma maior eficiência. Entre 2018 e 2019, a empresa reduziu em 41% suas emissões de carbono e gerou uma economia de 5% no consumo energético, segundo dados da empresa. “Estamos voltados a uma atuação neutra em carbono, com compromissos gerais das reduções de nossas emissões”.
Para isso, a empresa vai focar em uma matriz energética mais limpa, a fim de mitigar o risco das mudanças climáticas. “Queremos ser relacionados como uma empresa que produz alimento de maneira limpa", diz Custodio.