A fintech Conta Black atua em um mercado de R$ 437 bilhões. Para alguns investidores, é pouco
Este é o valor que, segundo Sergio All, fundador da startup, corre por fora do sistema financeiro no Brasil. Para quem é negro, nem renda e imóvel garante crédito
Rodrigo Caetano
Publicado em 7 de junho de 2022 às 13h35.
“Vou abrir um banco”, disse Sergio All, fundador da Conta Black, após ter um empréstimo negado. Era difícil entender os critérios. All já era um empresário bem sucedido. Dono de uma agência de comunicação, empregava 30 pessoas. Tinha casa própria, carro. Nome ilibado. “Não posso emprestar para você”, foi o que ouviu do gerente do banco.
No meio da conversa, ele se deu conta da situação. O problema não estava em seu perfil de risco, mas em sua cor. All é negro. Seus pais o prepararam para a vida. Sempre diziam para manter o nome limpo, não fazer dívidas desnecessárias e ser responsável. Ele seguiu o conselho. Mas, nada prepara uma pessoa para o racismo. “Quinze anos depois, olha onde estou”, disse ao podcast ESG de A a Z .
A Conta Black surgiu para resolver um dos maiores problemas do Brasil: a desbancarização. All teve a ideia após deparar com o número de pessoas sem conta bancária no país, acima dos 50 milhões. São cidadãos que, para todos os efeitos, não possuem renda. Estima-se, no entanto, que correm por fora do sistema financeiro 437 bilhões de reais, diz ele. É um contrassenso.
Somente Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, movimenta 950 milhões, dentro e fora do sistema, a partir de 1.500 negócios locais. “Um banco com 70 milhões de clientes está numa situação de conforto e não precisa pensar de forma social”, afirma All. “Parte da população se torna vítima desse sistema.”
Racismo e desinformação no venture capital
Há racismo entre investidores? All acredita que sim, porém, credita à desinformação muitos questionamentos e negativas que recebeu ao longo da trajetória da fintech. A justificativa que mais recebeu para o não foi que seu público alvo tem pouca renda. “Os negros consomem mais de 1 trilhão de reais, os desbancarizados mais de 400 bilhões. Isso é pouco?”, questiona o empreendedor. “Eu não me estresso, busco explicar nossa tese. Às vezes funciona.”
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O nome Conta Black, por sinal, é uma ironia com os cartões “black”, categoria que costuma reunir os produtos mais exclusivos das grandes bandeiras, sem limites. A fintech também é Black por ser voltada ao público negro.
A Conta Black tem, atualmente, 23 mil associados. All acredita que é pouco diante do potencial de clientes. Mas sabe que está em um negócio de alto investimento. “Para crescer, preciso de dinheiro para marketing, tecnologia, pessoas”, afirma. Ele diz que está conversando com alguns investidores e deve fechar um aporte até o segundo semestre. A oportunidade não bate na porta duas vezes.