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Zona do euro se reúne para discutir demandas da Grécia

Ministros da Economia da zona do euro se reúnem para tratar o tema da Grécia, que quer colocar fim à austeridade e renegociar sua dívida

Bandeiras da Grécia: credores rejeitam renegociação da dívida grega (Kostas Tsironis/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2015 às 17h42.

Bruxelas- Os ministros da Economia da zona do euro se reúnem nessa quarta-feira em Bruxelas para tratar o tema da Grécia , que quer colocar fim à austeridade e renegociar sua dívida, o que seus credores rejeitam.

"O início do Eurogrupo será difícil", opinou uma alta fonte europeia. O ministro da Economia grego Yanis "Varoufakis, como (seu colega alemão Wolfgang) Schäuble partem de posições muito distantes", acrescentou.

A reunião de ministros da Economia que acontece nesta tarde em Bruxelas, véspera de uma cúpula de chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) e no dia seguinte de uma reunião do G20 em Istambul, onde o ministro alemão se mostrou inflexível e o tom subiu entre Berlim e Atenas.

O ministro grego deve apresentar nesta tarde suas propostas para um novo plano de financiamento e reformas.

"Vamos escutar o plano do ministro grego", disse o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, ao chegar à reunião.

"Formalmente temos um programa, portanto, a primeira pergunta é como avançar com esse programa", acrescentou.

A pergunta, disse uma fonte europeia, é: "Quais são as prioridades da Grécia e como planeja financia-las?". "Esperamos que Varoufakis apresente uma posição coerente", ressaltou.

Uma fonte diplomática estimou que, segundo as informações da imprensa, "as propostas da Grécia não vão no sentido de gerar mais crescimento e reduzir a dívida mas de paliativo para um mal-estar social".

A UE insiste para que Grécia aceite as condições atuais pactuadas no âmbito do plano de resgate e peça uma extensão do programa, que termina no final de fevereiro, antes de estudar soluções sobre como reduzir sua dívida gigantesca, em torno de 175% de seu PIB.

Atenas se opõe. Não quer pedir uma extensão de seu programa e quer em troca que se crie um "programa ponte". Dentro das reformas já pactadas com seus credores propõe cumprir 70%, enquanto os 30% restantes seriam substituídos por uma série de reformas elaboradas com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Mas Berlim não quer ouvir falar de um novo programa de ajuda. "Já temos um programa de resgate", insistiu o ministro Wolfgang Schäuble na terça-feira, em referência ao segundo plano de ajuda de 130 bilhões de euros concedido à Grécia desde 2012, e do qual ainda resta uma parcela de 7,2 bilhões.

O Eurogrupo deve tomar uma decisão no máximo até 16 de fevereiro, quando os ministros da Economia dos 19 membros do bloco voltam a se reunir, uma data limite que deve permitir a vários parlamentos nacionais dar o seu aval, como a Alemanha ou a Finlândia, dois países defensores da ortodoxia fiscal.

"Os países do norte não se sentem nada afetados nem preocupados pela perspectiva de uma saída da Grécia da zona do euro", disse uma fonte próxima às discussões.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, começa a demonstrar cansaço com Atenas.

Juncker, ex-primeiro-ministro luxemburguês e ex-presidente do Eurogrupo, chamou Tsipras de "estudante dp primeiro ano de medicina" que quer fazer uma operação sem ter competência", confidenciou uma fonte europeia. Na terça-feira, a Comissão expressou seu ceticismo sobre um possível acordo com a Grécia esta semana.

São Paulo – Após as eleições parlamentares no final de semana, a Grécia está hesitante quanto a manutenção das medidas de austeridade. A maioria do eleitorado rejeitou o compromisso firmado pelo país com a União Europeia e o FMI, gerando medo nos mercado globais.  Mesmo os partidos que, na semana passada, garantiram que aplicariam o plano da UE e do FMI tem considerado a possibilidade de renegociar os acordos para fazer a economia respirar.  No ultimo final de semana, aproximadamente 70% dos eleitores gregos votaram em partidos anti-austeridade para o parlamento. O resultado deixa claro o que a população pensa sobre o uso da austeridade para combater a crise na região. E eles não estão sozinhos. Entre os economistas, a austeridade está longe de ser unânime. Clique nas fotos para ver o que alguns economistas pensam sobre a austeridade na Grécia.
  • 2. Luiz Gonzaga Belluzzo: “Alguém precisa gastar”

    2 /7(Agência Brasil)

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    “É como encher um saco furado”, disse Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e professor, sobre as medidas de austeridade na Grécia. Para Belluzzo, é necessário reestruturar a dívida e abrir espaço fiscal para os governos gastarem a fim de começar a recuperação econômica, o crescimento da receita e a diminuição do déficit. “Alguém precisa gastar. A economia não funciona com todo mundo cortando gastos”, afirmou. Se o Estado tenta economizar em uma situação em que a demanda já está deprimida, a receita do Estado cai ainda mais e a dívida aumenta, de acordo com Belluzzo. “Tem que reativar a economia para as pessoas terem dinheiro para gastar e as empresas também. Ao mesmo tempo, tem que reduzir a dívida”, afirmou. Para o economista, é necessário penalizar “quem pode ser penalizado”, ou seja, quem detém papéis da dívida grega, e não a população. “A Angela Merkel quer que os outros façam austeridade para pagar os bancos alemães. Como os bancos alemães são credores dos bancos estrangeiros, eles exigem austeridade”, disse. Mas é uma austeridade ineficaz, segundo o economista. Para Belluzzo, a crise grega é uma sucessão de piores momentos. “Não vejo como a Grécia vai sair dessa situação. Ou sai do euro ou faz uma reestruturação profunda da divida”, disse.
  • 3. Maílson da Nóbrega: Austeridade tem lógica, mas não mostra resultado esperado

    3 /7(RICARDO BENICHIO/VEJA)

  • A austeridade tem sua lógica, segundo o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. Mas é necessário pensar se ela deve ser preservada da forma como está sendo feita, já que há uma “evidência inequívoca” de que ela não está produzindo o resultado que se esperava. O ideal seria atrelar a austeridade no longo prazo a gastos no curto, o que é fácil de falar e difícil de fazer, segundo o consultor. “O ideal é gastar mais agora, sinalizando que lá na frente a dívida cai como proporção do PIB e o déficit público também. Como fazer isso, tem que ter muita arte. Eu, sinceramente, não sei como faz”, disse. Segundo o ex-ministro, também é necessário convencer os financiadores do governo de que eles serão pagos no futuro. A eleição de François Hollande para presidente da França, no último domingo, mostra que os eleitores francesas optaram por um candidato que prometia lutar contra a austeridade – e que terá de convencer seus pares na Europa disso, segundo Maílson. “Os europeus estão preferindo privilegiar o corte de gastos no curto prazo, mas eu acho que isso está se esgotando politicamente”, disse.
  • 4. Alexandre Schwartsman: “Esquece a Grécia, é um caso perdido”

    4 /7(Germano Lüders/EXAME.com)

    “Esquece a Grécia”, afirmou Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. “É um caso perdido. Se há algum dinheiro, deve ser usado para ajudar quem tem condição de se salvar”, disse. Para Schwartsman, as medidas para a Grécia serem muito ou pouco austeras não é o centro do problema. A expansão fiscal é “absolutamente impensável” para a Grécia, segundo Schwartsman. “Por isso eles estão numa sinuca de bico, um país que não tem estímulo fiscal, não pode fazer, tem uma taxa de juros alta, e não tem câmbio que desvalorize. Não tem o que segure. Por isso precisa dar estímulo de demanda vindo de fora”, disse. Para o economista, os países da zona do euro que podem fazer expansão fiscal deveriam faze-la para mitigar os efeitos da recessão nos países periféricos. Uma expansão fiscal na Alemanha, por exemplo, geraria demanda para o resto da zona do euro, estimulando países como a Espanha. “Não dá pra ficar só na austeridade fiscal, quem pode fazer expansão fiscal deve fazer hoje pra melhorar sua situação daqui a uns anos. Mas isso é para um conjunto limitado de países, como Alemanha, Holanda e Finlândia. França já tenho minhas dúvidas”, afirmou.
  • 5. Luiz Carlos Mendonça de Barros: Ajuste é condição necessária, mas não é suficiente

    5 /7(EXAME.com)

    A atual situação fiscal – ruim – da Europa demanda redução de déficits e estabilização da dívida dos países em relação ao PIB, segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES. “Mas quem conhece um pouco de situações similares, sabe que esse ajuste é condição necessária, mas não é suficiente”, afirmou. A ideia que prevaleceu desde o começo da crise – de que se não houvesse uma prioridade ao ajuste fiscal, países como Grécia e Itália e outros que tem déficits muito grandes não tomariam as medidas necessária – vem mostrando uma nova face, segundo Mendonça de Barros. “Agora está se vendo outro lado da moeda: que a austeridade sozinha leva a recessão, que acaba fazendo com que o ajuste fiscal seja muito mais difícil porque o PIB cai na mesma proporção que caem os gastos do governo”, explicou. O discurso europeu está mudando, segundo o economista, e caminha para a defesa de reformas, com um certo alívio para os países que estão com mais problemas.
  • 6. Paul Krugman: É tempo de seguir em frente

    6 /7(Jeff Zelevansky/Getty Images)

    Para Paul Krugman, as eleições parlamentar na Grécia e presidencial na França no último final de semana funcionaram como referendo da estratégia econômica da Europa – e os dois países indicaram oposição à austeridade. “Cortes de gastos em uma economia deprimida apenas deixam a depressão mais profunda”, escreveu Krugman em artigo no The New York Times. Krugman, sobre a situação europeia. Os últimos dois anos mostraram que cortar os gastos do governo não incentivou consumidores e empresas a gastarem mais, segundo o economista. A eleição de Hollande quebra a aliança “Merkozy” (entre Sarkozy e Angela Merkel, da Alemanha) que guiava o regime de austeridade. “Isso seria perigoso se a estratégia estivesse funcionando, ou tivesse uma chance razoável de funcionar. Mas não está. É tempo de seguir em frente”, disse Krugman.
  • 7. George Soros: Austeridade deve vir com programas de estímulo

    7 /7(Getty Images/Alex Wong)

    O empresário e megainvestidor George Soros defende que as reformas estruturais e a austeridade sejam acompanhadas por programas de estímulo, como forma de evitar que a Europa caia em uma “armadilha deflacionária da dívida”.  “O empurrão de Berlim para a austeridade e regras mais duras para o déficit no orçamento no pacto fiscal da região está empurrando a Europa para uma armadilha deflacionária da dívida”, afirmou o empresário ao Wall Street Journal.  Soros criticou a atuação da Alemanha durante a crise. Para ele, as medidas de restrição de crédito tomadas pelo Bundesbank, o Banco Federal Alemão, podem contagiar outros países, além de frear a demanda de consumo necessária para que os países devedores possam ganhar fôlego e cumprir suas metas junto aos credores.  Para Soros, os problemas fundamentais não foram resolvidos e que o gap entre países credores e devedores vai continuar a crescer.
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