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Vitória apertada de Chinaglia não facilita situação de Lula

Equilíbrio de forças entre blocos da Câmara obrigará o presidente a negociar ainda mais

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h27.

O petista Arlindo Chinaglia foi eleito, na noite desta quinta-feira (1/2), presidente da Câmara dos Deputados. Embora integre a base do governo, sua vitória foi apertada e demonstrou um forte equilíbrio de forças entre os grupos que se declaram situacionistas. No segundo turno da eleição, Chinaglia venceu o ex-presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB), por apenas 18 votos de diferença - 261 a 243. No primeiro turno, o candidato tucano Gustavo Fruet havia conseguido 98 votos. Para Roberto Romano, professor de ética e política da Unicamp, o resultado não facilita a situação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Lula terá de fazer uma distribuição muito adequada de cargos, ou a maioria vai se corroer rapidamente", diz.

Segundo Romano, Lula é responsável por boa parte da sinuca em que caiu, ao adiar a formação do novo ministério para depois das eleições do Congresso. Ao demonstrar hesitação e não impedir o surgimento de chapas governistas concorrentes - o presidente chegou a comparar o episódio à disputa entre dois filhos, na qual o pai não deve se meter -, Lula permitiu que a base se dividisse. Agora, com forças tão equilibradas entre os que apoiaram Chinaglia e os partidários de Aldo, o presidente precisará negociar muito mais para não descontentar ninguém. "Ele terá de entrar no velho jogo do ';é-dando-que-se-recebe. E o problema é que nunca se sabe qual é o limite para o fisiologismo", afirma Romano.

Chinaglia também não saiu tão forte da disputa, quanto se esperava. Com isso, o petista, que comandará a Câmara no biênio 2007-2008, terá também que dialogar muito mais com os membros da base aliada e com a oposição para conduzir os projetos de interesse do governo. Os riscos são claros. Basta lembrar que o tão propagandeado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pedra fundamental do segundo mandato de Lula, conta com seis medidas provisórias - como a que cria um fundo de investimento para obras de infra-estrutura - e cinco projetos de lei - entre eles, o que estabelece novas regras para o aumento com gastos com servidores públicos e encargos sociais. "O novo presidente da Câmara não terá tanta latitude para atuar", diz Romano.

As fissuras da base governista acompanham Lula desde o primeiro mandato. O estopim foi as denúncias do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que haveria um esquema de compra de parlamentares, em troca de apoio a projetos do Executivo. O "mensalão", como ficou conhecido o episódio, derrubou homens fortes do primeiro mandato, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e Antônio Palocci, que comandava a Fazenda e era visto pelos investidores como o principal lastro da política econômica ortodoxa de Lula. Desde que eclodiu, em meados de 2005, a crise política virtualmente paralisou o governo. "No primeiro mandato, todos os problemas de Lula vieram da base aliada", lembra Romano.

O risco agora, é que a distribuição de cargos finitos entre aliados com ambições insaciáveis gere um novo descontentamento, e outras crises eclodam. "Lula não saiu confortável desta eleição da Câmara", resume o professor da Unicamp.

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