Não tenho temperamento para coordenar reforma da Previdência, diz Guedes
Chefe da equipe econômica ressaltou que até mesmo o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tem dificuldades na articulação política da proposta
Reuters
Publicado em 8 de abril de 2019 às 18h39.
Última atualização em 8 de abril de 2019 às 19h03.
Brasília - O ministro da Economia, Paulo Guedes , afirmou nesta segunda-feira, 8, não ter a pretensão de ser o coordenador político da reforma da Previdência . "Vocês viram meu desempenho (na audiência da Comissão de Constituição e Justiça). Não tenho temperamento para isso", afirmou, arrancando risos da plateia.
O ministro da Economia disse que o clima é extraordinariamente construtivo com os presidentes da Câmara e Senado e lembrou que o próprio ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tem dificuldades na coordenação política porque houve mudança na negociação. "Mudou do varejo para o atacado", completou.
Guedes defendeu ainda que os bancos públicos terão que devolver recursos para a União neste ano e que o dinheiro será usado para abater o déficit primário. "Vamos fazer dinheiro sair do chão", disse o ministro, que participa de um evento organizado pelos jornais O Globo e Valor Econômico para debater sobre os 100 primeiros dias de gestão do governo Bolsonaro.
Segundo Guedes, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) irá devolver 126 bilhões de reais à União. Já para a Caixa e o Banco do Brasil Guedes não deu valores. No entanto, segundo o ministro, ambos fizeram "pedaladas" nos últimos anos, precisam devolver recursos e terão que vender subsidiárias para isso.
Guedes defendeu a venda de ativos do Estado para enxugar a máquina pública. Vamos vender ativos, a mensagem é clara", disse ele, afirmando que o governo tem atualmente 700 mil imóveis. Ele falou ainda sobre participação em estatais para reduzir a dívida. "Os juros da dívida são inaceitáveis, todos os economistas brasileiros viraram banqueiros", completou.
O ministro voltou a falar sobre a reforma da Previdência e disse que só não adotou as mudanças defendidas pelo economista Armínio Fraga porque quer "uma viagem mais longa em direção a capitalização".
Ele afirmou ainda que 50% do funcionalismo federal se aposenta nos próximos cinco anos e que, com isso, haverá redução no número de servidores, que só serão repostos pontualmente. "Travamos concurso público, vai desidratar pela metade por aposentadoria", disse.
O chefe da equipe econômica de Bolsonaro disse ainda que o final do governo militar foi "extremamente conturbado" do ponto de vista econômico. Segundo ele, as consequências de crises cambiais desse período são sentidas até hoje. Em sua palestra, Guedes fez um breve panorama sobre os últimos 40 anos das políticas econômicas do País. "Há um vilão nesses 40 anos que é o descontrole dos gastos públicos", afirmou.
"É natural após 20 anos de regime militar que houvesse governos sociais democratas. Processo foi uma transição meritória, porém incompleta", disse. Segundo ele, nas últimas décadas havia uma pauta meritória de dar dinheiro para educação e saúde. "Estava na Constituição a descentralização de recursos", disse, lembrando que a concentração precisava ser revertida, "para refletir as verdadeiras aspirações".
"O nível de reserva desejável seria mais baixo se houvesse estudos antes (das crises cambiais)", afirmou. "Tenho artigos escritos à época apoiando o Plano Real", falou sobre o período mais recente.
"Salário indexado hoje, será que queremos? E carimbar recursos de saúde e educação?", questionou o ministro. Ele chegou a citar ainda que, quando o excesso de gastos corrompe a política, acontece impeachment, "à direita e à esquerda". Para ele, o Executivo buscar sustentação parlamentar de forma não republicana desperta o Judiciário. "Estou numa democracia vibrante, acredito no trabalho da mídia, congressistas e justiça", disse. "Votei 30 anos com opções somente sociais democráticas, não tem problema nenhum", disse.
Ainda na palestra, Guedes citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um "social democrata populista" e se corrigiu na sequência: "social democrata chão de fábrica".
Sobre a Nova Previdência, o ministro disse que o governo "gasta muito e mal" e que a aposentadoria "vai engolir tudo". "Previdência é fábrica de privilégios e desigualdade. História de que a reforma da Previdência ataca os pobres não é verdade", disse.
Guedes voltou a afirmar que, sem impacto de R$ 1 trilhão na reforma, não terá capitalização. "Único defeito possível da capitalização é não dar salário mínimo, isso é contornável", disse. "Temos que atacar frontalmente grandes gastos."