UE queima seu último cartucho para deter guerra comercial com Trump
Titular da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tentará nesta quarta-feira, 25, em Washington, distensionar guerra aberta pelo presidente americano
AFP
Publicado em 24 de julho de 2018 às 17h58.
O titular da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tentará nesta quarta-feira (25), em Washington, distensionar a guerra comercial aberta pelo presidente americano, Donald Trump , em meio a temores sobre seu impacto no crescimento mundial.
A União Europeia (UE) envia ao chefe da Comissão, encarregada da política comercial, depois que as viagens em abril dos líderes de suas principais economias, a alemã Angela Merkel e o francês Emmanuel Macron, não impediram as tarifas sobre produtos siderúrgicos de Trump.
Washington não somente aumentou suas tarifas sobre o aço e o alumínio da UE, e de outros parceiros como México e Canadá, em junho, como também ameaçou impor taxas mais altas sobre as suas importações de veículos europeus.
A reunião com Trump representa uma "oportunidade para desdramatizar qualquer tensão potencial sobre comércio e engajar-se em um diálogo aberto e construtivo com nossos parceiros americanos", disse na segunda-feira o porta-voz do executivo comunitário, Margaritis Schinas.
Juncker viaja sem "ofertas" dos europeus, informou Schinas, tentando tirar leite de pedra do encontro com o imprevisível presidente americano em um contexto tenso sobre outros temas, como o Acordo sobre o Clima, a Otan ou o Irã.
Após sua reunião na Casa Branca às 13H30 de Washington (17H30 GMT, 14H30 pelo horário de Brasília), o titular do executivo comunitário pronunciará um discurso às 16H00 (20H00 GMT, 17H00 de Brasília) no influente "think tank" sobre política externa Center for Strategic and International Studies.
"Provocações"
Os Estados Unidos foram o primeiro parceiro comercial da UE em 2017 em intercâmbio de bens, com um volume total de 630 bilhões de euros. O comércio de máquinas e equipamentos para transporte é de 44% entre os dois lados do Atlântico.
O desejo de Donald Trump de impor maiores tarifas sobre os veículos europeus pode gerar um impacto maior do que a taxação sobre o aço e o alumínio, sobretudo para a principal economia europeia, a Alemanha, cujo setor automotivo conta com 800.000 trabalhadores.
"Continuaremos respondendo diretamente às provocações", advertiu na quarta-feira passada o chefe da Comissão Europeia, instituição que começou a preparar uma lista com produtos dos Estados Unidos que teriam as tarifas aumentadas caso a ameaça de Washington se concretize.
A chanceler alemã, que na sexta-feira expressou sua confiança em Juncker para deter a escalada, se mostrou favorável em julho a iniciar negociações internacionais para reduzir as tarifas sobre a indústria automotora, mas com todos os parceiros da UE.
A UE atualmente impõe uma tarifa de 10% sobre os veículos importados do território americano, inclusive os fabricados por companhias europeias, enquanto que os Estados Unidos impõem 2,5%, exceto a caminhonetes e pick-ups (25%).
"Arca na cabeça"
O conflito é "a pior solução", advertiu Merkel. E as possíveis tarifas sobre os automóveis não somente violariam as regras da Organização Mundial de Comércio ( OMC ), como também poderiam "colocar em risco a prosperidade de muitas pessoas no mundo", acrescentou.
As disputas comerciais abertas por Trump dominaram as negociações da reunião dos ministros das Finanças do G20 no último final de semana na Argentina, onde os EUA pediram à UE para fazer concessões nas vésperas de um acordo de livre-comércio entre ambos.
"Se a Europa acredita no livre-comércio, estamos dispostos a assinar um acordo de livre-comércio sem tarifas, sem barreiras não tarifárias, sem subsídios. Tem que ser os três", disse o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin.
O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, respondeu rapidamente. "Nos negamos a negociar com uma arma na cabeça", disse em referência às tarifas sobre os produtos siderúrgicos e à ameaça de novas taxações aos automóveis europeus.
A chegada de Trump à Casa Branca em 2017 deixou em suspenso as negociações entre a UE e os Estados Unidos de um polêmico acordo comercial, conhecido como TTIP e que, como a Comissão lembrou em março, pretendia eliminar as tarifas sobre veículos.
Os europeus aproveitaram o vácuo deixado por um Estados Unidos protecionista para promover sua agenda comercial. Depois de alcançar esse objetivo com o Canadá, a UE fechou acordos com Japão e México, e continua a negociar com o Mercosul.