UE e FMI pressionam Atenas, que aposta no referendo
O presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, não fez rodeios e disse esperar uma vitória do "Sim" no domingo
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2015 às 10h05.
Luxemburgo - Com declarações duras e previsões sombrias, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) entraram com força no debate, nesta quinta-feira, sobre o referendo grego de domingo, do qual depende a sobrevivência do governo esquerdista de Atenas.
O presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, não fez rodeios e disse esperar uma vitória do "Sim" no domingo, "para que chegue ao poder um governo de tecnocratas" e acabe "a era Syriza", o partido de esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Horas antes, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, declarou que o Executivo pode se demitir se ganhar o "Sim" às propostas dos credores internacionais no passado fim de semana. Pessoalmente, acrescentou que "deixará de ser" ministro se o 'sim' vencer.
"Respeitaremos a escolha do povo grego. Colocarei em marcha o procedimento previsto na Constituição", disse Tsipras em entrevista ao canal de televisão ANT1, sem especificar o que fará em caso de vitória do "sim".
Já em entrevista à rede britânica BBC News, Varoufakis considerou ter "100% de chance" na obtenção de um acordo com os credores, após o referendo.
"Um acordo será encontrado, saia um 'sim', ou um 'não' das urnas", frisou, criticando duramente a política da UE.
"Temos um sistema de governança muito ruim na Europa. Não é o jeito de dirigir uma união monetária. É uma paródia. É uma comédia de erros há cinco anos agora", afirmou.
No país, a campanha do referendo causou o primeiro racha na coalizão do governo entre o Syriza e a direita soberanista dos Gregos Independentes (ANEL). Um deputado deste último, Constantinos Damavolitis, foi excluído do seu grupo parlamentar por se pronunciar em favor do "sim".
"Estamos em guerra e não teremos indulgência. Os que não suportam a guerra, que saiam", disse o líder do ANEL e ministro da Defesa, Panos Kammenos, para justificar a decisão.
Os mercados internacionais e os credores do país (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) aguardam, ansiosos, o resultado do referendo.
Nesta quinta-feira, a Grécia vive o quarto dia de controle de capitais, com um limite no saque em dinheiro dos caixas automáticos de 60 euros por dia e por pessoa.
Os bancos fecharam na segunda-feira passada e deviam permanecer assim até 6 de julho, assim como a Bolsa de Atenas.
Na quarta-feira, no entanto, abriram as portas para que os aposentados pudessem tirar dinheiro sem cartão de crédito. Hoje, o Banco Nacional da Grécia, o Banco do Pireu e o Alpha também abriram para os clientes que quisessem fazer depósitos, ou efetuar pagamentos dentro da Grécia.
Enquanto isso, na televisão, sucedem-se os espaços dedicados ao "sim" e ao "não". Nas ruas de Atenas, era possível ver um cartaz agressivo com a foto do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, sob o lema: "Há 5 anos está sugando o seu sangue. Agora diga NÃO".
As manifestações também continuavam, com uma passeata do Partido Comunista, em Atenas, que levou 6.000 pessoas às ruas, segundo a polícia, e convocou os participantes a votarem nulo no referendo, em oposição ao governo.
Ao mesmo tempo, 1.200 manifestantes antissistema protestaram em frente à universidade.
Em um país muito polarizado, o Conselho de Estado, a mais elevada jurisdição administrativa do país, examinará na sexta-feira a legalidade do referendo de domingo, após um recurso apresentado na quarta-feira por dois cidadãos.
Perspectivas sombrias do FMI
Na terça-feira, a Grécia entrou em "default" com o FMI, ao não conseguir honrar o pagamento de uma parcela de 1,5 bilhão de euros com a instituição. No mesmo dia, expirou o plano europeu de assistência financeira ao país, já que, na falta de acordo, seus parceiros decidiram não prolongá-lo.
Em um relatório publicado nesta quinta-feira, o FMI disse que a Grécia precisará de uma nova ajuda de 36 bilhões de euros dos europeus nos próximos três anos.
O Fundo cortou drasticamente para baixo sua perspectiva de crescimento deste ano para a Grécia: dos 2,5% esperados em abril para 0%.
Perspectivas que "dão toda a razão ao governo grego" a propósito da dívida, que quer reestruturar para que a economia seja "viável", respondeu o porta-voz do Executivo, Gabriel Sakellaridis.
Para Atenas, o objetivo do referendo é que o povo rejeite as "duras" condições exigidas pelos credores, "um passo decisivo para um acordo melhor", afirmou Tsipras nesta quarta-feira em discurso à nação.
Ao contrário, para muitos líderes da UE, o sentido da consulta está muito claro: saber se a Grécia quer, ou não, permanecer na zona do euro.
"No caso do 'não' (...), a situação será muito difícil para a Grécia", advertiu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.
Segundo uma pesquisa publicada nesta quarta-feira pela imprensa grega, a relação entre o "Não" e o "Sim" passou de 57%-30% para 46%-30%, com muitos indecisos.
Diante desse panorama, Alexis Tsipras exortou nesta quinta-feira os gregos "à unidade nacional" para "superar a dificuldade temporária" que o país atravessa. Ele prometeu que, depois do referendo, o país continuará "unido".
Luxemburgo - Com declarações duras e previsões sombrias, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) entraram com força no debate, nesta quinta-feira, sobre o referendo grego de domingo, do qual depende a sobrevivência do governo esquerdista de Atenas.
O presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, não fez rodeios e disse esperar uma vitória do "Sim" no domingo, "para que chegue ao poder um governo de tecnocratas" e acabe "a era Syriza", o partido de esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Horas antes, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, declarou que o Executivo pode se demitir se ganhar o "Sim" às propostas dos credores internacionais no passado fim de semana. Pessoalmente, acrescentou que "deixará de ser" ministro se o 'sim' vencer.
"Respeitaremos a escolha do povo grego. Colocarei em marcha o procedimento previsto na Constituição", disse Tsipras em entrevista ao canal de televisão ANT1, sem especificar o que fará em caso de vitória do "sim".
Já em entrevista à rede britânica BBC News, Varoufakis considerou ter "100% de chance" na obtenção de um acordo com os credores, após o referendo.
"Um acordo será encontrado, saia um 'sim', ou um 'não' das urnas", frisou, criticando duramente a política da UE.
"Temos um sistema de governança muito ruim na Europa. Não é o jeito de dirigir uma união monetária. É uma paródia. É uma comédia de erros há cinco anos agora", afirmou.
No país, a campanha do referendo causou o primeiro racha na coalizão do governo entre o Syriza e a direita soberanista dos Gregos Independentes (ANEL). Um deputado deste último, Constantinos Damavolitis, foi excluído do seu grupo parlamentar por se pronunciar em favor do "sim".
"Estamos em guerra e não teremos indulgência. Os que não suportam a guerra, que saiam", disse o líder do ANEL e ministro da Defesa, Panos Kammenos, para justificar a decisão.
Os mercados internacionais e os credores do país (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) aguardam, ansiosos, o resultado do referendo.
Nesta quinta-feira, a Grécia vive o quarto dia de controle de capitais, com um limite no saque em dinheiro dos caixas automáticos de 60 euros por dia e por pessoa.
Os bancos fecharam na segunda-feira passada e deviam permanecer assim até 6 de julho, assim como a Bolsa de Atenas.
Na quarta-feira, no entanto, abriram as portas para que os aposentados pudessem tirar dinheiro sem cartão de crédito. Hoje, o Banco Nacional da Grécia, o Banco do Pireu e o Alpha também abriram para os clientes que quisessem fazer depósitos, ou efetuar pagamentos dentro da Grécia.
Enquanto isso, na televisão, sucedem-se os espaços dedicados ao "sim" e ao "não". Nas ruas de Atenas, era possível ver um cartaz agressivo com a foto do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, sob o lema: "Há 5 anos está sugando o seu sangue. Agora diga NÃO".
As manifestações também continuavam, com uma passeata do Partido Comunista, em Atenas, que levou 6.000 pessoas às ruas, segundo a polícia, e convocou os participantes a votarem nulo no referendo, em oposição ao governo.
Ao mesmo tempo, 1.200 manifestantes antissistema protestaram em frente à universidade.
Em um país muito polarizado, o Conselho de Estado, a mais elevada jurisdição administrativa do país, examinará na sexta-feira a legalidade do referendo de domingo, após um recurso apresentado na quarta-feira por dois cidadãos.
Perspectivas sombrias do FMI
Na terça-feira, a Grécia entrou em "default" com o FMI, ao não conseguir honrar o pagamento de uma parcela de 1,5 bilhão de euros com a instituição. No mesmo dia, expirou o plano europeu de assistência financeira ao país, já que, na falta de acordo, seus parceiros decidiram não prolongá-lo.
Em um relatório publicado nesta quinta-feira, o FMI disse que a Grécia precisará de uma nova ajuda de 36 bilhões de euros dos europeus nos próximos três anos.
O Fundo cortou drasticamente para baixo sua perspectiva de crescimento deste ano para a Grécia: dos 2,5% esperados em abril para 0%.
Perspectivas que "dão toda a razão ao governo grego" a propósito da dívida, que quer reestruturar para que a economia seja "viável", respondeu o porta-voz do Executivo, Gabriel Sakellaridis.
Para Atenas, o objetivo do referendo é que o povo rejeite as "duras" condições exigidas pelos credores, "um passo decisivo para um acordo melhor", afirmou Tsipras nesta quarta-feira em discurso à nação.
Ao contrário, para muitos líderes da UE, o sentido da consulta está muito claro: saber se a Grécia quer, ou não, permanecer na zona do euro.
"No caso do 'não' (...), a situação será muito difícil para a Grécia", advertiu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.
Segundo uma pesquisa publicada nesta quarta-feira pela imprensa grega, a relação entre o "Não" e o "Sim" passou de 57%-30% para 46%-30%, com muitos indecisos.
Diante desse panorama, Alexis Tsipras exortou nesta quinta-feira os gregos "à unidade nacional" para "superar a dificuldade temporária" que o país atravessa. Ele prometeu que, depois do referendo, o país continuará "unido".