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‘Turismo de paixão’ para ver shows tem crescido muito no Brasil, diz diretora do Airbnb

Fiamma Zarife conta que viajantes estão compensando falta de feriados com viagens para eventos musicais

Fiamma Zarife, diretora do Airbnb para a América do Sul (Túlio Vidal/Divulgação)
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 20 de outubro de 2024 às 06h14.

Última atualização em 21 de outubro de 2024 às 10h39.

As viagens para ver shows, apelidadas de "turismo de paixão", tem ganhado espaço no Airbnb no Brasil e ajudado a empresa a manter bons números no país.

Além disso, o aplicativo tem se expandido para mais cidades e já teve hospedagens em 2.330 municípios do país, quase metade do total.

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"A gente viu as buscas subirem 80% por causa dos shows do Bruno Mars, de mais de 1.000% para o show da Madonna e de 2.000% no Rock in Rio", conta Fiamma Zarife, diretora do Airbnb para a América do Sul, em conversa com a EXAME.

"O brasileiro adora viajar. Ele arranja sempre um um jeitinho de dar uma escapada. A gente teve menos feriados desse ano. Às vezes, para compensar isso, as pessoas falam ‘então vamos para o show'", prossegue Zarife.

Ela aponta que o Airbnb teve um crescimento de 17% na América Latina no segundo trimestre, em relação com o mesmo período do ano passado, e que há otimismo com o Brasil.

Zarife conversou com a EXAME durante um evento em São Paulo em que o Airbnb anunciou novidades na plataforma, como a criação do modelo de co-anfitrião. O dono de um imóvel poderá encontrar, dentro da plataforma, outra pessoa que já aluga casas e se dispõe a cuidar de tudo, como tirar fotos do imóvel, preparar o local e falar com os visitantes. Em troca, esta pessoa pode receber uma taxa fixa ou um percentual do total da locação, a ser negociado. O valor geralmente fica entre 15% e 25% do total da locação. Veja a seguir outras partes da entrevista.

Como estão as perspectivas do Airbnb para o Brasil?

Os resultados do segundo trimestre mostraram a América Latina com um resultado bastante expressivo para o Airbnb, com crescimento de 17% ano contra ano. No Brasil, temos números bastante positivos. Pela primeira vez, mais de 2.330 cidades tiveram reservas pelo Airbnb. Foi a maior distribuição de turismo que vimos na plataforma. Tivemos mais de 165 cidades com hospedagens do Airbnb que foram visitadas pela primeira vez. Estamos vendo essa tendência de distribuição continuar em 2024, com o turismo doméstico bastante forte na plataforma e muitas viagens para destinos não urbanos. As viagens em famílias e em grupos são uma tendência muito forte no Brasil, até pela nossa cultura. A gente gosta de viajar junto, de levar a família. Estamos positivos que vamos fechar o ano com bons resultados. Estamos também nos preparando também para a COP30, no ano que vem. Fechamos uma parceria com o governo do Pará, para trazer turismo sustentável e ajudar com informações mercadológicas para políticas públicas.

Como a redução do home office tem afetado o mercado de viagens?

No Airbnb, continuamos com uma política bastante flexível. A gente acha que não pode limitar a aquisição de talentos pela geografia. A redução do home office diminui um pouco a flexibilidade das pessoas, como a de poderem trabalhar durante a semana de algum outro lugar, mas vemos as pessoas aproveitando muitas oportunidades para viajar, como os shows. A gente viu as buscas subirem 80% por causa dos shows do Bruno Mars, de mais de 1.000% para o show da Madonna e de 2.000% no Rock in Rio. É um turismo de paixão. São viagens que continuam acontecendo fora do fim de semana e de feriados prolongados. Continuamos vendo um aumento dessas viagens curtas. Vamos avaliar agora como vai ser essa acomodação do home office, mas o brasileiro adora viajar. Ele arranja sempre um jeitinho de dar uma escapada. A gente teve menos feriados desse ano. Às vezes, para compensar feriados em que não vão viajar, as pessoas falam ‘então vamos para um show’.

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Como a situação da economia, com dólar um tanto instável, afeta o mercado brasileiro?

O mercado doméstico sempre foi muito mais forte. Nos últimos trimestres, 80% das viagens dos brasileiros são feitas no Brasil. Essa média pode aumentar um pouquinho. Quando há uma valorização maior do dólar, as pessoas seguram e viajam aqui dentro. Elas aprenderam a descobrir as belezas do Brasil. Elas podem não ir para fora, mas compensam aqui dentro.

Como está o mercado de turismo em outros países da América Latina, especialmente na Argentina?

A gente passou por um momento mais tumultuado ali nas eleições e geralmente nesses momentos as pessoas recuam seus gastos. Elas ficam esperando um pouco para ver a situação se acalmar.  Não posso abrir números, mas temos visto uma volta gradual do turismo doméstico na Argentina. Ainda vai ter muitos altos e baixos, mas as pessoas estão começando a ter um pouco mais de de tranquilidade para fazer algumas viagens ainda dentro da Argentina. Para alguns outros destinos, como o Brasil, vai se recuperar aos poucos. Depende de muitas variáveis. Vemos também um movimento interessante de turismo de compras do Chile na Argentina, porque ficou barato para os chilenos. O turismo intraregional é muito forte.

O Airbnb enfrentou restrições severas em Nova York no ano passado e cidades na Europa, como Barcelona, tiveram protestos contra o turismo em massa. Como vê essas questões?

Temos um histórico de colaboração bem próximo com os governos do mundo inteiro para estabelecer boas políticas. O Airbnb tem conversado com o governo de Nova York há muitos anos para tentar ter regras justas. A maioria das pessoas usa a renda extra do Airbnb para pagar despesas da família. Em Nova York, o processo de registro dos imóveis é dificil, você tem que estar dentro da casa para receber um hóspede. Foi praticamente uma proibição. E um ano depois, a promessa de melhorar a crise de falta de moradias na cidade não se materializou. Estamos vendo os preços de aluguel de longa duração aumentarem, assim como o preço dos hoteis, porque como tiraram milhares de acomodações do mercado, os preços dos hoteis aumentaram. Os residentes de Nova York perderam uma renda extra e o turismo nos bairros foi prejudicado. Tem muito menos hoteis no Brooklin, no Queens do que em Manhattan.

E como vê a situação na Europa?

Estamos vendo a mesma coisa agora com Barcelona. A Comissão Europeia até fez um pronunciamento dizendo que achava as medidas desproporcionais e que isso não vai ajudar a resolver a crise de moradia. Desde 2014, as licenças de aluguel em Barcelona estão limitadas a 10 mil licenças. Até 2023, houve um aumento de 66% no aluguel de longa temporada. A conta não está fechando.

Essas restrições em cidades famosas podem acabar levando mais turistas a outros destinos, como o Brasil?

Nas buscas globais do terceiro trimestre, três cidades brasileiras estão entre as que tiveram maior alta. Isso pode ser um reflexo. Pode ser gente fugindo do inverno e vindo pra cá, mas pode ser pessoas que estariam para Nova York e Barcelona, mas podem contribuir para o fluxo de pessoas que buscam outros países onde você ainda pode viver como local e ter acomodações de todos os tipos. Mas a gente gostaria mesmo é de conseguir reverter estas situações nessas cidades e ter políticas justas.

Como conseguir manter o preço das hospedagens sob controle em um cenário de alta do preço dos imóveis em vários países?

O preço médio da nossa tarifa tem se mantido praticamente estável. No segundo trimesre, houve uma alta de 2%, muito baseado no aumento do custo de vida e na valorização dos próprios imóveis. Não temos visto um aumento significativo se comparar com outros tipos de locação e com os próprios hoteis.

Neste ano, tivemos a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul. Como está sendo a retomada do turismo lá?

Teve hosts que perderam a casas e foram abrigados por outros hosts. Incentivamos outros hosts para abrir as casas com descontos. Estamos trabalhando junto com o governo para criar campanhas e começar a incentivar o turismo no estado, mas com muito cuidado. Tem áreas que ainda estão em recuperação, mas a gente tem visto na plataforma um aumento na busca por cidades de Santa Catarina e por Torres, no Rio Grande do Sul, que fica no litoral.

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