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Turbulência mundial valoriza o novo status do Brasil

O fato de receber o grau de investimento agora é uma mostra de como o país reduziu sua vulnerabilidade, dizem economistas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h23.

O novo status que o Brasil acaba de receber, de economia confiável para investimentos, atribuído nesta tarde pela agência internacional de classificação de risco Standard&Poor';s é especialmente significativo pelo momento em que ocorre. "O mais importante é que recebemos essa promoção em plena turbulência internacional, revelando uma mudança qualitativa pronunciada no padrão que caracterizava o Brasil em períodos de crise", registrar Alexandre Schwarstman, economista-chefe do banco Real e ex-diretor da área externa do Banco Central, num comentário, que acaba de escrever sobre a notícia.

Schwartsman observa que, embora o mercado financeiro em boa medida já tivesse antecipado a ascensão da classificação do país, valorizando ativos, ainda assim deve se observar uma nova corrida de preços. Por ora, no primeiro momento da comunicação do novo status, a Bolsa de Valores de São Paulo entrou em euforia, fechando o pregão em 6,33%. "De todo modo, o mercado já revela como a notícia é positiva", diz ele. Do ponto de vista da economia real, a evolução mais importante que pode ser esperada é a redução do custo do capital, tanto próprio quanto de terceiros, com implicações positivas sobre o investimento no país. Schwarstman considera que o grau não deve ter influência direta sobre as decisões do Banco Central no que se refere à taxa de juros básica da economia, e tampouco sobre o comportamento da inflação.

Investimento estrangeiro

A obtenção do grau de investimento deve elevar o fluxo de investimentos diretos estrangeiros para o Brasil nos próximos dois anos. Essa é opinião de Luiz Afonso de Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), com base em estudo realizado pela entidade. O trabalho analisou o comportamento do investimento direto estrangeiro em nove países emergentes: Chile, Israel, Tunísia, Polônia, África do Sul, México, Rússia, Bulgária e Romênia. Nesses países, o advento do selo gerou uma média de incremento de recursos produtivos de 174% nos dois anos seguintes. Nos mesmos países, no biênio anterior ao grau de investimento o fluxo de investimento havia crescido, em média, 45%. "Há uma crença generalizada no mercado de que todo o benefício viria antes do grau de investimento. Mas o estudo mostra que os benefícios são muitos maiores depois", diz Lima.

No ano passado, o Brasil recebeu o volume recorde de 34,6 bilhões de dólares em investimentos diretos estrangeiros, de acordo com dados do Banco Central. Até hoje, a expectativa do mercado sobre os total de investimentos estrangeiros que deve entrar em 2008 girava em torno de 30 bilhões de reais. A própria Sobeet projetava fluxo de cerca de 35 bilhões de dólares para este ano. "Agora teremos de rever para cima esse número", diz Lima.

Câmbio

Uma das grandes preocupações de empresários e economistas é o impacto do grau de investimento sobre o câmbio. Ao ganhar acesso a recursos externos de fundos que só podem aplicar em países com grau não-especulativo, o Brasil tende a ver uma desvalorização ainda maior da moeda americana, de acordo com alguns economistas. O mercado respondeu à promoção da nota brasileira com uma queda de 2,52% do dólar nesta quarta-feira (30/4), fechando em 1,663 real.

Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, não é hora de se preocupar com o dólar. Segundo ele, todos os países promovidos assistiram a uma valorização de suas moedas nacionais no curto prazo, mas perspectiva é de estabilização. "O pior para o país, agora, seria mudar o que nos trouxe até aqui", afirmou.

Maílson afirma que o dólar fraco pode também ajudar a conter as pressões inflacionárias, em um momento no qual o mercado teme que a meta de inflação de 2008 estoure. As últimas projeções apontam para um IPCA de 4,79% para 2008, de acordo com o relatório Focus do Banco Central. "A valorização do real pode arrefecer estas pressões", diz.

Com reportagem de José Roberto Caetano, Fabiane Stefano e Márcio Juliboni

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