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Três obras para a Copa já começaram a sair do papel

Estádio do Morumbi, linha 4 do Metrô e trecho sul do Rodoanel devem ficar prontos bem antes de 2014

Trecho sul do Rodoanel: inauguração deve ocorrer ainda neste ano (./Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2009 às 12h12.

Entre as dez principais obras que podem mudar a cara de São Paulo até a Copa de 2014, apenas três já saíram da fase de projeto e estão com a construção avançada:

1 - Estádio do Morumbi

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O projeto de reforma do estádio do Morumbi para a Copa de 2014, assinado pelo arquiteto Ruy Ohtake, é, acima de tudo, austero. Para atender a todas as exigências da Fifa e aumentar o conforto dos torcedores, o gasto é estimado em cerca de 135 milhões de reais, o menor valor entre as 17 arenas que ainda concorrem para abrigar partidas da Copa.

O dinheiro deve vir exclusivamente de empresas privadas. Assim que todos os contratos de parceria tiverem sido assinados, o clube promete buscar também um investidor para a construção de uma cobertura sobre as arquibancadas.

Os próprios dirigentes são-paulinos, no entanto, são prudentes e não garantem a execução dessa obra até a Copa. Segundo a Prefeitura de São Paulo, o Morumbi já atende hoje 84% das exigências da Fifa. A falta de um grande estacionamento para o público é considerada a principal deficiência do estádio.

A Fifa afirma que, em condições ideais, uma arena com capacidade para abrigar 60 mil pessoas - portanto, um pouco menor que o Morumbi - deveria ter ao menos 10 mil vagas para carros e 500 para ônibus.

O projeto do São Paulo não é tão ambicioso. O clube quer construir um estacionamento com 3.600 vagas em terrenos em volta da praça Roberto Gomes Pedrosa, localizada em frente ao estádio do Morumbi, no início da avenida Jorge João Saad. Ali seria erguido um prédio-estacionamento de cinco andares. Os terrenos foram desapropriados há mais de 20 anos e poderiam ser doados pela prefeitura ao Metrô.

De acordo com os planos do São Paulo, o Metrô cederia essa propriedade para a CCR, a maior concessionária de rodovias do Brasil e também a vencedora da licitação para a operação e manutenção da linha 4-Amarela do Metrô pelos próximos 30 anos. Caberia à CCR construir o estacionamento, que, além de atender ao público dos jogos, também poderia ser utilizado como bolsão para os passageiros que utilizarem a estação São Paulo-Morumbi da linha 4 do Metrô.

A estação deve ser inaugurada em 2012 e está localizada a cerca de 1 km do estacionamento. Para o São Paulo, no entanto, seria possível criar um serviço de vans que cumpririam o trajeto entre a estação e o estacionamento durante os horários de funcionamento dos trens.

"Essa opção é bem mais viável do que desapropriar casas e prédios nas proximidades da estação São Paulo-Morumbi", diz o diretor de marketing do São Paulo Futebol Clube, Adalberto Dellape. O clube conta com o apoio da CCR para a obra porque a empresa tem como uma de suas acionistas controladoras a Camargo Corrêa.

Essa empresa já participa da reforma do estádio do Morumbi e tem interesse na melhoria da infra-estrutura do bairro por possuir diversos empreendimentos imobiliários na região, incluindo o shopping Jardim Sul. Além do edifício-garagem, o São Paulo ainda planeja ter 600 vagas de estacionamento dentro do estádio, que poderiam abrigar os veículos das delegações, imprensa, autoridades, VIPs e representantes da Fifa - como exige o comitê organizador da Copa.

Interior do estádio

A principal parceira do São Paulo para a modernização do estádio é a Visa. A empresa de cartões de crédito comprou o direito de comercializar nos próximos anos quase 30 mil dos até 69 mil ingressos que podem ser vendidos no Morumbi. O torcedor poderá comprar os tíquetes pela internet e pagar apenas com os cartões da Visa.

Os compradores não vão receber os ingressos em casa. O próprio cartão de crédito será passado nas catracas, que liberarão ou não o ingresso no estádio. "Isso acaba com ingresso falso, cambistas, filas quilométricas e a falta de respeito com os torcedores", diz Percival Jatobá, diretor-executivo de produtos da Visa.

Em troca do direito de exclusividade na venda dos ingressos, a empresa deverá arcar com cerca de 30% dos gastos com o aumento do conforto no estádio. Serão instalados novos assentos, banheiros semelhantes aos de shoppings, lounges e praças de alimentação.

O andar térreo do Morumbi já estará totalmente remodelado a partir do dia 30 de abril, com a eliminação dos pontos cegos apontados pelo comitê organizador da Fifa. Com as obras, a capacidade do anel inferior será reduzida para 9 mil lugares.

A Rede Globo é outra parceria do São Paulo na remodelagem do Morumbi. A emissora vai investir nas entradas do estádio. Já a sala de imprensa será reformada com ajuda da Fifa. O clube busca ainda um parceiro para reformar seu memorial, que servirá também para receber a imprensa nos dias de jogos da Copa.

No andar térreo, além do bar temático, do memorial e da livraria já existentes, o clube espera alugar espaços para a construção de uma churrascaria, uma academia de ginástica, uma rede de cinemas e um sushi bar. Outra iniciativa é a ampliação do número de camarotes alugados para a empresas, que garantem uma receita fixa ao clube mesmo que o torcedor não vá ao estádio.

"O São Paulo está tentando tornar mais lucrativo o seu maior patrimônio, que é o estádio do Morumbi", diz o advogado Ivandro Sanches, especialista na redação de contratos que envolvem o futebol do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice.

Outras melhorias exigidas pela Fifa são a construção de estruturas redundantes de energia e de telecomunicações, melhorias do sistema de ventilação, reformas das instalações destinadas aos times e às autoridades e a colocação de placas em inglês.

A cobertura do estádio seria o último passo. Com custo estimado entre 60 milhões e 70 milhões de reais, a cobertura seria feita com um material plástico parecido com o que foi utilizado na Allianz Arena, o estádio do alemão Bayern de Munique.

Seguindo as orientações da Fifa, o Morumbi não seria totalmente coberto. Apenas a parte das arquibancadas ganharia a proteção contra a chuva. A obra também exigiria a troca do sistema de refletores que iluminam o gramado. "Mas isso é um sonho ", diz Adalberto Dellape, diretor de marketing do São Paulo.

"Primeiro vamos fazer tudo o que a Fifa exige e só depois negociaremos a cobertura." O clube mais bem-organizado do país parece já ter entendido que o momento de crise exige redução de custos e pés no chão.

2 - Linha 4-Amarela do Metrô

A polêmica linha 4-Amarela do Metrô é a principal aposta do Governo de São Paulo para desafogar o trânsito na zona oeste da cidade, onde está localizado o estádio do Morumbi. São 12,8 km de trilhos que seguirão em via subterrânea por um traçado parecido com o das avenidas Francisco Morato, Rebouças e Consolação.

O consórcio Via Amarela, responsável pela construção da linha, diz que 80% da obra já está concluída. A previsão é entregar em dezembro de 2009 as três primeiras estações: Butantã, Faria Lima e Paulista. Em março de 2010, será a vez de inaugurar as estações Luz, República e Pinheiros.

As quatro últimas estações, que ficarão para 2012, são Higienópolis-Mackenzie, Oscar Freire, Fradique Coutinho e São Paulo-Morumbi. Essa última ficará a uma distância de pouco mais de 1 km do estádio do Morumbi, no cruzamento das avenidas Jorge João Saad e Francisco Morato.

O plano do governo paulista prevê investimentos de 17 bilhões de reais em transportes metropolitanos entre 2007 e 2010, quando a cidade passará a ter 304 km de trilhos da CPTM, 84 km do Metrô e 65 km de corredores de ônibus.

Somente a linha Amarela terá investimentos de cerca de 1,5 bilhão de dólares, que foram financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial (Bird), empresas privadas e o governo estadual. O túnel de 7,4 km entre as estações Faria Lima e Luz será construído com um "megatatuzão", uma máquina de 1.800 toneladas e 75 metros de comprimento capaz de escavar 14 metros por dia a uma profundidade média de 30 metros.

Quando toda a obra estiver concluída, cerca de 970 mil pessoas poderão ser transportadas por dia. A operação da linha 4 será feita por meio uma Parceria Público-Privada (PPP) com o consórcio ViaQuatro, da concessionária de rodovias CCR.

A empresa deverá investir cerca de 5 bilhões de reais nos próximos 30 anos na manutenção e modernização da linha. A CCR promete utilizar trens com ar-condicionado e baixo nível de ruído, além de permitir o uso de telefones celulares e conexão à internet por rede wi-fi dentro dos túneis.

A obra começou a ser construída em 2004 e parte das estações já deveria estar em operação. Em janeiro de 2007, o desabamento da estação Pinheiros deixou sete mortos e levou à interrupção das obras no local por um ano e quatro meses.

A 1ª Vara Criminal do Fórum de Pinheiros analisa processo movido pelo Ministério Público Federal contra um ex-diretor do consórcio Via Amarela e mais 12 pessoas devido à abertura da cratera, mas, até o momento, ninguém foi responsabilizado pelo acidente.

O consórcio diz que o atraso de 20 meses no cronograma inicial de entrega das obras deve-se apenas à demora nas desapropriações feitas pelo Governo do Estado e descarta novos atrasos na construção. Tomara que a promessa não vá para o buraco.

3 - Rodoanel - trecho sul

O trecho sul do Rodoanel é a grande obra de infra-estrutura da Grande São Paulo que está mais próxima da conclusão. O trecho começou a ser construído em julho de 2007 e deve ser inaugurado em novembro, segundo a Dersa.

O prazo de conclusão foi antecipado em 19 meses em relação ao cronograma inicial. A rapidez na construção deve-se ao bem-sucedido programa de desapropriações feito pelo governo do estado. Cerca de 11 milhões de metros quadrados de propriedades precisaram ser desapropriados para a construção da estrada - e 94% das indenizações foram pagas por meio de processos administrativos, evitando demoradas ações judiciais.

Durante a Copa, o trecho sul do Rodoanel deve ser bastante utilizado por turistas que viajarão de navio, já que ajudará a ligar o terminal de passageiros do porto de Santos ao estádio do Morumbi. O presidente da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (Abremar), Eduardo Nascimento, diz que nas últimas Copas houve uma grande oferta de pacotes de cruzeiros marítimos adaptados ao cronograma de partidas.

No Brasil, onde a maioria das cidades que sediarão os jogos estará localizada nas proximidades do litoral, não será diferente. Mesmo nas prováveis sedes localizadas em pontos mais distantes do litoral, como Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF), ainda seria fácil viajar de avião a partir de alguma cidade litorânea.

O presidente da Abremar acredita que a Copa será também uma boa oportunidade para o Brasil construir novos terminais de passageiros para cruzeiros, principalmente nas capitais nordestinas. Hoje apenas os portos de Santos e do Rio de Janeiro possuem a infra-estrutura adequada para o embarque e desembarque.

Eduardo Nascimento também defende a mudança na legislação que obriga os navios que fizerem ao menos duas escalas em cidades brasileiras a contratar mão-de-obra brasileira e a pagar impostos no Brasil. Ele lembra que a Copa será disputada durante o inverno brasileiro e que os navios deverão vir do hemisfério Norte exclusivamente para acompanhar os jogos. Com a legislação atual, no entanto, o custo dos pacotes, que já é alto, deverá ficar ainda mais salgado.

O trecho sul do Rodoanel também deve contribuir para a redução dos congestionamentos em São Paulo por retirar da cidade boa parte dos caminhões que se dirigem ao porto de Santos. A Dersa estima que, a cada dia, 300 mil veículos deixem de passar pela marginal Pinheiros e 85 mil veículos evitem a avenida dos Bandeirantes após a inauguração do trecho sul.

Com a via, estarão interligadas sete das dez principais rodovias que chegam à capital paulista: Bandeirantes, Anhanguera, Castello Branco, Raposo Tavares, Régis Bittencourt, Imigrantes e Anchieta. Ficará faltando apenas a ligação com as rodovias Ayrton Senna, Dutra e Fernão Dias, que será feita por meio do trecho leste.

O trecho sul tem 61 km e custou 5 bilhões de reais para os cofres do governo do Estado de São Paulo (que pagou dois terços do total) e a União (que arcou com o restante). Quase 20 km foram construídos em pontes e viadutos para reduzir o impacto ambiental em áreas de mananciais da cidade.

A ponte que vai atravessar a represa Billings tem quase dois km de extensão e cerca de 14 metros de altura. O governo de São Paulo ainda não decidiu se espera a obra ser concluída para fazer a concessão à iniciativa privada. Não está descartado que o leilão seja realizado ainda neste ano.

Segundo os analistas da corretora Link, a CCR, principal empresa de concessões rodoviárias do Brasil, é a favorita para administrar o trecho sul do Rodoanel. Por já ser a concessionária que gerencia o trecho oeste, a CCR poderá fazer "uma oferta agressiva no leilão sem comprometer sua disciplina de capital".

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