Taxa sobre etanol pode criar impasse em acordo Brasil-EUA
Enquanto o presidente Lula critica os subsídios dos EUA sobre o álcool, governo americano afirma que não discutirá mudanças nas tarifas
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h30.
O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega americano, George W. Bush, que acontece nesta sexta-feira (9/3), em São Paulo, vai girar sobre um tema caro aos dois países: o comércio internacional de etanol. Juntos, os dois países respondem por 70% da produção mundial do combustível, e ambos têm interesse em elevar a produção e o consumo do produto.
Apesar do objetivo comum, a questão não é tão simples como aparenta. O governo americano quer se associar ao Brasil com o intuito de atingir a meta de redução de 20% no consumo interno de derivados de petróleo, minimizando, assim, a dependência do produto, considerada o grande trunfo político e econômico de países críticos do governo americano, como Venezuela e Irã.
Hoje, entretanto, os Estados Unidos cobram das empresas brasileiras uma taxa de 2,5% sobre o etanol, além do imposto de 0,30 real por litro do produto - totalizando um custo de 0,54 dólar por galão (equivalente a 3,78 litros) exportado. O valor, segundo a Petrobras, é inviável para exportação de grandes quantidades.
Para chegar a um acordo, o governo brasileiro quer que os Estados Unidos acabem com os subsídios ao etanol, o que possibilitaria maior concorrência do produto nacional em terras americanas. Como nos Estados Unidos o álcool é produzido a partir do milho - e seu custo de produção é mais alto que o do etanol derivado da cana-de-açúcar feito no Brasil - os produtores americanos teriam de se mexer para não perder mercado.
A idéia, como era de se esperar, não agradou nada os donos de usinas de etanol e produtores de milho nos Estados Unidos, que prontamente puseram-se a afirmar que ainda é cedo para redução nas barreiras ao álcool brasileiro. Tentando escapar do conflito, o conselheiro da Segurança Nacional dos Estados Unidos, Stephen Hadley, adiantou que em sua visita ao Brasil, o presidente Bush não pretende tratar de mudanças nas tarifas. Segundo ele, o objetivo não é criar a "Opep do etanol", mas sim incentivar a produção e o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao etanol em países do Caribe e da América Central.
Investimentos
Nos próximos seis anos, investidores estrangeiros e brasileiros devem aplicar 14,6 bilhões de dólares na construção de 73 usinas. Bill Gates, o homem mais rico do mundo e fundador da Microsoft, e o mega-investidor húngaro George Soros estão entre os que decidiram apostar no produto brasileiro. Além deles, gigantes como Cargill, Bunge, Google, Shell, Mitsubishi e a brasileira Votorantim também demonstraram interesse pelo combustível derivado da cana-de-açúcar. Tanta procura não é à toa.
O etanol é hoje uma das principais alternativas para dois grandes problemas da humanidade - encontrar um substituto para o petróleo e conter o aquecimento global. Com isso, as usinas de álcool brasileiras, antes vistas como símbolo de atraso, ganharam brilho aos olhos de governantes, empresas de tecnologia e investidores. Especialistas acreditam que o mercado de etanol, hoje modesto, terá crescimento exponencial nos próximos anos.
Além disso, o lançamento dos veículos flex, que utilizam tanto álcool quanto gasolina, foi só uma prévia do que deve vir pela frente. Em breve toda a frota mundial deve ser substituída por veículos bicombustíveis. Portanto, não faltam motivos para justificar os investimentos no produto - com ou sem acordo com os Estados Unidos.
O que o Brasil quer
- Tornar-se um dos principais produtores e exportadores de biocombustíveis.
- Firmar-se também como principal exportador de tecnologia, equipamentos e serviços para países que venham a produzir o insumo localmente.
- Reduzir o imposto de importação de etanol, que dificulta a entrada de produtores brasileiros no mercado americano.
- Estados Unidos deixem de dar subsídios aos produtores de etanol locais.
- União Européia flexibilize a entrada de produtos brasileiros.
O que os EUA querem
- Reduzir em 20% o consumo de derivados de petróleo, minimizando, assim, a dependência pelo produto, considerada o grande trunfo político e econômico de países críticos do governo americano, como Venezuela e Irã.
- Minimizar a imagem negativa do governo Bush, tido como um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global.
- Associar-se ao Brasil no desenvolvimento do mercado e de novas tecnologias ligadas aos biocombustíveis.