Tarifas de Trump podem deixar Estados Unidos mais parecidos com o Brasil
"Make America Like Brazil": escalada da guerra comercial com a China aproxima tarifas americanas de níveis brasileiros
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de maio de 2019 às 06h00.
Última atualização em 24 de maio de 2019 às 06h00.
São Paulo - A guerra comercial entre Estados Unidos e China ameaça colocar de ponta cabeça o status quo do comércio internacional.
Recentemente, o jornal britânico Financial Times destacou um cálculo feito pelo Deutsche Bank usando dados do Banco Mundial e do economista Justin Weidner, do Instituto Brookings.
Ele mostra 13 grandes economias com sua respectiva tarifa mediana real, aquela ajustada pelo valor e quantidade dos produtos que o país efetivamente importa.
Antes da guerra comercial, a tarifa mediana americana era próxima daquela praticada por outros países desenvolvidos como França, Alemanha, Reino Unido e Canadá.
A situação muda em setembro de 2018, quando os EUA começam a aplicar tarifas de 10% sobre US$ 250 bilhões em importações da China. No início de maio, Trump surpreende ao divulgar que essas mesmas tarifas subiriam para 25%.
O presidente americano também ameaçou aplicar em breve a nova taxa de 25% sobre os US$ 325 bilhões de importações chinesas até agora isentas, incluindo itens como roupas e celulares.
Como a China responde por cerca de um quinto de tudo que os Estados Unidos importam em um ano, essas atitudes somadas seriam suficientes para quadruplicar a tarifa média americana sobre o patamar inicial.
Próxima de 8%, ela já ficaria acima daquela aplicada por grandes países emergentes, como Rússia e Índia, e se aproximaria da taxa brasileira, a maior entre as grandes economias.
Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco político Eurasia, fez uma brincadeira com os números em sua conta no Twitter: "Make America Like Brazil", uma referência ao slogan da campanha de Trump ("Make America Great Again", ou "Torne a América Grande Novamente").
Um estudo do Peterson Institute of Economics mostra que as tarifas sobre a China podem atingir o mesmo patamar daquelas que os EUA colocaram sobre todos os seus parceiros comerciais por meio do Ato Smoot-Hawley de 1930, considerado um dos responsáveis pelo agravamento da Grande Depressão.
"E as tarifas podem continuar tão altas, porque as demandas de negociação dos EUA são humilhantes demais para a China aceitar. Essas tarifas também podem levar a um desvio para outros fornecedores. Mas as tarifas podem se espalhar para esses [países], também: o bilateralismo é com frequência uma doença contagiosa", escreve Martin Wolf na matéria do FT.
Vale lembrar que taxas de importação não são o único instrumento de fechamento comercial, que também pode incluir barreiras não-tarifárias como restrições técnicas e sanitárias.
Mas a conclusão é clara: os Estados Unidos estão se tornando um país cada vez protecionista. A julgar pela experiência brasileira na área, não é um bom caminho para seguir.