Economia

Empreendedor brasileiro pensa pequeno

85% dos novos negócios não devem criar nem expandir mercado, diz ranking global

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h58.

Deveria ser uma boa notícia: o Brasil ficou em 6º lugar entre 31 países no ranking de empreendedorismo do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) divulgado nesta terça-feira (3/2) na sede do Sebrae em Brasília. A lista é feita desde 1999 por duas instituições acima de qualquer suspeita - o Babson College, tido como a principal faculdade de empreendedorismo dos Estados Unidos, e a London Business School, uma das mais prestigiadas da Inglaterra. No Brasil, que participa da pesquisa desde 2000, os dados são coletados pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Paraná (IBQP), por meio de entrevistas. O indicador que garantiu ao país essa posição de destaque é o seguinte: 12,9% da população adulta havia iniciado algum negócio nos 42 meses anteriores às entrevistas (feitas entre abril e julho de 2003).

Uma análise um pouco mais cuidadosa do documento, no entanto, retira grande parte das razões para orgulho. Primeiro, a própria ordem do ranking causa estranheza. À frente do Brasil estão: Uganda (em primeiro lugar, com 29,3% de adultos com novos empreendimentos), Venezuela, Argentina, Chile e Nova Zelândia. Atrás do Brasil aparecem Estados Unidos (com taxa de 11,9%) e China (11,6%). Não é que qualquer ranking encabeçado por Uganda deva ser interpretado a priori como ruim, mas a classificação do GEM só se explica pelo fato de não ser levada em consideração a qualidade dos empreendimentos.

Quando esse quesito é computado, o Brasil vai mal. Muito mal. Em seu estudo, o GEM usa dois indicadores de qualidade dos negócios. O primeiro é o potencial de criação ou expansão do mercado, que leva em consideração a idade da tecnologia usada no negócio, o conhecimento do produto pelo mercado e a quantidade de concorrentes. Um empreendimento pode ter um potencial nulo, pequeno, médio ou grande. Dos empreendimentos detectados pela pesquisa no Brasil, 85% não têm nenhum potencial de criação ou expansão do mercado. Os demais 15% têm pequeno potencial. Nenhum dos novos negócios encaixou-se nas categorias de médio ou grande potencial.

O segundo indicador de qualidade é o potencial de crescimento. Para esse potencial ser alto, a empresa tem de ter as seguintes perspectivas:

  • mais de 19 empregados nos próximos cinco anos;
  • ter no mínimo 11% de clientes no exterior;
  • ter no mínimo 25% dos consumidores potenciais localizados a mais de uma hora de distância.
    Apenas 5,3 em cada 10 000 habitantes do Brasil prevêem estar à frente de um negócio com alto potencial de crescimento. A média nos 31 países que participaram da pesquisa é 21,5 - o Brasil está entre os 25% piores. A campeã desse índice foi a Nova Zelândia, com 75 em cada 10 000 habitantes.

    "Nossa principal deficiência sem dúvida nenhuma é de capital humano", disse o economista Eduardo Giannetti, durante a cerimônia. Marília Rocca, presidente do Instituto Empreender Endeavor, que incentiva o empreendedorismo no país, detecta o mesmo problema: "Mesmo trabalhando com o público privilegiado, que tem plano de negócios e nível educacional mais alto, é muito difícil encontrar empreendedores prontos para receber capital de risco."

    Ambiente ruim

    O Brasil se classifica pessimamente também no favorecimento ao empreendedorismo. Das 17 condições que o estudo do GEM considera que afetam o ambiente para novos negócios, em 14 o Brasil está abaixo da média dos países pesquisados. Em quatro delas, é o último colocado - acesso à infra-estrutura física, infra-estrutura comercial e profissional, barreiras à entrada no mercado (custos e legislação) e políticas governamentais (impostos e burocracia).

    O que melhorou

    Considerando apenas a classificação geral, o Brasil já esteve melhor. Em 2000, foi o campeão do ranking, que tinha 20 países. No ano seguinte, foi 5º colocado, entre 28 países. No ano passado, ficou em 7º, entre 37 países. Há um declínio lento da posição brasileira ao longo dos últimos anos, afirma Marcos Muller, coordenador geral do IBQP.

    Mas nem tudo no ranking são más notícias. No aspecto qualitativo do empreendedorismo nacional houve uma significativa melhora: iniciar um negócio no país voltou a ser mais uma questão de oportunidade do que de necessidade. Uma pesquisa internacional realizada no ano passado concluiu que, desde o início de 2000, 6,9% dos brasileiros iniciaram um empreendimento porque detectaram uma oportunidade de mercado, embora tivessem outras opções de carreira, e 5,5% o fizeram porque não viram outra alternativa. Em 2002, os empreendimentos por necessidade (7,5%) superavam aqueles iniciados por oportunidade (5,8%). A mudança é boa porque os negócios originados pela falta de opção, como única alternativa de sobrevivência, tendem a ser menos longevos e menos prósperos. Dos empreendedores por necessidade, 55% ficam na menor faixa de escolaridade (um a quatro anos) e só 7% estão na faixa mais alta (acima de 11 anos de estudo formal). Entre os empreendedores por oportunidade, 36% ficam na faixa menor e 16% estão na faixa mais alta.

    Considerando apenas o empreendedorismo por oportunidade, a posição do Brasil seria a seguinte:

  • 2001 - 8,5% (6º lugar)
  • 2002 - 5,8% (16º lugar)
  • 2003 - 6,9% (10º lugar).
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