Porto de Pecém (CE): terminal portuário deve receber investimento da mineradora australiana Fortescue para produção de hidrogênio verde (Marília Camelo/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 11 de setembro de 2024 às 11h42.
Última atualização em 11 de setembro de 2024 às 13h46.
O desenrolar de três grandes projetos em andamento no Brasil são acompanhados com lupa pelo governo e podem significar uma nova fronteira de investimentos verdes para reduzir a emissão de carbono, afirmaram à EXAME técnicos da equipe econômica. São esperados aportes de US$ 10 bilhões para viabilizar os empreendimentos, mais de R$ 56 bilhões na cotação atual.
São eles:
"Esses três projetos destravam o pipeline e sinalizam o compromisso do Brasil com as novas tecnologias", disse um assessor da equipe econômica. A ideia do governo é que os três projetos sejam financiados com recursos de bancos privados, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de investimentos.
Enquanto os Estados Unidos têm liderado a atração de investimentos verdes com fortes subsídios financeiros, no Brasil o ambiente é de restrição fiscal. Entretanto, a matriz energética brasileira, que já é limpa, o agronegócio pujante, a incidência solar e o volume de ventos privilegiados, além da energia barata, são fatores importantes na atração de investimentos, afirmou um técnico do governo.
Um exemplo disso é que a Atlas Agro deve investir US$ 1,5 bilhão em uma fábrica de fertilizantes verdes nos Estados Unidos, iniciar a produção em 2027 e aplicar outros US$ 1 bilhão no Brasil em uma planta industrial semelhante, que deve começar a produzir em 2028. A fase de pré-engenharia do projeto já foi concluída e a decisão final de investimento deve ser tomada no próximo ano.
“Estamos 100% comprometidos com o Brasil, que é um país estratégico por ser um dos grandes produtores de alimentos do mundo, com grande consumo de fertilizantes. Entretanto, pouco fertilizante é produzido aqui e quase tudo é importado. A fábrica de Uberaba é o primeiro projeto e vemos espaço mais plantas”, afirmou o diretor de Operações da Atlas Agro, Rodrigo Santana.
No Ceará, a Fortescue já recebeu a primeira licença prévia e iniciou as obras de terraplanagem na área de 100 hectares. O plano prevê a produção 837 toneladas de hidrogênio verde por dia, a partir de 2027. Para isso, planeja um consumo de 2,1 GW de energia renovável.
Em julho, a empresa anunciou a decisão antecipada de investimento do conselho de administração. Com isso, o projeto está a um passo da decisão final de investimento, que deve ocorrer em 2025. São esperados investimentos de US$ 6 bilhões.
Procurada, a Fortescue não se manifestou até a publicação da matéria, mas a EXAME apurou que a expectativa no governo federal é alta na execução do projeto.
A Acelen Renováveis deve iniciar em dezembro o investimento de US$ 3 bilhões na biorrefinaria de São Francisco do Conde, na Bahia. A empresa planeja plantar macaúba em 180 mil hectares de terras degradadas para produzir o óleo vegetal que será misturado ao diesel, para criar o diesel verde, e ao querosene de aviação (QAV), para gerar combustível sustentável de aviação.
A expectativa da Acelen é produzir 1 bilhão de litros por ano, movimentar US$ 17 bilhões na economia, contribuir para geração de 90.000 postos de trabalho diretos e indiretos e reduzir em até 80% as emissões de CO2 com a substituição do combustível fóssil.
"A Acelen será um gatilho para a agregação de valor no Brasil e um gatilho para posicionar o país na vanguarda da descarbonização global", disse o diretor de Certificação e Descarbonização da Acelen Renováveis, Yuri Orse.