Sob pressão do coronavírus, Copom deve anunciar novo corte na Selic
A expectativa é de uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, a mais baixa desde 1999
Ligia Tuon
Publicado em 6 de maio de 2020 às 06h12.
Última atualização em 6 de maio de 2020 às 09h44.
O cenário de rápida deterioração do crescimento e do mercado de trabalho, agravado pela pandemia do novo coronavírus , deve fazer com que o Comitê de Política Monetária ( Copom ) do Banco Central continue afrouxando a corda da política monetária em decisão que será tomada nesta quarta-feira, 6.
Grande parte do mercado financeiro espera um corte de 0,5 ponto percentual na Selic , taxa básica da economia, hoje em 3,75%, menor nível desde 1999, quando começou o regime de metas para a inflação. Se confirmada, esta será a sétima redução consecutiva no atual ciclo de baixa iniciado em julho do ano passado.
Segundo o banco americano Goldman Sachs, que aposta em corte de meio ponto, a redução não deve ser maior que isso devido às preocupações com a estabilidade do real em relação ao dólar e à pressão crescente para a saída da moeda americana do país. Esse cenário levou o banco central a intensificar a intervenção no mercado de câmbio nas últimas semanas.
A opinião do mercado também aponta para mais um corte na Selic na reunião de junho. O Boletim Focus, do Banco Central, espera que a taxa chegue ao fim do ano a 2,75% ante 3% na estimativa anterior. Para 2021, a expectativa é que fique em 3,75% ao ano ao final do período.
Ao mesmo tempo, as projeções de inflação estão em forte queda em função dos efeitos deflacionários gerados pela pandemia. A expectativa do Focus caiu pela oitava semana seguida nesta segunda-feira, chegando a uma alta estimada em apenas 1,97% para o IPCA, contra 2,20% visto antes. Para 2021, a inflação é calculada agora em 3,30%, ante 3,40% no levantamento anterior.
Uma preocupação que segue no radar do comitê, porém, é a saúde fiscal do país. Em sua última decisão, o colegiado disse que alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de elevar a taxa de juros estrutural da economia. “Nessa situação, relaxamentos monetários adicionais podem tornar-se contraproducentes se resultarem em aperto nas condições financeiras”.
A equipe econômica é contra a flexibilização do teto de gastos, ferramenta importante para a saúde fiscal do país, mas a hipótese vem sendo mencionada como um desejo da ala militar do governo, que acredita numa retomada após a crise com maior presença do poder público, sobretudo no setor de infraestrutura. A ideia assusta o mercado, que teme o abandono das reformas estruturais defendidas pelo governo, e vai de encontro com a filosofia liberal do ministro Paulo Guedes.