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Sem conseguir acessar crédito, empresários cobram mais medidas do governo

Associações setoriais pedem, por exemplo, para que o Tesouro assuma 100% do risco de operações de crédito

Restaurante vazio em São Paulo: quarentena diminuiu movimento de setor de bares e restaurantes (Rahel Patrasso/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de abril de 2020 às 08h27.

Última atualização em 6 de abril de 2020 às 22h04.

Desde o início da crise, muitos setores vêm se queixando da dificuldade de acesso ao crédito e cobram novas medidas do governo e do Banco Central para aumentar a liquidez no mercado, mesmo após a injeção de R$ 1,2 trilhão (16,7% do PIB) feita no sistema pela autoridade monetária. Associações setoriais pedem, por exemplo, para que o Tesouro assuma 100% do risco de operações de crédito.

"Era muito fácil (conseguir crédito) um mês atrás com os bancos. Agora, ninguém quer dar dinheiro. O mundo está com medo. Por isso, em tempos assim, os governos têm de agir", diz o presidente da companhia aérea Azul, John Rodgerson.

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O setor aéreo é um dos mais afetados pela crise decorrente da pandemia de covid-19 e as empresas têm buscado renegociar dívidas, além de reivindicarem no governo novas linhas de crédito para capital de giro. Há uma negociação em curso com o BNDES.

Também sofrendo os impactos da crise, varejistas afirmam que os recursos que o Banco Central liberou nos últimos dias não têm chegado aos empresários e que entidades financeiras até aumentaram as taxas de juros . "O que a gente pede é que os bancos contribuam neste momento, façam seu sacrifício", diz o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), José César da Costa.

A CNDL é uma das cinco entidades ligadas ao varejo signatárias de uma carta enviada ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que pede novas medidas para amenizar a crise.

No documento, as associações do setor afirmam que os bancos têm cobrado até 70% a mais em operações de crédito habituais, como para capital de giro. "Entendemos que, num momento de crise, as medidas adotadas pelo Banco Central devam caminhar juntas com as instituições financeiras", diz o documento.

Também signatária da carta, a Associação Brasileira de Franquias (ABF) é a favor de uma linha de crédito para as franquias. "As franquias representam 2,7% do PIB, têm 161 mil lojas e geram 1,4 milhão de empregos diretos", disse Sidnei Amendoeira, diretor da entidade. Segundo ele, os empresários buscam novas linhas neste momento crítico e precisam refinanciar o passado.

Um dos maiores multifranqueados do País, Glauber Gentil, dono de 92 lojas das marcas O Boticário; Quem disse, Berenice? e Swarovski, em quatro Estados do Nordeste, tem na mesa três frentes de atuação para enfrentar a crise do coronavírus. A primeira, já em implantação, é a renegociação com fornecedores. "As conversas estão intensas." Outras duas medidas ainda estão sendo avaliadas. Uma delas é captação de recursos com bancos. "Outra possibilidade é antecipar recebíveis com empresas de cartão de crédito."

Uma das várias propostas apresentadas pelas varejistas ao BC é justamente usar a estrutura dos adquirentes de cartão para a concessão de crédito a taxas inferiores às cobradas nas transações tradicionais. Para isso, o Tesouro ou o BNDES teriam de arcar com o risco da operação.

"Com essa estrutura, o governo assumiria 100% do risco. A taxa de juros teria de ser um porcentual muito razoável, algo como 1%. Se o governo não disponibilizar liquidez, a conta não vai fechar", diz Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que também assina a carta enviada ao BC.

Para o analista de risco Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating é natural que os juros cobrados pelos bancos subam em momentos como o atual, em que os riscos estão elevados. "O futuro é totalmente obscuro. Os bancos podem conhecer seus clientes, mas não sabem se os clientes de seus clientes terão condições de pagar."

Procurada, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que as taxas de juros cobradas estão estáveis nas últimas semanas, com exceção dos créditos negociados com grandes empresas. "Isso ocorre porque o custo de captação aumentou substancialmente, mas, neste caso, as operações de crédito envolvem grandes empresas, que demandam volumes significativos de recursos, com impactos relevantes sobre a liquidez do setor bancário", informou em nota.

"As instituições financeiras trabalham com análise de risco de toda a economia e houve mudanças significativas nas últimas semanas. Houve uma revisão geral do risco. As medidas recentes do governo, via Banco Central e Ministério da Economia, são, sem dúvida, muito bem-vindas e buscam justamente endereçar algumas dessas questões, como liquidez. Mas, mesmo com essas importantes medidas, a circulação de dinheiro ficou mais restrita", informou a entidade.

Crédito emergencial

O Bradesco começa a oferecer nesta segunda-feira a nova linha destinada a financiar as folhas de pagamento de pequenas e médias empresas para ajudá-las na travessia da crise do coronavírus no Brasil. O banco, primeiro a anunciar a oferta do crédito emergencial, espera que a medida beneficie até um milhão de trabalhadores.

Podem aderir ao crédito empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. A linha terá prazo de 36 meses, sendo seis meses de carência e não terá cobrança de spread bancário (diferença de quanto o banco paga para captar e cobra para emprestar). A taxa será fixa, de 3,75% ao ano. O Bradesco vai ofertar a linha por meio de canais digitais e ainda nas agências por telefone. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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