Secretário do Tesouro diz que não faltarão recursos para Saúde
O secretário afirmou que é indevida a comparação entre o pacote de socorro brasileiro e de outros países
Agência O Globo
Publicado em 28 de março de 2020 às 18h39.
O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, disse neste sábado que não vão faltar recursos para a saúde e para o socorro às pessoas mais vulneráveis durante a pandemia , mas advertiu que não se pode exagerar na 'dose do remédio' sob o risco de comprometer o orçamento do país nos próximos anos. Mansueto afirmou que é importante que as despesas extras sejam de caráter temporário.
"Não pode faltar dinheiro para saúde independente da questão fiscal e também para proteger as pessoas mais vulneráveis. Mas não se pode exagerar na dose do remédio, comprometendo os próximos anos. Haverá uma conta a ser paga", afirmou o secretário durante uma live organizada pelo banco BTG Pactual, que contou ainda com os sócios do banco, o ex-ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, e o economista Eduardo Loyo.
O secretário afirmou que é indevida a comparação entre o pacote de socorro brasileiro e de outros países. Nos Estados Unidos, o Congresso aprovou US$ 2 trilhões para ajudar pequenas empresas, cidadãos que ficaram sem renda e para investimentos em Saúde. Segundo ele, o Brasil tem uma rede social muito mais desenvolvida que a americana, por exemplo.
"O Brasil tem uma rede social maior que a dos EUA. Gasta 14% do PIB com previdência, enquanto os EUA gastam 6% ou 7%. Temos a aposentadoria rural, que protege os trabalhadores neste momentos, diferente dos EUA. Então com estes mecanismos, o país não precisa gastar tanto. E a transferência de renda que vamos fazer, de R$ 600, considerando o PIB per capita, é semelhante a dos EUA", disse.
Nos Estados Unidos, o governo vai enviar US$ 1,2 mil a famílias que ficaram sem renda e mais US$ 500 por filho.
Déficit primário de R$ 300 bilhões
Ele afirmou que independente da economia brasileira ficar estagnada, como mostrou a última estimativa do governo, ou ter retração, o governo segue em frente buscando a consolidação fiscal, embora não seja possível pensar em medidas estruturais "em duas ou três semanas". Mas esse objetivo tem que estar no radar permitindo que o Brasil continue tendo juros baixos por um prazo mais prolongado.
"Independente de economia estagnada ou se o PIB retrair 1%, 2% ou 3% o governo segue em frente e não muda a rota. O que não pode é criar despesas permanentes que afetem a trajetória do gasto em 2021. A previsão de PIB zero é de duas semanas atrás. Essas projeções mudam toda semana e possivelmente o PIB pode vir negativo, já que estamos num cenário muito incerto", afirmou.
Este ano, afirmou o secretário, o déficit primário do país, que era estimado em R$ 124 bilhões, deve saltar para cerca de R$ 300 bilhões com as despesas extras do governo para combater a pandemia do coronavírus. Mansueto disse se chegar a essa cifra, o déficit vai ficar entre 3% e 4% do PIB, a maior alta desde 2015, quando o déficit primário foi equivalente a 2,5% do PIB. O secretário disse que com a retração esperada da economia o país também vai ter perda de receita.
Mansueto afirmou que novas medidas estão sendo estudadas. Uma delas seria a compra de títulos privados pelo Banco Central. Mas o secretário, entretanto, afirmou que não poderia dar detalhes do programa porque se trata de uma estratégia do BC.